Casa histórica de sementes no Bolhão fecha? Proprietário diz que não

"É a loja que mais gostaríamos que se mantivesse, é a mais tradicional. Mas os senhores vão-se embora, não têm sucessor”, disse Rui Moreira.

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A histórica casa que vende sementes no exterior do Mercado do Bolhão, aberta desde 1921, vai manter-se de portas abertas ou será um dos espaços que não vai regressar depois da reabilitação do edifício do centro do Porto? O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, disse, na sessão da Assembleia Municipal da passada segunda-feira que os responsáveis da Casa Hortícola “vão-se embora”. Ao PÚBLICO, António Ferreira, de 88 anos, garante que não.

O Bolhão ocupou uma parte considerável da AM, com Rui Moreira a dar uma longa explicação sobre o porquê de os comerciantes lá instalados – no interior e no exterior do mercado – terem mesmo que abandonar o edifício durante o período de obras. O processo, que tem suscitado dúvidas e gerado várias preocupações nos comerciantes, foi lembrado pelos deputados da CDU, que incentivaram o presidente da Câmara do Porto a fazer uma reunião geral com todos os vendedores. “Explique-lhes a eles o que nos está aqui a dizer a nós e se calhar até os convence”, defendeu Artur Ribeiro.

Rui Moreira disse que não o faria, por estarem em causa problemas diferentes, que tinham que ser tratados caso a caso e não de forma generalizada – o que, insistiu, está a ser feito, através do Gabinete do Mercado do Bolhão. E foi neste contexto que o autarca se referiu à Casa Hortícola. "É a loja que mais gostaríamos que se mantivesse, é a mais tradicional. Mas os senhores vão-se embora, não têm sucessor”, disse.

Ao PÚBLICO, o responsável pela casa tradicional, que ali trabalha desde 1949, garante que isso não vai acontecer. “Não vamos fechar. Ainda há dias cá veio uma casa de produtos alimentares falar comigo, mas nem perguntei valores. A casa vai continuar e, se eu morrer, no dia seguinte está na mesma de portas abertas e vai continuar”, afirma. Contactada pelo PÚBLICO, fonte da assessoria de imprensa da autarquia realçou que Rui Moreira disse que a casa iria fechar "lamentando" tal facto, por parecer o mais provável, já que os comerciantes terão que abandonar o local pelo prazo estimado de dois anos. "Mas a vontade é que continue", disse.

António Ferreira não está, contudo, convencido do encerramento durante cerca de dois anos. Disse-se confiante na possibilidade de fechar “apenas durante alguns meses”, acreditando que a saída dos comerciantes do exterior será feita “de forma faseada”. Algo que a câmara tem recusado.

Na sessão da AM, Rui Moreira insistiu que a obra projectada pela câmara obriga à saída de todos. Qualquer outra opção, disse, seria “uma recauchutagem do Bolhão” e não uma reabilitação. Numa alusão à insistência de alguns comerciantes em que se recupere o projecto de Joaquim Massena, de 1998, que permitia obras sem a saída dos comerciantes, o autarca disse que não iria discutir “antigos projectos” e apelou às forças políticas para que ajudassem a serenar os ânimos, para que o projecto avance.

O autarca explicou ainda que a instalação do mercado temporário no antigo quarteirão da Casa Forte, que chegou a ser apresentada como a hipótese mais viável, não se concretizou porque não foi possível chegar a acordo com os privados que aí estão a investir.

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