Angela Merkel não irá à Turquia inaugurar campo de refugiados

Porta-voz da chanceler diz que a viagem nunca esteve na agenda, mas a explicação surge num momento em que as relações entre os dois países azedaram por causa de um programa de humor.

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Mais uma dor de cabeça para Angela Merkel Hannibal Hanschke/Reuters

A chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou que não irá à Turquia no sábado para inaugurar um campo de acolhimento de refugiados, anunciou esta quarta-feira o governo alemão.

"Nos últimos dias da semana, perguntaram-me mil vezes sobre a visita de 16 de Abril e eu nunca confirmei essa viagem. Não há viagem de 16 de Abril, não há viagem da chanceler à Turquia", disse o porta-voz de Merkel, Steffen Seibert.

Seibert não deu mais explicação. A notícia de que Merkel iria à Turquia no próximo sábado partiu do primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, que disse que "dirigentes europeus", entre eles Angela Merkel, iriam inaugurar um campo de refugiados em Kilis, que é um local de risco pois tem sido alvo de disparos com origem na Síria.

Inicialmente, as autoridades alemãs não reagiram. Mas a clarificação de Seibert surge num momento delicado para as relações Alemanha-Turquia, que azedaram depois de, num programa do humorista alemão Jan Böhmermann, o Presidente turco, Recep Erdogan, ter sido alvo de uma rábula em que o líder turco é visado devido à repressão para com a liberdade de expressão na Turquia – Erdogan é ridicularizado em termos sexuais (pedofilia e zoofilia). Böhmermann fez mesmo um poema sobre Erdogan e admitiu que era ofensivo.

O governo de Ancara chamou o embaixador alemão na Turquia exigindo que seja aberto um processo contra Böhmermann e a prisão deste. Berlim vai decidir nos próximos dias, explica a AFP, se há matéria para agir judicialmente contra o humorista, por "insultos" a Erdogan – um delito que pode ser punido com três anos de prisão.

O programa do humorista, o Neo Magazin Royale, foi emitido no dia 31 de Março na ZDF e o poema também mencionava a repressão turca em relação aos curdos e aos cristãos.

Merkel disse que a decisão sobre o caso será feita independentemente da relação política entre a Alemanha e a Turquia, ou entre a União Europeia e a Turquia, tendo as duas partes formado um acordo para limitar o fluxo de migrantes e refugiados em direcção à Europa. A chanceler insistiu, na terça-feira, que é necessário respeitar os valores da "liberdade de expressão e a opinião académica", mas alguns órgãos de comunicação social alemães disseram que a pressão turca pode ser entendida como uma "chantagem".

Ainda assim, o Die Welt diz que a emissão de quinta-feira do programa de Böhmermann foi cancelada e que a residência do humorista está sob vigilância policial.

 

 

 

 

 

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