Guerra deixou mais de 400 crianças mortas, segundo Kiev

ONU diz que há mais do que 6500 civis mortos na Ucrânia. EUA estimam 100 mil baixas militares de cada lado.

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Rishi Sunak, primeiro-ministro britânico, prestou homenagem aos mortos da guerra, numa visita este sábado a Kiev Reuters/UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SERVICE

Pelo menos 437 crianças morreram em resultado da ofensiva russa na Ucrânia, disse a procuradoria-geral ucraniana este sábado, acrescentando que pelo menos 837 ficaram feridas na sequência da guerra.

O número não é definitivo, notou a procuradoria, já que está a decorrer ainda verificação de informação de zonas de combate activo, de locais recentemente libertadas e de território ocupado por forças russas. Por região, indicou ainda o organismo, a de Donetsk foi onde houve mais vítimas entre crianças: 423 morreram ou ficaram feridas na região.

O alto-comissariado da ONU para os Direitos Humanos contabilizou, entretanto, 16.631 vítimas civis no país, na informação mais recente dada na semana passada: 6557 pessoas morreram e 10.076 ficaram feridas, avisando que o número real deverá ser “substancialmente mais alto”, já que há atraso na chegada de informação de zonas de combates e muita informação de potenciais vítimas está ainda a ser verificada. É o caso de informação de Mariupol, na região de Donetsk, Izium (Kharkiv), ou Lisichansk (Lugansk).

Se a contabilização de mortes de civis é difícil (as da ONU referem-se a acontecimentos documentados ou com informação suficiente para não causarem dúvidas além do razoável), a de militares têm também as suas próprias dificuldades, sendo que estes números são, desde guerras antigas, manipulados de cada lado.

“Se tomássemos os números oficiais como verdadeiros, todas as grandes batalhas da Antiguidade teriam sido ganhas por um contra dez, com muito poucas perdas [do lado vencedor] e um massacre [do lado vencido]”, comentou ao diário francês Le Monde Cédric Mas, historiador militar e presidente do Institut Action Resilience.

As declarações mais recentes em relação a baixas militares são de há quase dois meses: no dia 22 de Setembro, a Ucrânia disse que tinha morto cerca de 55.500 militares russos e indicado que, no mês anterior, tinha registado um total de cerca de 9000 mortes entre os seus combatentes.

A Rússia disse, no dia anterior, que tinham morrido 5937 soldados russos e que do lado ucraniano tinham morrido 61.207 soldados.

Do lado dos Estados Unidos, que tem dado indicações sobre as baixas que acredita haver dos dois lados, o general Mark Milley, chefe do Estado-maior Interarmas dos EUA, estimou que teriam morrido 40 mil civis no conflito – um número dado a 10 de Novembro e que representa a estimativa mais alta de um responsável ocidental, comentou então a emissora britânica BBC.

O general acrescentou ainda que estima que tenham morrido ou ficado feridos cerca de 100 mil soldados da Ucrânia e 100 mil soldados da Rússia.

Em teoria, explicou o historiador militar e antigo coronel Michel Goya ao jornal Le Monde, cada lado terá um quadro mais fiável das suas próprias baixas, com cada unidade a reportar diariamente o número de mortos e feridos. O quadro passa, no entanto, a estimativa quando desaparecem unidades inteiras.

E – problemático também para guerras antigas – os comandantes podem ter as suas razões para aumentar ou diminuir o número de baixas, para levar a uma acção diferente do comando central, por exemplo quanto a envio de reforços. Por isso, há quem contabilize também baixas com recurso a deduções a partir do número de carros de combate e outros veículos destruídos.

Para a dificuldade em recolher informação também contribui que muitos ataques sejam contra locais que não são próximos – a artilharia atinge muitas vezes alvos entre 20 a 80 km de distância – o que torna mais difícil a contabilização de vítimas, e embora seja sempre tentado confirmar o número com observadores no terreno ou drones, isso nem sempre é possível, sublinha Goya. Daí que números exagerados nem sempre sejam resultados de manipulação, mas de enganos genuínos.

Quaisquer que sejam os números, estes são já de uma ordem grande. Uma das consequências é que vão sendo chamados a lutar combatentes com menos experiência, o que, por sua vez, levará a mais baixas. Esta dimensão está mais relatada do lado da Rússia por causa da sua mobilização parcial.

Recentemente o jornal Moscow Times contava a história de um dos primeiros mobilizados a morrer, o advogado de São Petersburgo Andrei Nikiforov, que foi mobilizado quatro dias após o anúncio de Vladimir Putin. Menos de duas semanas depois tinha morrido, perto da cidade ucraniana de Lisichansk.

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