Sonda Juno já está em Júpiter e agora vai começar a parte divertida

Aparelho entrou esta terça-feira em órbita de Júpiter, após uma manobra de 35 minutos. Daqui a poucos meses vai começar a investigação científica sobre o interior, a atmosfera e a magnetosfera do planeta gigante.

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"Estamos lá": a sonda Juno entrou em órbita de Júpiter

Cinco anos depois de ter descolado da Terra, a sonda Juno, da NASA, chegou na terça-feira de madrugada ao maior planeta do sistema solar. Este é apenas o segundo aparelho destinado a estudar Júpiter. A sonda Galileu, também norte-americana, tinha sido a primeira, na década de 1990. Por isso, o sucesso deste passo difícil foi comemorado efusivamente na sala de comando do Laboratório de Propulsão a Jacto (JPL, sigla em inglês) da NASA, em Pasadena, na Califórnia.

“Estamos lá! Estamos em órbita! Conquistámos Júpiter”, disse Scott Bolton, coordenador da missão, do Instituto de Investigação do Sudoeste, em San Antonio, no Texas, citado pela agência Reuters. “Agora começa a parte divertida.” Ou seja, estão abertas as portas para começar a fazer ciência: a Juno vai analisar a magnetosfera do planeta, a constituição da atmosfera e do seu interior, podendo ajudar a compreender a formação inicial do sistema solar, há cerca de 4500 milhões de anos. 

Eram 20h53 de segunda-feira na Califórnia (4h53, madrugada de terça-feira em Lisboa) quando os cientistas da NASA receberam o sinal enviado pela Juno, provocando uma onda de aplausos e abraços, registados nas fotografias divulgadas pela NASA. “O Dia da Independência é sempre algo que se deve celebrar, mas hoje podemos juntar ao aniversário dos Estados Unidos outra razão para dar vivas – a Juno chegou a Júpiter”, disse Charlie Bolden, administrador da NASA, referindo-se ao dia 4 de Julho. O momento foi até celebrado pela Google, que fez um doodle com a chegada da Juno a Júpiter, alterando o seu logotipo em homenagem a esta missão espacial.

A entrada em órbita daquele planeta era um momento de tudo ou nada. A sonda tinha de estar no local correcto para activar o seu motor principal e mantê-lo ligado durante 35 minutos, de modo a diminuir a sua velocidade, o que permitiu que fosse capturada numa órbita à volta de Júpiter, explica a NASA num comunicado. Se houvesse alguma falha neste movimento, a sonda não era capturada pelo planeta, e seria o fim da missão, que custou cerca de 990 milhões de euros.

“A inserção na órbita de Júpiter foi um grande passo e o maior desafio que ainda faltava ultrapassar no nosso plano”, disse Rick Nybakken, um dos responsáveis da missão do JPL, explicando que os instrumentos funcionaram na perfeição. Mas a fase científica não vai começar já. “Há outros passos que têm de ocorrer antes de a equipa de ciência poder receber nas mãos a missão que tanto deseja”, acrescentou, citado em comunicado da NASA.

Nos próximos meses, vão ser feitos os últimos testes aos subsistemas da sonda, além das calibrações aos oito instrumentos científicos e a uma câmara. Ainda assim, as primeiras imagens de Júpiter vão ser obtidas já a 17 de Agosto, avança a Reuters, e os instrumentos científicos poderão começar a fazer ciência antes do esperado.

“A fase oficial de recolha científica inicia-se em Outubro, mas encontrámos uma forma de recolher informação muito antes”, revelou Scott Bolton, no comunicado da NASA. Depois, vão iniciar-se as 33 órbitas científicas que vão permitir observar toda a superfície do planeta. A missão irá durar 20 meses e acabará com a Juno a despedir-se de nós, mergulhando na atmosfera de Júpiter. O mergulho será uma forma de evitar que a sonda possa ser esmagada contra a lua Europa e contaminá-la com micróbios terrestres, já que tudo indica que esta lua tem um oceano interior que poderá albergar formas de vida.

A Juno partiu da Terra a 5 de Agosto de 2011 e nestes quatro anos e 11 meses percorreu 2800 milhões de quilómetros. A primeira vez que uma viagem deste calibre foi feita, em Dezembro de 1973, a sonda norte-americana Pioneer 10 passou ao lado de Júpiter e fotografou-o. Essas foram as primeiras imagens em que a humanidade pôde observar aquele gigante de perto, com as suas listas brancas e acastanhadas, que revelam a impressionante vida atmosférica joviana.

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Ilustração científica da sonda Juno em Júpiter NASA/JPL/ CALTECH

Nas décadas seguintes, o gigante foi visitado por mais cinco sondas, além da Galileu, que chegou em 1995 e ficou por lá oito anos, estudando não só o planeta mas também algumas das suas luas como Io, Europa, Ganimedes e Calisto – as famosas luas observadas por Galileu Galilei, em 1610.

Agora, será a vez dos nove instrumentos da Juno perscrutarem aquele gigante três vezes maior do que Saturno, com 11 vezes o diâmetro da Terra (12.756 quilómetros) e 122 vezes a sua área superficial.

Além de uma câmara a cores, a Juno tem dois transmissores que vão trocar sinais com a Terra, para analisar a influência gravítica de Júpiter, e inferir a sua estrutura interna; um magnetómetro para criar um mapa tridimensional da magnetosfera do planeta; um radiómetro que vai analisar microondas emitidas pelo gigante para detectar a composição das nuvens de Júpiter; e um detector de partículas para analisar como é que elas interagem com a magnetosfera de Júpiter.

Apesar de a sonda ser norte-americana, alguns dos instrumentos foram construídos por cientistas europeus, como o aparelho italiano que vai observar as auroras boreais de Júpiter – as maiores do sistema solar, devido à enorme magnetosfera do planeta. Além disso, investigadores da Bélgica, Dinamarca, França, Itália e do Reino Unido ajudarão a analisar os dados obtidos pela Juno.

Com esses dados, os cientistas esperam aprofundar os conhecimentos sobre o sistema solar. Por ser tão grande, pensa-se que Júpiter influenciou a disposição do resto dos planetas. “Toda a minha vida tive uma questão que agora espero que seja respondida: como é que chegámos aqui? Isso para mim é bastante fundamental”, afirmou Scott Bolton. A resposta também ajudará a compreender a formação dos outros sistemas solares que povoam o Universo.

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