G20 deixa cair crítica ao proteccionismo perante objecção dos EUA

Fórum já está ressentir-se da política "América primeiro" do Presidente Donald Trump. No documento final do encontro em Baden-Baden, não houve referências às barreiras ao comércio livre.

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O secretário do Tesouro dos EUA, Steve Mnuchin, atraiu todas as atenções na reunião dos ministros do G20 em Baden-Baden Reuters/KAI PFAFFENBACH

A nova política “América primeiro” enunciada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já está a produzir resultados nas instâncias internacionais: incapazes de vencer a objecção do secretário do Tesouro norte-americano, Steve Mnuchin, os ministros das Finanças do G-20 acabaram por aprovar um comunicado final onde, pela primeira vez, não se faz referência à promoção do comércio livre pela “resistência a todas as formas de proteccionismo”, na forma de tarifas alfandegárias ou outras restrições às importações.

A frase, decalcada do comunicado final do último G20, faz parte das declarações de princípios desde a constituição deste fórum, mas como reconheceu o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, anfitrião do encontro, “não é possível forçar nenhum parceiro a subscrever parágrafos com os quais não concordam”. Na véspera, os dirigentes das 20 maiores potências económicas do mundo reunidos em Baden-Baden, já tinham acedido a deixar de fora do documento final o compromisso com acções decisivas para combater as alterações climáticas – as duas omissões foram aceites para ultrapassar a resistência dos EUA.

O ministro alemão tentou desvalorizar a questão, sublinhando que todos os membros do G20 concordam que o comércio livre é a receita para o crescimento e fortalecimento da economia global. “Estamos todos unidos e, é indisputável que todos somos contra o proteccionismo. Só não era muito claro o entendimento de cada ministro sobre o significado de proteccionismo”, explicou Schäuble – que mesmo assim não evitou a crítica de vários dos participantes ao que consideraram ser uma cedência que torna o consenso irrelevante.

As dúvidas sobre a posição dos Estados Unidos dominaram o encontro: a Administração Trump começou a rever os tratados comerciais assinados pelos seus antecessores e a discutir a imposição de novas tarifas e penalizações para impedir a entrada de produtos estrangeiros no país (principalmente vindos do México e da China), o que à partida prenunciava a rejeição dos princípios de liberalização

Na sua intervenção no G20, o responsável pelo Tesouro tentou acalmar os nervos dos aliados, com garantias de que os Estados Unidos não defendem o “nacionalismo económico” e não têm nenhuma intenção nem interesse em provocar uma guerra comercial global. O Presidente Donald Trump fez o mesmo no final de um encontro com a chanceler alemã, Angela Merkel, na Casa Branca: “Não defendo nenhuma política isolacionista”, garantiu, “sou um adepto do comércio livre e justo”, completou.

Apesar das palavras, a postura agressiva de Mnuchin na Alemanha (como a de Trump na reunião com Merkel) deixou os aliados convencidos de que Washington não tenciona respeitar os compromissos ou acatar as regras que anteriormente regiam o funcionamento destes fóruns multilaterais. “A minha prioridade é o crescimento económico dos Estados Unidos”, justificou o secretário do Tesouro à saída de um encontro bilateral com Schäuble. “Acreditamos que esse crescimento económico será muito positivo para as outras grandes economias mundiais”, acrescentou.

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