Discoteca Luanda: Tudo na mesma dois anos depois

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Sabe-se quem são os autores do crime, suspeita-se acerca do local onde se encontram, mas não ainda não foi possível concretizar qualquer detenção Público

Havia centenas de pessoas no interior da discoteca Luanda, em Lisboa, na noite de 16 de Abril de 2000. Sem que nada o fizesse prever, porque nos momentos anteriores não se verificara qualquer desacato, foram lançadas para a pista de dança duas granadas de gás-pimenta. O caos instalou-se, as luzes apagaram-se e, na corrida desenfreada para a rua, sete pessoas acabaram esmagadas.

Já lá vão dois anos e, apesar de os alegados responsáveis da tragédia estarem identificados, nenhuma detenção foi feita. Refugiados "algures" em África, os autores do crime estarão a ser bafejados pelo facto de as autoridades nacionais não pretenderem abrir um conflito diplomático com o país em causa.

O visionamento dos vídeos gravados no interior da discoteca permitiu, quase de imediato, apurar a identidade dos autores materiais do crime. Mais tarde, na sequência das averiguações, concluiu-se que, por trás de tudo, estaria o dono de um outro estabelecimento nocturno. Parecia, a exemplo do que acontecera anos antes no Meia Culpa, em Amarante (ver texto nas páginas anteriores), que os suspeitos não teriam muito mais tempo de liberdade. Só que, nos momentos que se seguiram à tragédia, algo falhou: primeiro foi o então ministro da Administração Interna, Fernando Gomes, a fazer declarações públicas, afirmando que já eram conhecidos os autores e que, em breve, os mesmos iriam ser presos.

Tiveram duas consequências esses depoimentos. Em primeiro lugar, os suspeitos desapareceram. Em segundo, Fernando Gomes, que nunca tivera boa reputação à frente da Administração Interna, deu mais um tiro nos pés, uma vez que falou extemporaneamente acerca de um caso cuja jurisdição nem sequer lhe pertencia. A investigação de homicídios, como é natural, pertence à Polícia Judiciária (Ministério da Justiça) e não à PSP.

Suspeitos supostamente na África do Sul

Cerca de um ano mais tarde, foi o próprio primeiro-ministro, António Guterres, quem, na Assembleia da República, voltou a abordar o caso. Desta feita para confirmar que os suspeitos (cinco cabo-verdianos, sendo um deles empresário de uma casa da noite) se encontravam fora do país. Guterres disse ainda que o facto de os suspeitos se encontrarem no estrangeiro (supostamente na África do Sul) dificultava a tarefa policial, sendo intenção dos governantes portugueses não provocar qualquer incidente diplomático.

Depois destes comentários, que geraram celeuma entre a oposição ao Governo, não houve quaisquer outros desenvolvimentos relevantes e, apesar de a Judiciária conhecer a identidade dos suspeitos, estes continuam em liberdade. Naquela madrugada, na discoteca Luanda, perderam a vida cinco jovens angolanos, um português e uma espanhola.

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