"Renovem a confiança no MPLA", pede Eduardo dos Santos aos angolanos

No encerramento do VII Congresso do partido no poder, o Presidente de Angola diz ter um partido "sério, de trabalho e que não foge às suas responsabilidades".

O VII Congresso do MPLA abriu na quarta-feira
Fotogaleria
O VII Congresso do MPLA abriu na quarta-feira, os partidipantes vestiram vermelho Herculano Coroado/Reuters
Fotogaleria
Na quinta-feira, dia 18, os participantes vestiram de branco Herculano Coroado/Reuters

O Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, encerrou na manhã deste sábado o VII Congresso do MPLA defendendo que o partido está preparado para "enfrentar os desafios do futuro" e, por isso, é nele que os angolanos devem votar nas eleições de 2017.

Dos Santos disse aos 2500 delegados que o MPLA tem que continuar a ser "um partido sério, um partido de trabalho, que não foge às suas responsabilidades" e que age "sempre na certeza de que tem sabedoria, quadros capazes e força para realizar aquilo que recebe como orientação, como desejos expressos pela vontade de todos os cidadãos de Angola".

Na sexta-feira, José Eduardo dos Santos tinha sido reeleito líder do Movimento Popular de Libertação de Angola, com 99,6% dos votos - 2543 a favor, cinco contra e cinco abstenções. A nova composição do Comité Central do partido, alargado de 331 para 363, foi também aprovada, com 2511 votos a favor, 37 contra e sete abstenções.

O Comité Central passa a integrar dois filhos do Presidente, José Filomeno dos Santos (conhecido por "Zénu" e presidente do Fundo Soberano de Angola, que gere cinco mil milhões de dólares), e Welwistchea "Tchizé" dos Santos. Outra filha, Isabel dos Santos, é a presidente da empresa estatal de petróleo, Sonangol. Mas só na terça-feira, durante a primeira reunião deste órgão, serão conhecidos o vice-presidente (dos Santos é o presidente) e a composição do bureau político.

Esta votação revela que foi da nova composição do Comité Central que saiu o sinal maior de desacordo em relação às decisões de José Eduardo dos Santos para o partido. Na véspera do arranque do Congresso, Ambrósio Lukoki, que pertencia há mais de 40 anos a este órgão, deu uma conferência de imprensa a explicar porque saiu do Comité: considerou que deixou de cumprir as suas funções, segundo o site Maka Angola, do jornalista e activista político Rafael Marques.

O antigo embaixador angolano insurgiu-se contra a falta de democracia no seu partido, que diz ser uma “prática errada, nociva e contínua, que caracteriza a actual direcção do MPLA”, que definiu como um "partido-Estado". Disse que há um "espírito de revolta ou de insurreição silenciosa” que se espalha pelo país.

Todo o congresso - em que se assistiu a uma coreografia de cores, com os delegados a vestirem todos de vermelho no primeiro dia, para no segundo irem todos de branco -  foi dedicado à preparação das eleições de 2017. O Presidente angolano não desfez ainda o tabu sobre se é candidato ou não. Porém, disse que deixará a política activa em 2018, o que fez levantar a hipótese de se voltar a apresentar às presidenciais do ano que vem, passando depois o poder. Neste momento, Zénu dos Santos é apontado como o mais bem colocado no processo de sucessão.

Outra pista sobre a possível recandidatura: o chefe de Estado mencionou o caso de países africanos em que os Presidentes estão a mudar constituições (ou a ir contra elas) para se perpetuarem no cargo, enquanto ele (que está no poder há quase 37 anos) tem direito por lei a cumprir mais um mandato.

Eduardo dos Santos insistiu, ao longo dos vários dias de congresso, que o MPLA é o partido preparado para governar, tendo alertado contra "os falsos empresários" e pedido apoio para os que têm "provas dadas". Pediu aos angolanos que "renovem a confiança no MPLA, com vista a governar para todos e alcançar a prosperidade e o bem-estar para todos". E, voltando a mencionar um tema que abordou pela primeira vez neste congresso, a corrupção, disse:  "Viemos para servir a nação e não para nos aproveitarmos dos nossos cargos para nos servirmos".

O programa estratégico do partido, que foi aprovado para ser a base da campanha eleitoral, reflecte essa aposta de continuidade governativa: propõe a consolidação da democracia, a edificação de um Estado de direito, a promoção do desenvolvimento sustentável, o estimulo da economia e da criação de empregos e a promoção do papel de Angola nas relações internacionais.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários