Metade dos sensores do Douro estão inoperacionais

Problema arrastar-se-á há anos, mas não impossibilita a previsão de cheias, embora cause alguns constrangimentos.

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As últimas cheias nas ribeiras do Porto e de Gaia causaram apenas prejuízos materiais Paulo Pimenta

Quando, no domingo e madrugada de segunda-feira, o rio Douro galgou as margens, no Porto, estava tudo pronto para receber a cheia já prevista e anunciada, mas algum do equipamento responsável por auxiliar as autoridades a preverem este fenómeno está inoperacional há vários anos. A Capitania do Porto do Douro, onde funciona o Centro de Previsão e Prevenção de Cheias do Douro, confirma que cerca de metade dos sensores espalhados ao longo do rio e dos seus afluentes não estão a funcionar. A Agência Portuguesa do Ambiente (APA), responsável pelos equipamentos, está informada.

A informação de que o Douro poderia inundar as zonas ribeirinhas de Porto foi divulgada logo na sexta-feira e com tempo suficiente para que os moradores e comerciantes pudessem retirar bens de áreas mais vulneráveis. Na reunião de câmara desta terça-feira, o vereador da Protecção Civil, Sampaio Pimentel, recebeu elogios da oposição (CDU e PSD) pela forma como todo o processo se desenrolou, mas foi o próprio responsável a dar conta da situação de inoperacionalidade de cerca de 50% dos sensores que ajudam a identificar com mais clareza e rigor a evolução do caudal do Douro.

“A maior parte deles são vandalizados e quem recolhe a informação, às vezes, fica às cegas”, disse o vereador ao PÚBLICO, à margem da reunião, garantindo que, terá havido momentos em que não havia informação precisa sobre a situação do Tua e do Tâmega. Dois dos afluentes do Douro que mais contribuíram para aumentar o caudal deste último, fazendo-o deixar as margens e espraiar-se pela Ribeira do Porto e Miragaia.

José Matos, oficial-adjunto da Capitania do Porto do Douro confirmou ao PÚBLICO o volume de sensores inoperacionais, acrescentando que é uma situação que se verifica “já há uns anos” e que a Agência Portuguesa do Ambiente, responsável por aquele equipamento, “tem vindo a ser alertada” para esse facto. Ainda assim, disse, “de um modo geral” a resposta à pequena cheia nas margens do Douro “correu muito bem”.

O responsável da capitania não deixa de confirmar, contudo, que a ausência de sectores “afecta de alguma forma” o acompanhamento a par e passo da evolução dos caudais, ainda que seja possível contornar o problema, solicitando, por exemplo, informações à central de telecomandos da EDP, que faz o controlo das barragens. “Isto permite-nos ir tendo informação, ainda que de modo não directo”, disse. Questionada pelo PÚBLICO sobre estas declarações, a APA não respondeu em tempo útil.

No Porto, Sampaio Pimentel congratulou-se com todas as fases do trabalho – o aviso atempado para a possibilidade de cheia, o trabalho dos operacionais no terreno e a cooperação das populações afectadas, que classificou de “inexcedíveis”. Ao PÚBLICO realçou ainda o apoio e informação prestados por duas figuras “essenciais” nesta matéria:  “O Sr. Gastão Lobo do Mar na Ribeira e o Sr. Carlos Godim em Miragaia estão muito habituados a estas situações e estamos a fazer um levantamento de todas as informações que nos possam dar, para situações futuras. O Sr. Gastão disse-nos, por exemplo, que quando a água chegasse ao 3.º degrau [junto à Ribeira] ia começar a entrar em Miragaia, e assim foi”, disse.

Rali e Metro
Durante a reunião, o presidente da câmara foi questionado sobre as informações de que poderá haver uma nova fase de expansão da rede de metro do Porto, mas Rui Moreira não tinha muitos esclarecimentos a prestar. “Vivemos um tempo novo, em que há dinheiro para tudo. Gostaríamos de saber qual o envolvimento do município neste projecto [de retoma da expansão do metro]”, perguntou Ricardo Almeida, do PSD.

“A câmara não está envolvida”, foi a resposta de Rui Moreira, que garantiu ao vereador da oposição que o assunto nem sequer fora abordado na reunião de segunda-feira de manhã que manteve com o primeiro-ministro, António Costa. “Não houve qualquer contacto com a câmara sobre essa matéria”, garantiu o autarca, um dia depois de o ministro da Infra-estruturas, Pedro Marques, ter dito, numa conferência em Vila Nova de Gaia, que poderá voltar a haver investimento na rede de metro do Porto, numa eventual reprogramação dos fundos comunitários.

Rui Moreira também não soube esclarecer o social-democrata sobre os custos finais e fontes de financiamento para a etapa deste ano do Rali de Portugal que irá passar pelo centro do Porto, garantindo apenas que “não é seguramente superior a 500 mil euros”. Para se saber a factura final, acrescentou, é preciso saber ainda “qual a atitude do novo Governo sobre a promoção turística das cidades” e qual o nível de envolvimento da Entidade de Turismo do Porto e Norte de Portugal.

Bolhão e Movida
Rui Moreira acedeu ainda a um pedido de Amorim Pereira, do PSD, para que realize, em breve, uma reunião com os vereadores para que estes obtenham informação actualizada sobre o processo do Mercado do Bolhão. O autarca disse esperar apenas pela aprovação formal da Direcção Regional de Cultura do Norte ao projecto para que o encontro se realize. Em Novembro, fonte da assessoria de imprensa da autarquia afirmara ao PÚBLICO que a DRCN já se pronunciara favoravelmente, faltando apenas o respectivo despacho governativo para formalizar o processo.

Numa reunião marcada por muitas questões colocadas pela oposição – o vereador da CDU, Pedro Carvalho, pediu à câmara que acelerasse o processo de realojamento dos moradores do Bairro do Aleixo, por as condições nas torres semi-devolutas estarem a tornar-se insustentáveis, disse – o executivo aprovou por unanimidade a abertura do procedimento de revisão do regulamento da movida. O vereador Manuel Aranha, que assumiu o processo, disse que as alterações, ao fim de seis meses, foram motivadas pela vontade de alargar a novas ruas as regras aplicadas a uma zona específica da Baixa. “Vamos aproveitar para ver se há algum contributo para o melhoramento do regulamento”, disse.

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