Prémio Cervantes Juan Goytisolo morre aos 86 anos

O escritor vivia em Marraquexe desde 1997.

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LUSA/JAVIER LIZON

O escritor catalão Juan Goytisolo morreu este sábado aos 86 anos em Marraquexe, em Marrocos, onde residia há décadas, segundo divulgou a agência literária Balcells. É um dos nomes mais importantes da ficção espanhola da segunda metade do século XX.

Quando recebeu o Prémio Cervantes em 2014 o júri considerou-o “um dos cumes da literatura espanhola do pós-guerra” e destacou, na sua obra, “a vontade de integrar as duas margens” e a “aposta permanente no diálogo intercultural”. Era uma referência à luta que o autor sempre travou contra as tentativas de rasura da herança árabe na cultura espanhola contemporânea. 

Juan Goytisolo, nascido em Barcelona em 1931, era irmão dos também escritores José Agustín e Luis Goytisolo e teve uma carreira premiadíssima. Além do Cervantes recebeu o Prémio Nacional das Letras Espanholas em 2008, assim como o de Literatura Latino-americana Juan Rulfo (2004), o Internacional Don Quixote de la Mancha (2010), o das Artes e Culturas da Fundação Três Culturas (2009) e o Octávio Paz de Literatura (2002).

Goytisolo opôs-se ao franquismo e saiu de Espanha aos 25 anos, tendo começado por se exilar em Paris, em meados dos anos 50. Trabalhou durante anos como consultor editorial da prestigiada editora Gallimard, antes de rumar aos Estados Unidos, em 1969, onde foi professor em diversas universidades, na Califórnia, em Boston e em Nova Iorque.

A sua obra inclui diferentes géneros, como a narrativa, história, reportagem, ensaio, memórias, tendo colaborado durante décadas no jornal El País, do qual foi correspondente de guerra na Chechénia e na Bósnia. Em Portugal estão publicados os seus livros Paisagens Depois da Batalha (1988, editado na Relógio D'Água), Espanha e os Espanhóis (2008) na editora 90 Graus, Luto no Paraíso (1964) na Colecção Contemporânea da extinta Portugália Editora e Reivindicação do Conde Julião (1970), que a D. Quixote publicou em 1972, numa tradução do poeta Pedro da Silveira. Hoje reintitulado apenas Don Julián, o livro é o segundo volume da chamada Trilogia Álvaro Mendiola, iniciada com Señas de Identidad (1966) e concluída com Juan sin Tierra (1975).

Se os seus primeiros livros, como Juegos de Manos (1954) e Duelo en el Paraíso (1955), ou mesmo a trilogia composta por El Circo (1947), Fiestas (1958) y La Resaca (1958), o situam no âmbito de um realismo crítico não muito distante daquilo a que em Portugal se chamou neo-realismo, é a partir de meados dos anos 60, com Señas de Identidad, que a sua obra ficcional adquire características mais experimentais (e foi proibida durante a ditadura de Franco), revelando um esforço sistemático de renovação da linguagem literária, escrevia Luís Miguel Queirós no PÚBLICO em 2014 quando lhe foi atribuído o Prémio Cervantes. 

Os reis de Espanha lamentaram a morte de Juan Goytisolo, considerando que a literatura está de luto, mas que a obra do escritor "acompanhará sempre" a língua espanhola, numa mensagem da Casa Real na rede social Twitter. E ministro da Cultura espanhol, Inigo Mendez de Vigo, homenageou Goytisolo, comparando-o ao que é considerado o maior escritor espanhol: Miguel de Cervantes.

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