Separatistas expulsam ONU e organizações humanitárias do Leste da Ucrânia

Há dois meses que as Nações Unidas e outras organizações humanitárias estão impedidas de trabalhar em Lugansk e Donetsk. Há 16 mil toneladas de assistência por entregar.

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Rebeldes em Donetsk ainda não autorizaram as actividades da ONU e outras organizações não-governamentais Marko Djurica/Reuters

Os rebeldes que governam a província separatista de Lugansk, no Leste da Ucrânia, ordenaram que as agências das Nações Unidas que lá operam abandonem a região até ao final desta sexta-feira. A maior parte das organizações humanitárias não-governamentais na província tem até sábado para o fazer.

Stephen O’Brien, subsecretário-geral para os assuntos humanitários da ONU, diz-se “alarmado” pela decisão. Já quase nenhuma organização humanitária operava em Lugansk e Donetsk desde meados de Julho, altura em que os seus programas foram interrompidos por decisão das autoridades pró-Rússia. Em Donetsk, estes programas esperam ainda aprovação dos governantes da província. 

“Está a pôr vidas em risco e a impedir que os mais vulneráveis, incluindo crianças, mulheres e idosos, tenham acesso a serviços essenciais. Está a ter um impacto significativo em quase três milhões de pessoas à medida que se aproxima o Inverno”, lê-se num comunicado assinado por O’Brien.

O’Brien afirma que há cerca de “16 mil toneladas de assistência humanitária, incluindo comida, abrigos e apoios não alimentares, que não é possível entregar”. Numa mensagem velada a Moscovo, o responsável pede a “toda a gente que tenha influência sobre as autoridades de facto que a utilize para assegurar que a assistência humanitária das agências das Nações Unidas e organizações não-governamentais internacionais continuem o seu serviço humanitário”.

Segundo contas da ONU, há 150 mil pessoas que não estão a receber assistência alimentar em Lugansk e Donetsk, 1,3 milhões de pessoas que arriscam perder o acesso a água potável nas duas províncias e mais de 30 mil a quem não é possível entregar os “materiais de abrigo e de lar de que urgentemente precisam”.

“Os hospitais não podem realizar cirurgias porque não têm anestesia. As vidas dos doentes estão em risco sem medicamentos essenciais como insulina ou vacinas da tuberculose”, acrescenta O'Brien.

Na quinta-feira, as autoridades de Lugansk recusaram-se a dar autorização de permanência a dez de 11 organizações não-governamentais. Acusaram os Médicos Sem Fronteiras de armazenarem medicamentos psicotrópicos não autorizados na Rússia ou Ucrânia. Algo que a organização desmente.

No dia 2 de Outubro, o Presidente russo, Vladimir Putin, e o Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, encontram-se em Paris para avançar com as negociações de paz para as regiões separatistas no Leste. A Ucrânia e membros da NATO acusam o Kremlin de enviar armamento e militares russos para o conflito ucraniano, o que é negado por Putin, que diz que todos os cidadãos russos na região são voluntários.

As Nações Unidas anunciaram no início deste mês que morreram já quase 8000 pessoas no conflito no Leste da Ucrânia desde que este começou, em 2014, e que outras 18 mil ficaram feridas. A maioria são civis. No passado, a ONU acusou rebeldes separatistas e exército ucraniano de várias violações dos direitos humanos no Leste do país, entre execuções sumárias, detenções arbitrárias, tortura e tráfico de pessoas. 

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