Maduro promete resposta "firme" à "ofensiva final" da oposição

A crise escalou esta semana, com a oposição a aumentar a pressão na sequência da consulta popular de domingo e da ameaça de sanções vinda dos EUA. Presidente prometeu "punir exemplarmente" quem conspirar contra o seu regime.

Manifestantes mantém-se na rua em protesto contra o Governo
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Manifestantes mantém-se na rua em protesto contra o Governo Reuters/CARLOS GARCIA RAWLINS
Presidente Nicolás Maduro reuniu o Conselho de Defesa Nacional para responder às ameaças
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Presidente Nicolás Maduro reuniu o Conselho de Defesa Nacional para responder às ameaças LUSA/MIRAFLORES PRESS HANDOUT

Indiferente à pressão da oposição interna, que num novo braço-de-ferro com o Governo convocou todos os trabalhadores venezuelanos para uma greve-geral esta quinta-feira, e ao isolamento da comunidade internacional, que ameaçou instaurar sanções económicas contra o regime em retaliação pela convocatória de uma assembleia constituinte, o Presidente Nicolás Maduro garantiu que não vai abandonar do seu plano para reescrever a Magna Carta herdada de Hugo Chávez.

“Apelamos a que todo o país participe numa nova jornada de protesto pacífica, aderindo a uma greve cívica de 24 horas”, disse o líder da coligação de oposição, Mesa da Unidade Democrática, Freddy Guevara. A paralisação nacional é mais uma iniciativa para desgastar o Governo, explicou. Surge na sequência de quatro meses de protestos de rua e de uma consulta popular sobre a constituinte de Maduro, que foi rejeitada por 98% dos 7,6 milhões de venezuelanos que participaram na votação. E antecede a “escalada definitiva que se está a preparar para a próxima semana” – e cujos detalhes não foram apresentados.

Depois de uma reunião de emergência do Conselho de Defesa Nacional, Nicolás Maduro elevou o tom de desafio e disparou contra tudo e todos, prometendo “punir exemplarmente” todos aqueles que conspirarem contra o seu regime. O país ficou a saber que o Governo já preparou um “plano especial de justiça de emergência”, que ninguém sabe exactamente o que é. Para os analistas é uma espécie de resposta preventiva à “ofensiva final” anunciada pela oposição para forçar a queda de Maduro e a mudança do Governo.

Depois de responder com a promessa de força à oposição, Nicolás Maduro reagiu com idêntica agressividade à perspectiva de sanções internacionais, evocando o passado de intervenção norte-americana na América Latina e prometendo resistir firmemente contra a “ameaça imperial”. “Nem o Donald Trump é o patrão da Venezuela, nem nenhum governo estrangeiro dá ordens à Venezuela”, disse, depois de os EUA terem prometido responder “com força e rapidez” se Caracas avançar com a eleição da constituinte, marcada para 30 de Julho.

Segundo fontes da Casa Branca citadas pela Reuters, os EUA deverão agir contra algumas das principais figuras do regime suspeitas de violação dos direitos humanos, congelando os seus bens e proibindo a sua entrada no país - por exemplo o ministro da Defesa, Vladimir Padriño, ou o número dois do Partido Socialista Unido da Venezuela, Diosdado Cabello.

Mas entre as medidas que podem vir a ser tomadas está também a suspensão da importação de crude venezuelano, que é possivelmente a acção punitiva mais gravosa para a população, tendo em conta que 95% das receitas externas de Caracas assentam na venda de petróleo – para os EUA, o maior comprador internacional, seguem 780 mil barris por dia.

A Venezuela já vive em estado de emergência económica, e segundo os observadores internacionais esta medida drástica seguramente apressaria a bancarrota do país e o fim do regime. No entanto, um efeito colateral inevitável seria uma deterioração das condições de vida da população para além dos limites actuais – a crise humanitária no país manifesta-se na escassez de alimentos ou medicamentos.

Esta quarta-feira, números divulgados pelo Centro de Documentação e Análise Social da Federação Venezuelana de Professores mostraram que o preço do cabaz alimentar básico para uma família de cinco pessoas aumentou 24% no mês de Junho, e custa agora 1,2 milhões de bolívares (cerca de 106 euros). Comparado com Junho de 2016,o aumento foi de 343%. Segundo a mesma organização, são precisos 18,9 salários mínimos (65 mil bolívares) para pagar o cabaz, que consiste em batata, açúcar e sal, café, farinha e grãos, peixe, carne, frutas e hortaliças, azeite, leite, queijo e ovos.

Além dos EUA, também a União Europeia admite a possibilidade de instaurar sanções económicas à Venezuela se a actual crise política se agudizar. Essa é “uma das opções em cima da mesa”, disse a alta representante para a política externa, Federica Mogherini, que ainda espera que Caracas seja capaz de “reduzir as tensões” e criar condições para uma “solução negociada” para a crise constitucional.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros português desmentiu que o Governo seja contrário à aplicação de sanções europeias à Venezuela, como escreveu o jornal espanhol El País. "Portugal não se opôs, no seio da União Europeia, à aplicação de sanções à Venezuela, pela simples razão de que essa questão não foi ainda discutida entre os Estados-membros da UE", diz um comunicado. “Portugal tem participado activamente na formação do consenso necessário à definição da posição da UE sobre a Venezuela”, e revê-se “inteiramente” nas conclusões aprovadas no Conselho de Negócios Estrangeiros de 15 de Maio, onde se lê que o bloco europeu “favorece uma solução política inclusiva na Venezuela, respeitadora do Estado de Direito, do pluralismo político e do princípio de resolução pacífica dos diferendos”.

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