30 questões, 1 suspeita, 0 respostas

Começa a ser difícil aos deputados justificar não avançar com uma comissão de inquérito à Caixa.

Já aqui neste espaço defendemos que uma comissão de inquérito poderia ser um instrumento parlamentar útil para tentar perceber o que se passou na Caixa Geral de Depósitos (CGD) nos últimos anos e que possa fazer alguma luz sobre o porquê de o banco estar a precisar de uma injecção de capitais na ordem dos 4 mil milhões de euros. E deixámos aqui algumas perguntas que necessitavam de respostas: as sucessivas administrações da CGD cumpriram os critérios de prudência nos créditos que foram concedidos? Houve alguma outra motivação na concessão de crédito que não uma razão económica? O banco deu crédito para accionistas disputarem o poder noutros bancos concorrentes? O banco deu crédito a mando do poder político?

As estas o PSD veio acrescentar mais 30 questões sobre o banco público que enviou ao Governo para tentar perceber, nomeadamente, qual é o plano de reestruturação que está a ser negociado com Bruxelas que, pela voz do Marques Mendes, já percebemos que poderá implicar muitos despedimentos. Na trintena de questões levantadas, os sociais-democratas também perguntam ao Governo: “Como justifica que os contribuintes portugueses tenham de fazer esse esforço tão mais elevado?”

São perguntas legítimas e que merecem não ficar sem resposta. Algumas, como as relativas ao plano de recapitalização, serão de resposta mais fácil e até poderão ser abordadas pelo primeiro-ministro no debate quinzenal que vai acontecer esta quarta-feira no Parlamento. Para outras, como perceber se as sucessivas administrações da Caixa seguiram regras rigorosas na atribuição de créditos, as respostas exigem investigação e ouvir os próprios gestores que nos últimos anos passaram pelo banco público e que estiveram envolvidos nessas operações.

A necessidade de uma comissão de inquérito tornou-se ainda mais premente depois de esta terça-feira o Ministério das Finanças, em reacção a uma notícia publicada pelo Correio da Manhã, ter vindo mostrar que também tem mais dúvidas do que certezas em relação ao que se passou na CGD nos últimos anos. O jornal faz uma manchete a dizer “Crédito a amigos afunda Caixa”, referindo-se a “mais de 2,3 mil milhões de euros de empréstimos que estão em risco de não serem pagos à CGD”, tendo sido os mais problemáticos concedidos na administração de Carlos Santos Ferreira e Armando Vara. O ministério de Mário Centeno, que tem a tutela do banco, reage à notícia dizendo que, se houve créditos concedidos sem a devida avaliação de risco, essa situação deveria ter sido e deve ser reportada e “sujeita às diligências entendidas por convenientes, nomeadamente no campo do apuramento de responsabilidade civil e criminal”.

Tendo o PSD 30 perguntas, e tendo o ministério que tutela a CGD admitido poder haver dúvidas sobre procedimentos passados, qual é o argumento que sobra aos sociais-democratas e socialistas para não avançarem com a dita comissão de inquérito?

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