Portugal poderá chegar a 2100 com cinco milhões de habitantes

Estudo na revista The Lancet traça projecções para a população em 195 países.

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Portugal poderá ter em 2100 uma população entre 3,43 milhões e 6,1 milhões FRANCISCO ROMÃO PEREIRA

Portugal poderá chegar a 2100 com uma população de apenas cerca de cinco milhões de habitantes, numa altura em que a população mundial também estará em decréscimo, segundo um estudo científico publicado esta terça-feira na revista The Lancet.

Os investigadores estimam que o pico da população mundial - que em 2017 era 7640 milhões de pessoas - será atingido no ano de 2064, com 9730 milhões de habitantes e começará a descer a partir daí, situando-se nos 8780 milhões em 2100.

A razão principal apontada no modelo é a queda na taxa de fertilidade, o número médio de filhos por mulher, que era de 2,37 em 2017 e poderá não passar de 1,66 no ano 2100.

Quanto a Portugal, terá já atingido o pico de população com os 10,68 milhões de habitantes que tinha em 2017 e poderá chegar a 2100 com uma população entre os valores de referência de 3,43 milhões e 6,1 milhões.

Portugal está entre mais de duas dezenas de nações cuja população poderá descer para menos de metade em 2100, que inclui Espanha (de 46 para 23 milhões), Itália (61 para 31 milhões), Japão (128 milhões para 60 milhões) ou Tailândia (71 para 35 milhões).

O director da The Lancet, Richard Horton, afirmou que os resultados das projecções traduzem “uma revolução na história da civilização humana” e reforçam a “importância de proteger e fortalecer os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres”. “África e o mundo árabe modelarão o nosso futuro, enquanto a Europa e a Ásia reduzirão a sua influência. No fim do século, o mundo será multipolar, com a Índia, a Nigéria, a China e os Estados Unidos como poderes dominantes”, considerou Richard Horton, citado em comunicado da revista.

O principal investigador, Christopher Murray, destacou que “existe um perigo muito real, devido ao declínio da população, de alguns países admitirem políticas que restrinjam o acesso a serviços de saúde reprodutiva, com consequências potencialmente devastadoras”, defendendo que “é imperioso que a liberdade e os direitos das mulheres estejam nas prioridades de todos os governos”.

Em 2100, o país actualmente mais populoso, a China, que tem 1400 milhões de habitantes, deverá passar para 732 milhões de pessoas e ser o terceiro país mais populoso do mundo, a seguir à Índia, actualmente o segundo mais populoso, que poderá passar de 1380 milhões para 1090 milhões e à Nigéria, que aumentará dos 206 milhões actuais para 791 milhões.

O Brasil, que em 2017 tinha 212 milhões de habitantes e estava entre os dez países mais populosos do mundo, deverá passar para 165 milhões de pessoas.

Por outro lado, várias nações mais do que duplicarão a sua população no fim do século face a 2017: a República Democrática do Congo poderá aumentar de 81 milhões para 246 milhões de habitantes, tornando-se o sexto país mais populoso do mundo, a Etiópia poderá aumentar de 103 para 223 milhões de pessoas e tornar-se o oitavo mais populoso, seguido do Egipto, que poderá aumentar de 96 para 199 milhões, e da Tanzânia, que poderá subir de 54 para 186 milhões.

“Os resultados sugerem que as tendências na educação feminina e no acesso à contracepção apressarão os declínios na fertilidade e reduzirão o crescimento da população. Uma taxa de fertilidade inferior à taxa de substituição de população em muitos países, incluindo a China e a Índia, terão consequências económicas, sociais, ambientais e geopolíticas”, afirmam no estudo financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates.

“Opções políticas de adaptação à baixa fertilidade que mantenham e reforcem a saúde reprodutiva feminina serão cruciais nos próximos anos”, recomendam os investigadores, que frisam que a resposta ao declínio da população mundial não pode “comprometer o progresso da liberdade das mulheres e dos direitos reprodutivos”.

Estimam que daqui a 80 anos, em 183 dos 195 países actualmente contemplados, as taxas de fertilidade projectadas não serão suficientes para manter a população sem “políticas liberais de imigração”, que poderão “ajudar a manter a dimensão das populações e o crescimento económico apesar da queda na fertilidade”.

As maiores descidas na fertilidade deverão concentrar-se sobretudo nos países que hoje registam altas taxas de fertilidade, como os da África subsariana, que poderão passar de 4,6 filhos por mulher, como se verificava em 2017, para apenas 1,7 em 2100.

Exemplo dessa tendência é o Níger, que há três anos tinha a mais alta taxa de fertilidade do mundo - cerca de sete filhos por mulher -, e que deverá baixar para 1,8 por volta do virar do século XXI.

Além de menos fértil, a população humana deverá envelhecer, consideram os investigadores, que estimam que o número de crianças com menos de cinco anos poderá diminuir cerca de 41% nos próximos 80 anos, de 681 milhões para 401 milhões, enquanto as pessoas com mais de 80 anos poderão aumentar seis vezes, de 141 milhões para 866 milhões.

“Embora o declínio na população seja potencialmente uma boa notícia para a redução das emissões carbónicas e da pressão sobre as cadeias alimentares, mais pessoas velhas e menos pessoas jovens vai criar desafios económicos, quando as sociedades tiverem de se esforçar para crescer com menos pessoas em idade activa e menos contribuintes, reduzindo também a capacidade de os países gerarem riqueza para suportar os cuidados de saúde e os apoios sociais para os mais idosos”, argumentam os cientistas.

Os impactos económicos destas evoluções poderão significar que a China substituirá em 2035 os Estados Unidos como o país com o maior produto interno bruto, embora o crescimento económico deva abrandar a partir de 2050, pelo que os Estados Unidos poderão voltar a ocupar o topo da tabela em 2098, “se a imigração continuar a reforçar a população activa” do país.

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