Estudo patrocinado por Marcelo critica banca: empresas que mais crescem têm dificuldade em obter crédito

Fundação Gulbenkian encomendou a análise às políticas de crédito na banca. Primeiras conclusões apontam falhas na alocação deste serviço.

Foto
O estudo foi pago pelo gabinete de Belém LUSA/ANDRE KOSTERS

Está o crédito a fluir para as empresas certas? É essa a pergunta que um estudo encomendado (e pago) pela Fundação Calouste Gulbenkian e patrocinado pela Presidência da República procura responder. As conclusões preliminares, apresentadas na passada semana numa conferência, são citadas esta terça-feira no Jornal de Negócios.

“As empresas que estão a crescer mais, de acordo com a nossa análise, parecem ser aquelas que têm mais dificuldade em financiar o investimento. Garantir condições de financiamento a essas empresas é essencial para termos um crescimento mais forte”, sublinha Fernando Alexandre, pró-reitor da Universidade do Minho, instituição que coordenada o estudo, em colaboração com a Universidade de Coimbra, em declarações àquele jornal de economia.

Isto é, são as empresas que mais dependem dos seus próprios recursos para financiar investimentos que mais crescem (tendo em conta a mediana entre 2010 e 2014). Daí se podem tirar duas interpretações: ou estas empresas procuram menos crédito ou existem oportunidades desaproveitadas pela banca e investimentos que não devidamente alavancados.

A tendência pode ser encontrada no historial dos bancos. Durante o período pré-crise, por exemplo, a banca continuou a emprestar dinheiro a empresas de construção, apesar de o sector estar a contrair, o que foi uma falha, avalia Fernando Alexandre.

No entanto, a opinião não é unânime. Paula Carvalho, economista-chefe do BPI, e Filipe Garcia do IMF (Informação de Mercados Financeiros) defendem as decisões dos bancos. Filipe Garcia acrescenta que o problema são operações “que ultrapassam o racional económico-financeiro”, cita o Jornal de Negócios.

O estudo identifica ainda quais os sectores que têm maior peso no total do crédito a sociedades não financeiras e mostra que a construção e o imobiliário cresceram entre a década de 1990 e meados dos anos 2000.

Em 2014, as empresas que mais cresceram eram do sector do comércio e da indústria transformadora. Destas, 57% estão localizadas na região Norte do país (quase seis em cada dez). E são justamente algumas dessas que não têm crédito.

Um número que Paula Carvalho nota que aumentou em 2016 face a 2010, com o crédito para as exportadoras a subir de 15% para 23%. Filipe Garcia acrescenta que o problema reside na fraca procura, não afastando a possibilidade de as empresas que têm acesso não quererem mais crédito e as que não têm acesso querem mais acesso.

Para Fernando Alexandre há um facto incontornável: os níveis de malparado são um travão ao crescimento e deve por isso existir uma reforma da banca, ou “o sistema financeiro não poderá cumprir o papel essencial que lhe cabe no desenvolvimento da economia portuguesa”.

Notícia corrigida às 20h45, após informação da Fundação Calouste Gulbenkian de que o estudo foi encomendado e pago pela fundação. A Presidência da República deu o seu patrocínio, sem qualquer pagamento.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários