Obama considera desafio encerrar Guantánamo nos primeiros cem dias de mandato

Foto
O Presidente assegura que vai cumprir a promessa mas da "forma certa" Mark Wilson/Reuters (arquivo)

O Presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, que assume as rédeas da Casa Branca dia 20 de Janeiro, reconheceu hoje que o mais provável é que não consiga encerrar o campo de prisioneiros de Guantánamo nos primeiros cem dias da sua presidência. Ainda assim, o democrata garante, em entrevista à cadeia de televisão norte-americana ABC, que esta bandeira da sua campanha não está esquecida e que a controversa prisão é mesmo para acabar.

“É mais difícil do que a maioria das pessoas possa pensar”, disse Barack Obama. E acrescentou: “Creio que vai demorar um certo tempo e as nossas equipas de juristas estão a trabalhar com os responsáveis da segurança nacional, neste preciso momento, para saber exactamente o que temos de fazer”.

Ainda assim o democrata fez questão de dizer que não quer que haja “ambiguidade sobre esta pergunta” pois pretende cumprir o que anunciou, mas “da maneira certa” e mantendo o respeito pela constituição do país. Recorde-se que o ex-senador do Illinois se comprometeu, durante a corrida à presidência dos Estados Unidos, a encerrar Guantánamo.

“Não é apenas a coisa certa a fazer pois, na verdade, deve fazer parte da nossa estratégia nacional de segurança porque estaremos a enviar uma mensagem ao mundo de que somos sérios nos nossos valores”, afirmou na entrevista. Obama colocou ainda a hipótese de criar uma comissão que investigue de forma independente os abusos de poder e as actividades ilegais que decorreram nos últimos oito anos, em resposta a uma pergunta que lhe foi colocada em nome dos espectadores, por ser a mais frequente.

Ainda assim, o Presidente eleito explicou que as suas atenções estarão voltadas para o futuro, o que não significa que haja alguém acima da lei. No seguimento, Obama criticou o vice-presidente Dick Cheney por ter defendido os “extraordinários” métodos de interrogatório usados em Guantánamo, e que o democrata classifica de tortura. Como exemplo deu o “waterboarding” (sufocamento com água).

Símbolo da Administração Bush

Guantánamo tornou-se num dos principais símbolos da cessante Administração Bush e num controverso ícone da guerra contra o terrorismo, iniciada depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001. Se a promessa eleitoral de Obama for cumprida – e segundo os analistas o democrata terá de o fazer de forma célere – a prisão de alta segurança, que recebeu os primeiros suspeitos de terrorismo há sete anos, não completará o seu oitavo aniversário.

Bastião da luta anti-terrorista do Presidente George W. Bush, Guantánamo sempre levantou acesas discussões sobre os direitos humanos, já que a maioria das confissões presentes nos tribunais especiais criados para o efeito eram obtidas sob tortura.

Agora que pode estar em vias de ser encerrado, coloca-se o problema de o que fazer aos cerca de 250 presos que se mantêm nas instalações. De todas as formas, Sarah Mendelson, especialista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, assegura que Obama dispõe de pouco tempo para “anunciar um plano específico”, ou corre o risco de ser acusado de compactuar com o tratamento de era dado aos presos naquele estabelecimento.

De acordo com a ONU 40 a 50 detidos não poderão voltar aos países de origem, pois correm o risco de ser mortos. Portugal, Alemanha e Irlanda já demonstraram disponibilidade para receber detidos da base naval norte-americana de Guantánamo. O assunto será abordado pelos chefes de diplomacia dos 27 no final do mês, a pedido da delegação portuguesa.

Sugerir correcção
Comentar