Música e património num festival à conquista dos turistas

Maestro Cesário Costa é o novo director artístico do festival In Spiritum, que decorre no Porto e em Gaia entre esta quinta-feira e domingo.

Fotogaleria
O Salão Árabe é o ex libris turístico do Palácio da Bolsa Paulo Pimenta
Fotogaleria
Maestro Cesário Costa enric vives-rubio

O Salão Árabe do Palácio da Bolsa, um espaço de estilo neo-árabe “incrustado” num edifício de traça neoclássica, é o palco para o concerto que abre esta quinta-feira à noite a 3.ª edição do In Spiritum – Festival de Música do Porto.

Em “palco” vai estar um trio constituído pelo músico espanhol Eduardo Paniagua (flautas, saltério e pandeireta) e pelos marroquinos Jamal Eddine Bem Allal (violino) e Serghini Mohammed (voz e darbuka), que formam o El Arabi Ensemble. Vão interpretar Poemas de Alhambra.

Não acontece ao acaso esta associação entre um lugar, uma formação musical e um programa: ela faz a especificidade deste festival lançado em 2014 e que, após um interregno no ano passado, e agora sob a direcção de Cesário Costa, quer “levar o público numa pequena viagem de descoberta da música mas também dos edifícios que fazem do centro histórico do Porto Património da Humanidade classificado pela UNESCO”, como explicou o maestro ao PÚBLICO.

Num alinhamento de seis concertos distribuídos por quatro dias, o festival vai assim circular por outros “palcos” de grande relevo patrimonial: a Sé Catedral, as igrejas de São Francisco e dos Clérigos, mas também o Museu Nacional Soares dos Reis e as Caves Ferreira (Gaia).

Sem surpresa, além do público local, os visitantes e turistas são igualmente um alvo preferencial do programa. “O Porto é uma cidade cosmopolita, e cada vez mais um lugar de cruzamento de pessoas de todo o mundo”, nota Cesário Costa, que espera que o festival proporcione a quem o visita uma experiência mais intensa do que o simples passeio pelas ruas e a visita aos monumentos.

No concerto de abertura, Poemas de Alhambra, o programa é baseado nos versos e canções do poeta do Al-Andalus Ibn Zamrak (século XIV), que estão inscritos na decoração dos palácios nazari de Granada.

O segundo concerto (sexta-feira, 21h30) leva o Ludovice Ensemble, dirigido pelo organista Fernando Miguel Jalôto, ao esplendor barroco da Igreja de São Francisco. E no programa Fulgores do barroco português avultam as estreias modernas mundiais ou em Portugal de obras de Antonio Tedeschi (1702-1770), compositor italiano que esteve ao serviço da Capela Real de Lisboa, e do duriense Manuel de Moraes Pedroso (século XVIII), cujo Te Deum – explica Cesário Costa – foi identificado por Jalôto na Biblioteca de Lima, no Peru, o que “atesta a importância primordial de Portugal na disseminação da arte e da cultura barrocas por todo o mundo”, escreve o maestro no programa de In Spiritum.

Sábado haverá concertos no Museu Soares dos Reis (18h00) e na Sé Catedral (21h30). O primeiro, com música do tempo do escultor d'O Desterrado. Na galeria onde se expõem esta e outras obras de Soares dos Reis (1847-1889), o Quarteto Rosário – Catarina Resende (violino), Ana Alves (viola d’arco), Ana Mafalda Monteiro (violoncelo) e Tiago Rosário (piano) – vai tocar música de câmara, com peças de Mahler e Fauré e dos portugueses Miguel Ângelo Pereira e Nicolau Medina Ribas.

Já na Sé Catedral, os organistas António Esteireiro e Rui Paiva vão “dialogar” e “colocar em evidência as potencialidades tímbricas e dinâmicas” dos dois pequenos órgãos, do Evangelho e da Epístola, que foram recentemente recuperados neste templo. Bach e Rameau, ao lado dos portugueses António Valente e Soror da Piedade, fazem parte do alinhamento do recital.

O programa de domingo começa nas Caves Ferreira, em Gaia (12h00), com um concerto intitulado A Ferreirinha e as compositoras do seu tempo. Dona Antónia Adelaide Ferreira (1811-1896), a famosa empresária do Douro, é aqui pretexto para pôr em cena obras de mulheres compositoras do século XIX, como Clara Schumann, Lili Boulanger, Fanny Hensel e Cécile Chaminade. A interpretação caberá à soprano Ana Maria Pinto e ao pianista David Santos.

O festival termina na Igreja dos Clérigos (18h00), com um encontro de dois grandes compositores de épocas diferentes – António Vivaldi (1678-1741) e Astor Piazzolla (1921-1992) –, através de criações com o mesmo título: As Quatro Estações. Se a peça de Vivaldi rima directamente com a arquitectura barroca de Nazoni, já a do compositor argentino permitirá um salto no tempo e na própria história da música. Serão intérpretes Pedro Meireles (violino) e Gonçalo Pescada (acordeão).

O festival In Spiritum é uma realização da associação com o mesmo nome, com produção da empresa Busílis e o patrocínio da Câmara Municipal do Porto. Tem um orçamento global de 75 mil euros. E os bilhetes para cada concerto custam 10 euros.

Sugerir correcção
Comentar