Investimento de 20 milhões dá vida nova à fábrica de papel do Tojal

A Fapajal, fábrica de papel de São Julião do Tojal, tem novos accionistas e nova gestão. Desde Julho, a empresa triplicou a quota de exportação para 60%.

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As origens da Fapajal, presidida por Xavier Rodriguez-Martín, remontam a 1755 Daniel Rocha

Foram precisos dois anos para que vendedores e compradores se entendessem quanto ao preço da Fapajal, mas bastaram seis meses para que a estratégia de internacionalização dos novos donos da fábrica de papel do Tojal começasse a dar frutos. Sob a nova gestão, a produtora conseguiu triplicar a quota de exportação para 60% e ambiciona chegar a 70% até ao final do ano, revelaram os novos accionistas, Xavier Rodriguez-Martín e Rui Sequeira Martins, esta terça-feira.

Aliados a outros dois sócios minoritários, os dois gestores – cujos caminhos se cruzaram em tempos na operadora de telecomunicações empresariais Oni – compraram em Julho 100% da Fapajal, realizando um “investimento inicial próximo dos 20 milhões de euros” com o objectivo de transformar “uma boa fábrica numa boa empresa industrial”.

A receita para a transformação da Fapajal passa por aplicar a um negócio tradicional e com um perfil mais conservador conceitos que vêm do sector dos serviços, como o foco no cliente, a segmentação de negócios e o estabelecimento de parcerias, explicou Xavier Rodriguez-Martín, que lidera a administração da empresa e detém, em conjunto com Rui Sequeira Martins (o presidente executivo), 70% do capital. Isto, sem esquecer a modernização tecnológica, ou não viessem os dois accionistas das telecomunicações (Xavier Rodriguez-Martín continua ligado à gestão da DST Telecom, do grupo minhoto DST).

Com origens que remontam ao século XVIII, a Fapajal (antiga Fábrica de Papel da Abelheira) é uma das maiores empregadoras do concelho de Loures (tem 200 trabalhadores) e produz papel tissue, o papel de baixa gramagem que é usado, por exemplo, em rolos higiénicos, toalhas e guardanapos. Com a nova estratégia, os dois gestores esperam que a Fapajal, que já era uma empresa com “boa saúde financeira” e “produto de qualidade”, se transforme naquilo que baptizaram como uma “micro-multinacional”. Micro pelo tamanho num negócio de gigantes, multinacional pela introdução de novos processos de gestão e pela ambição de crescer lá fora (numa primeira fase pelas exportações e no futuro com presença local), sem receio de estabelecer acordos com concorrentes, que podem transformar-se em parceiros, para criar uma “escala virtual”, que garanta os benefícios do tamanho “sem ter os custos”.

Exemplo disso é o acordo que a Fapajal firmou para comprar pasta de papel em conjunto com duas empresas espanholas e conseguir preços mais baixos. “Tentamos comprar português”, disse Xavier Rodriguez-Martín, referindo-se a produtoras como a Altri e a Navigator. Em estudo há ainda outras parcerias para comprar energia com tarifas mais baixas, adiantaram os gestores. “Tudo o que permita aumentar receita e reduzir custo ou risco, nós vamos fazer”, sintetizou Rui Sequeira Martins.

Para 2017, as metas estão já definidas: aos mercados espanhol, africano e do norte da Europa (onde se inclui também a Inglaterra), a empresa tenciona acrescentar em breve o continente americano (mercados maduros como o Canadá ou os Estados Unidos “são interessantes” e valorizam “a qualidade do produto”) e subir as receitas em 10% para 29 milhões de euros. Quanto ao lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA), o objectivo é que cresça perto de 20%, para 3,6 milhões.

Neste momento, a Fapajal apenas exporta as bobinas de três toneladas que são usadas por empresas de transformação de papel para os mais diversos fins, mas outra das apostas passa por começar a exportar (para Espanha, por causa dos custos logísticos) também os produtos transformados, que hoje são usados por grandes retalhistas para fornecer os seus clientes empresariais ou distribuidores (como a Makro, a Recheio ou a Progelcone).

Lembrando que muitas empresas de papel investiram no reforço da capacidade de produção no âmbito do Portugal 2020 e que isso irá obrigar uma “dinâmica de reestruturação no sector”, porque o mercado poderá não ter capacidade para absorver tudo, o presidente da Fapajal sublinhou que a empresa preferiu “apostar no cliente” e “adiantar-se e criar redes e parcerias” com vista à internacionalização. A proximidade de ferrovias e portos que abrem o caminho às rotas de exportação do norte da Europa e às rotas marinhas para os mercados americanos é uma oportunidade que a empresa não descura.

Tudo temperado com alguma dose de “ambição e irreverência” que por vezes faz falta às empresas em Portugal, diz Xavier Rodriguez-Martín. Afinal de contas, é nas “PME anónimas” que pode estar “o ponto de viragem” da economia portuguesa, defende o gestor. Se antes “os protagonistas da economia eram as grandes empresas”,  hoje “parece que são as start-up que vão resolver os problemas do mundo”, mas “a virtude está no meio”, assegura o presidente da Fapajal.

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