Acções do BCP interrompem quedas com possibilidade de dividendos em 2018

Pequenos accionistas devem avaliar o que perdem ou ganham com o aumento de capital.

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Miguel Manso

Depois de três sessões de forte queda, que atiraram o valor do BCP para valores mais baixo de sempre, as acções registaram esta sexta-feira uma ligeira correcção técnica, ao valorizar 5,7%, para 0,87 euros. A valorização aconteceu depois da administração do banco ter acenado com a possibilidade de distribuição de dividendos em 2018.

A subida, que também poderá ter sido gerada pela necessidade de fechar posições curtas (especuladores que venderam acções com recurso a empréstimo) está, no entanto, longe de anular as perdas acumuladas ao longo da semana, que ascendem a17%.

Numa apresentação aos investidores, a administração refere que o aumento de capital (em 1,33 mil milhões de euros) vai permitir pagar integralmente a ajuda estatal, no montante de 700 milhões de euros, que se não fosse paga até ao Verão seria transformada em capital. Com este pagamento, o banco liderado por Nuno Amado destaca o "cancelamento de restrições chave relacionadas com suporte do Estado, incluindo proibição de distribuição de dividendos” e ainda “o risco de venda potencial de negócios core”.

O banco destaca ainda que o aumento de capital “pretende acelerar o regresso à normalização da actividade do banco, incluindo o potencial regresso ao pagamento de dividendos, em vez da abordagem faseada seguida até à data". E vai mais longe, ao apontar como "objectivo” a distribuição de pelo menos 40% dos resultados no ano que vem.

Em relação a riscos futuros, é referido que “a eventual criação de um bad bank em Portugal poderá traduzir-se em necessidades adicionais de capital para o banco”, porque “poderia implicar a transmissão de créditos a um preço abaixo do seu valor contabilístico, o que resultaria em menos-valias para o banco e, consequentemente, numa deterioração dos seus rácios de capital”. É ainda destacado algum risco na área seguradora, onde o BCP está presente, na medida em que “são expectáveis” novas exigências regulatórias.

Actuais accionistas esmagados

O aumento de capital do BCP, realizado através da emissão de 14,1 mil milhões de novas acções, dilui de forma muitíssimo acentuada a participação dos accionistas que não acompanhem a operação. As novas acções, juntamente com as 157,4 milhões vendidas aos chineses da Fosun, em Novembro do ano passado, corresponderão a 94,79% das acções representativas do capital social do BCP.

Como se trata de uma operação sindicada, ou seja, com as acções não subscritas pelos accionistas a ficarem na posse de um conjunto de bancos, o peso das novas acções vai acabar por se verificar, reduzindo imenso a participação dos accionistas e alargando a base sobre a qual serão distribuídos eventuais resultados a gerar no futuro.

Cada acção actual garante o direito de comprar mais 15, a 9,4 cêntimos cada. Os pequenos accionistas terão agora de avaliar se querem ir ao aumento de capital, comprando parte ou a totalidade das acções a que têm direito, ou se é melhor vendê-las. Ou ainda, se querem ficar com as acções e vender os respectivos direitos de subscrição, o que lhes permitirá reduzir a perda que sofrerão com a diluição do valor após a operação. A venda dos direitos é feita em bolsa, entre 19 e 30 de Janeiro.

O destaque dos direitos vai ocorrer a partir do fecho de bolsa da próxima segunda-feira (16 de Janeiro), e as acções compradas entre 17 e 30 de Janeiro já não permitem a participação no aumento de capital (já não têm direitos incorporados). As acções sofrerão então um ajustamento ao aumento de capital, caindo, à cotação de hoje, para cerca de 0,14 euros, ao mesmo tempo em que é determinado o valor teórico de cada  direito, que deverá ascender a 0,70 euros. O valor dos direitos, que poderão ser negociados entre 19 e 30 de Janeiro, vai depender da cotação das acções e da oferta e procura que vier a verificar-se.

As acções do BCP encontram-se no valor mais baixo de sempre, a negociar esta sexta-feira ligeiramente acima dos 0,80 euros, e, por essa razão, é natural o descontentamento dos pequenos investidores. Muitos destes pequenos accionistas são clientes do banco, que foram “convidados” pelos funcionários a comprar acções que, há uns anos, também garantiam a redução no spread (margem comercial do banco) na contratação de empréstimos para a compra de casa.

Os accionistas que ficarem totalmente à margem do aumento de capital vão agravar as suas perdas. Os que não pretendam participar devem equacionar a possibilidade de vender as acções ou pelo menos os direitos inerentes, uma possibilidade de que alguns se esquecem ou desconhecem.

O banco lembra que “caso os direitos de subscrição não sejam exercidos [compra de novas acções] ou alienados (…), os mesmos cessarão sem contrapartida, não havendo lugar a qualquer compensação por esse facto, sendo as correspondentes acções rateadas” por quem manifestou interesse em subscrever mais títulos do que aqueles a que tinha direito.

O período de subscrição das novas acções decorre entre 19 de Janeiro e 2 de Fevereiro e as ordens de subscrição poderão ser revogadas apenas até ao dia 30 de Janeiro. O apuramento dos resultados da oferta deverá ocorrer a 3 de Fevereiro de 2017 e a admissão à negociação das acções  a 9 de Fevereiro.

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