Novo livro de Garry Kasparov compara Governo russo à série Guerra dos Tronos

O livro O inimigo que vem do frio é mais uma crítica de Kasparov à "máfia" do governo russo.

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O campeão de xadrez adopta uma visão estratégica em relação ao regime russo. NFACTOS / FERNANDO VELUDO

O jogador de xadrez profissional e activista político Garry Kasparov escreveu um livro que é uma crítica feroz ao Presidente russo, Vladimir Putin, e ao seu Governo. Chama-se O inimigo que vem do frio e chega esta quinta-feira ao mercado português (ed. Clube do Autor).

Kasparov é uma das vozes mais críticas do Governo de Putin. O inimigo que vem do frio – Os riscos da liderança russa e a grande ameaça à paz no mundo ocidental diz que o Presidente russo tem um regime autocrático que compara à narrativa da série Guerra dos Tronos. Fã confesso, Kasparov diz que encontra semelhanças entre Putin e a personagem de Tywin Lannister.

Na obra o autor separa distintamente os bons (o mundo livre) dos maus (Putin e os vários agentes coniventes da cena política internacional). Mas, na verdade, ninguém está a salvo da sua crítica.

"Tanto em 2008 como hoje há capitalistas e nacionalistas a gerir o Kremlin e o Congresso Nacional Chinês, em vez de ideólogos comunistas. Eles não representam as ameaças existenciais enfrentadas pelos presidentes Truman, Kennedy e Reagan. Não obstante, Obama continua relutante em enfrentar os inimigos da democracia para defender os valores que ele apregoa de forma tão convincente nos seus discursos", realça Kasparov (pág. 235), citado pela Lusa. Para ele, o maior problema dos Estados do mundo livre é que, apesar de terem meios para parar Putin, escolhem não o fazer.

Kasparov refere Ronald Reagen como o último Presidente americano que se conseguiu opor ao regime comunista russo, ou ao “império do mal”, como caracterizava. Todos os outros tentaram estabelecer relações de cooperação e normalização com a Rússia, sem exigir que se cumprissem os princípios democráticos e capitalistas.

Ao contrário do seu antecessor, Boris Ieltsin, Putin não quis seguir o caminho da democratização da Rússia. Segundo Kasparov, esforçou-se por implantar na Rússia um sistema que visou desde o primeiro momento, e de forma inexorável, a autocracia russa que existe hoje. Kasparov entende que tudo o que se relaciona com o Governo russo está nas mãos de Putin.

"Um admirador de Puzo [Mario Puzo, escritor italiano, autor de O Padrinho] vê o Governo de Putin com mais precisão: a hierarquia rígida, a extorsão, a intimidação, uma imagem de duro, uma longa sequência de mortes convenientes entre os principais críticos, eliminação de traidores, o código de sigilo e lealdade, e, acima de tudo, um mandato para manter a entrada de receitas. Por outras palavras, uma máfia", escreve.

Nas suas críticas não abandona o papel de xadrezista. Por isso, afirma que Putin não joga xadrez, joga póquer. “Com Vladimir Putin, não podemos jogar [xadrez] segundo as regras, porque ele não quer saber das regras”, diz, numa entrevista à RTP.

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