Situação no Leste da Ucrânia mantém-se "altamente inflamável"

Guerra entre governo e separatistas pró-russos fez mais de nove mil mortos. ONU dá conta de uma acalmia desde o Verão, mas diz que armas continuam a chegar à região vindas da Rússia

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Rebeldes e forças de Kiev retiram a etiraram a artilharia pesada da frente mas a tensão continua ALEKSEY FILIPPOV/AFP

São já mais de nove mil os mortos - soldados ucranianos, separatistas pró-russos e civis - contabilizados desde o início da guerra no Leste da Ucrânia, em Abril do ano passado, revela o mais recente relatório das Nações Unidas, que dá conta que o conflito “baixou fortemente de intensidade” desde a nova trégua negociada em finais de Agosto, mas sublinha que a situação permanece instável e que à região continuam a chegar armas e combatentes vindos da Rússia.

Gianni Magazzeni, responsável para a Europa do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, explicou que a grande subida no número de vítimas (9115 mortos e mais de 20 mil feridos) em relação ao relatório apresentado em Setembro (quando tinham sido contabilizados 7883 mortos) se deve a uma actualização dos dados fornecidos pelo Governo ucraniano e à inclusão na lista de pessoas que até então tinha sido dadas como desaparecidas. A estatística é, ainda assim, conservadora e Magazzeni revelou que há ainda muitos corpos por identificar nas morgues, sobretudo nas zonas sob controlo dos rebeldes, nas regiões de Donetsk e Lugansk.

Depois de três meses em que os combates voltaram a ganhar intensidade, Kiev e os rebeldes acordaram um “cessar-fogo dentro do cessar-fogo” que já deveria estar em vigor, e retiraram a artilharia pesada da proximidade das frentes de combate. Apesar da acalmia, a ONU contabilizou, entre 16 de Agosto e 15 de Novembro, 47 civis mortos e 131 feridos, a maioria em resultado de munições por explodir deixadas pelos beligerantes. Mas desde o início de Novembro que se assiste a violações diárias da trégua, sobretudo nos arredores de Donetsk, a grande cidade do Leste da Ucrânia, e na vizinha localidade de Horlivka, numa região onde residem cerca de 800 mil pessoas. Já depois da conclusão do relatório, mais seis pessoas morreram e 21 ficaram feridas.

No relatório, a ONU volta a apontar o dedo a Moscovo, afirmando que “continua a assistir-se à entrada de munições, armamento e combatentes vindos da Federação russa nos territórios controlados pelos grupos armados”, o que contribui para tornar a situação “altamente inflamável”. O documento não especifica quem ordenou estas movimentações, revelando apenas que entre os recém-chegados às regiões separatistas “há em alguns casos de antigos soldados russos”.

O texto denuncia ainda a “impunidade persistente” com que continuam a actuar grande parte dos envolvidos no conflito e se, em anteriores relatórios a ONU denunciava os atropelos cometidos pelos separatistas, neste repudia a actuação de elementos das forças de segurança, a quem implica em “desaparecimentos forçados, detenções arbitrárias, torturas e maus tratos” a pessoas suspeitas de apoiarem as forças separatistas.

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