As ligações de Isabel dos Santos com a Sonangol

Com a nomeação para presidente da petrolífera estatal angolana, a empresária reforça a sua influência.

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Um grupo de jusristas angolanos já moveu uma providência cautelar para travar a nomeação Fernando Veludo/NFactos

Isabel dos Santos, enquanto presidente do conselho de administração da Sonangol, a maior empresa de Angola e controlada a 100% pelo Estado, aumenta de forma exponencial a sua influência nos negócios no país e, também, em Portugal. Os casos mais evidentes, no que toca às ligações em Portugal, são o da Galp Energia e do BCP, o maior banco privado português. No primeiro caso, Isabel dos Santos e a Sonangol detêm em conjunto 45% da Amorim Energia, a holding de Américo Amorim que, por sua vez, é o maior accionista da petrolífera portuguesa (com vários negócios em Angola, seja na exploração ou na distribuição).

Depois, há a Unitel, principal operadora de telecomunicações em Angola e que é dona de 49% do capital do banco que o BPI controla nesse país, o BFA. Este está no centro da disputa que envolve Isabel dos Santos, a gestão do BPI e até o Governo português, além do principal accionista do banco português, o Caixabank, que tem em curso uma OPA sobre o capital que não controla na instituição financeira liderada por Fernando Ulrich.

O que une Isabel dos Santos à Sonangol (infografia)

Isabel dos Santos é dona de 25% da Unitel e outros 25% são da Sonangol, através das suas empresas MS Telecom e Mercury. O cruzamento de participações demonstrado nesta infografia é um esquema simplificado que evidencia as principais relações cruzadas de capital.

Um retrato mais vasto teria de incluir, por exemplo, as participações das empresas ligadas a Carlos Silva, banqueiro angolano com negócios em Portugal e que liderou a fusão do seu banco, o Atlântico (onde conta com o apoio da Sonangol) com a instituição financeira que o BCP controlava no país africano.

Ao nível de Angola, a Sonangol, para além do seu enorme poder no petróleo, é omnipresente: vai da aviação até à construção e imobiliário (onde assegurou 20% da Mota-Engil Angola), passando por diversos outros sectores, como a banca. Neste último caso, a Sonangol foi chamada a intervir no antigo BES Angola, agora Banco Económico, do qual é o maior accionista. A seu lado, tem o Novo Banco, intervencionado pelas autoridades portuguesas no âmbito do colapso do BES, e que detém ainda 9,9% do Económico (cujas contas não são públicas), bem como diversos créditos.

Olhando ainda para o caso da banca, a Sonangol está em instituições financeiras como o BAI, presente em Portugal, e que é concorrente de bancos como o BFA e o BIC Angola (do qual Isabel dos Santos é o maior accionista, tal como no BIC Portugal).

Enquanto a reestruturação dos negócios da Sonangol não avançar (e vai demorar algum tempo para dividir o que é hoje o grupo em várias entidades), Isabel dos Santos terá sempre uma palavra a dizer sobre as empresas onde a petrolífera angolana está presente. Funcionando como instrumento financeiro da política do Estado angolano, a Sonangol chegou até a estar ligada à entrada de capital angolano na Coba, empresa de engenharia portuguesa, e na Tobis.

Na sequência da sua entrada na Sonangol, Isabel dos Santos anunciou a retirada do cargo que ocupa na administração de diversas empresas em Portugal (Nos, BIC Portugal e Efacec), mas a sua influência mantém-se. Aliás, no BPI quem está na administração não é Isabel dos Santos, mas sim o seu braço-direito para os negócios em Portugal, Mário Leite da Silva.

O semanário angolano Expansão questionou fonte oficial de Isabel dos Santos para saber se a empresária iria também renunciar aos cargos de administração que detém em empresas angolanas, mas não obteve respostas.

A nomeação para a Sonangol tem provocado polémica em Angola e um grupo de juristas já moveu uma providência cautelar para a impugnar, mas a sua escolha por parte de José Eduardo dos Santos dificilmente será reversível. Isabel dos Santos já afirmou que o seu grande objectivo “é aumentar a rentabilidade, a eficácia e a transparência” da petrolífera e assegurou que foi escolhida para o cargo pela sua experiência no sector privado. “Por muito que a filha do Presidente seja competente, isso não é suficiente para esta nomeação”, afirmou ao Expansão José Patrocínio, activista cívico. “Não porque é a Isabel dos Santos, mas porque é a filha do Presidente da República”, sintetizou.

Já o economista angolano Alves da Rocha afirmou ao mesmo jornal que, com esta nomeação, “parece não haver entraves à estratégia de reforço do poder económico da família presidencial”, nem “outras competências gestionárias no país, pois tudo tem girado à sua volta”. “Conclui-se que o país, afinal, não tem capital humano, apesar das muitas universidades, pós-graduações, mestres e doutores” e que, aparentemente, “não havia mais ninguém no país” para o cargo. 

Até aqui, quem fazia negócios com Isabel dos Santos sabia que, de alguma forma, estava também a negociar com o regime angolano. Há uns anos, um gestor com profundas ligações a Angola afirmava ao PÚBLICO: “Quem não se dá com a Sonangol dá-se mal em Angola”. Agora, há uma nova fase nas ligações entre Isabel dos Santos e esta empresa estatal.

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