Pela primeira vez o juiz mais importante do Reino Unido deverá ser uma mulher

Primeiro Buckingham, depois Downing Street e agora o Supremo – as mulheres ganham terreno no Reino Unido. Brenda Hale deverá ser nomeada para ocupar o mais alto cargo da magistratura britânica.

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Brenda Hale tem 72 anos e um percurso invulgar Dan Kitwood/Getty Images
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Brenda Hale tem 72 anos e um percurso invulgar Dan Kitwood/Getty Images

Uma com a coroa, outra com a chefia do governo e agora outra ainda com o martelo mais importante do país na mão. O Reino Unido prepara-se para ter, pela primeira vez, uma mulher a presidir ao Supremo Tribunal de Justiça.

Brenda Hale, uma advogada e professora universitária de carreira que se especializou em Direito da Família, volta a fazer história ao ocupar o cargo mais importante da magistratura britânica. A notícia foi avançada pelo jornal The Times e está a ser citada por toda a imprensa do Reino Unido. A qualquer momento deverá ser confirmada por Downing Street.

Como presidente do Supremo, lady Hale vai ganhar 225 mil libras por ano (250 mil euros por ano).

A baronesa Hale de Richmond, título nobiliárquico que aparece sempre associado ao seu nome, está habituada a ser pioneira. Em 2004, esta advogada que agora tem 72 anos entrou para o clube restrito dos juízes do Supremo (na altura o órgão tinha outro nome mas as mesmas funções), sendo a primeira mulher e o primeiro especialista em Direito da Família a fazê-lo. O seu percurso profissional, mais ligado à Academia do que aos tribunais, era também uma singularidade a acrescentar ao facto de ser a mais nova dos seus colegas (59 anos) e de ser a única, entre os 12 juízes, a ter dado à luz, lembrava o diário The Guardian no perfil que então publicou. Presentemente, e desde 2013, Hale ocupa o cargo de presidente-delegada.

Nascida no Yorkshire no final da Segunda Guerra Mundial – os pais eram ambos directores de escola e tinham mais duas filhas –, Brenda Hale estudou Direito em Cambridge e, sem surpresa, formou-se com as melhores notas da turma, em 1966.

Professora de Direito na Universidade de Manchester praticamente desde que se formou e durante quase 20 anos, período em que trabalhou ainda como advogada de barra, Breda Hale foi também a primeira mulher e a pessoa mais nova de sempre a ser chamada a integrar a comissão encarregada das reformas legislativas no Reino Unido.

Munida das armas que o seu percurso lhe concede, lady Hale tem vindo a lutar por uma maior diversidade nos círculos legais. Descrevendo-se como uma “feminista soft”, segundo o Times, já acusou inúmeras vezes o sistema judicial britânico de permanecer refém de uma cultura de “sexismo inconsciente”.

Numa entrevista ao jornal The Telegraph, em 2013, garantiu que, quando é preciso nomear alguém para um cargo, as escolhas são quase sempre feitas a partir de um grupo restrito que é predominantemente composto por homens brancos, saídos da mesma classe social e com o mesmo background académico. “A excelência é importante, assim como a diversidade de experiências”, disse ao Guardian.

De vez em quando seria bom, confessou ao diário The Independent, ter uma mulher com quem conversar. Este seu desejo pode ser satisfeito já esta sexta-feira. Com a nomeação de Brenda Hale estão previstas outras três, também para o Supremo. Um dos postos deverá ser ocupado por Justice Black, outra magistrada especializada em Família. Se a notícia do Times se confirmar, passará a haver duas mulheres entre os 12 juízes da mais alta instância da Justiça britânica.

“Aquilo que mais me perturba é que, na maneira como vejo as coisas, as mulheres têm vindo a ser perseguidas e oprimidas por homens controladores e vingativos que têm o total apoio do sistema”, chegou a dizer a respeito da falta de oportunidades das mulheres nos círculos legais.

Brenda Hale tem uma filha e é casada em segundas núpcias com Julian Ferran, que conheceu na qualidade de director da Faculdade de Direito da Universidade de Manchester e com quem trabalhou durante anos. É ele que gosta de dizer, admite a juíza, que levou 20 anos a apaixonar-se por ela à primeira-vista.

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