Colonos israelitas de extrema-direita atacam camiões com ajuda para Gaza, avança Washington Post

Jornal norte-americano, que teve acesso a rede de grupos de WhatsApp, noticia que grupos de jovens colonos estão a seguir camiões de ajuda humanitária, montar postos de controlo e a destruir bens.

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Grupos de jovens colonos estão a seguir os camiões de ajuda humanitária, montando postos de controlo e interrogando os condutores Heidi Levine / The Washington Post
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Grupo utiliza uma rede de grupos de WhatsApp acessíveis ao público para seguir os camiões e coordenar os ataques Heidi Levine / The Washington Post
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Colonos radicais israelitas intensificaram os ataques aos camiões de ajuda humanitária que atravessam a Cisjordânia Heidi Levine / The Washington Post
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Grupos de jovens colonos estão a seguir os camiões de ajuda humanitária, montando postos de controlo e interrogando os condutores Heidi Levine / The Washington Post
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Colonos radicais israelitas intensificaram os ataques aos camiões de ajuda humanitária que atravessam a Cisjordânia, impedindo a chegada de alimentos a Gaza, noticiou no domingo o jornal The Washinton Post.

O jornal norte-americano, que cita fontes no local, motoristas de camiões e a rede de grupos de WhatsApp usadas pelos agressores, noticia que grupos de jovens colonos estão a seguir os camiões de ajuda humanitária, montando postos de controlo e interrogando os condutores.

Em alguns casos, os atacantes, que o jornal identifica como sendo de extrema-direita, saquearam e queimaram camiões e espancaram condutores palestinianos, deixando pelo menos dois hospitalizados.

Os agressores utilizam uma rede de grupos de WhatsApp acessíveis ao público para seguir os camiões e coordenar os ataques, o que lhes permite ter uma visão das actividades, afirma.

Trabalhando com base no que dizem ser 'dicas' de soldados e polícias israelitas, os elementos destes grupos analisam fotografias para descobrir que veículos podem estar a transportar ajuda para Gaza e mobilizam apoiantes locais para os bloquear.

Um ataque realizado na quinta-feira mostrou o sistema em acção: um grupo de WhatsApp com mais de 800 elementos começou a publicar mensagens sobre um camião carregado de açúcar, partilhando fotografias da estrada enquanto o seguiam.

Manifestantes judeus de extrema-direita bloquearam então uma estrada na Cisjordânia, perto do cruzamento de Tarqumiyah, por onde os camiões de ajuda que se dirigem a Gaza têm de passar antes de entrar em Israel.

O Washington Post transcreve o alerta de um dos membros do grupo, Yosef de Bresser, um dos líderes do movimento We Won't Forget: "O camião que abastece o Hamas parou em frente a Evyatar", numa referência a um posto avançado de Israel a sul da cidade palestiniana de Nablus.

De acordo com a investigação do jornal, o grupo We Won't Forget tem acampamentos de protesto na passagem de Kerem Shalom, entre Israel e Gaza, desde o início deste ano e gere vários dos grupos de WhatsApp que visam os camiões de ajuda humanitária.

O camião foi então saqueado, a carga espalhada pela estrada, como mostram imagens publicadas mais tarde no grupo. De Bresser disse que as guias de transporte, que não indicavam o destino, provavam que o camião se dirigia para Gaza.

O proprietário da carga, Fahed Arar, disse ao jornal norte-americano que o carregamento de 30 toneladas de açúcar tinha como destino Salfit, uma cidade palestiniana na Cisjordânia.

O motorista escapou ileso, disse Arar, mas os militares israelitas não o deixaram recarregar a mercadoria. Em vez disso, retiraram os sacos com um bulldozer e destruíram-nos, acrescentou. "O ataque aconteceu em frente ao exército", e os soldados não fizeram nada para o impedir, disse Arar ao Washington Post.

As Forças de Defesa de Israel não comentaram o incidente, mas enviaram uma declaração ao jornal norte-americano dizendo que estes grupos actuam na Cisjordânia com o "objectivo de dispersar confrontos entre civis israelitas e palestinianos", "prestando assistência" até à chegada da polícia.

A polícia de Israel não respondeu a vários pedidos de comentário feitos pela equipa do The Washington Post.

"Um ultraje total"

A longa reportagem do jornal The Washington Post é acompanhada de imagens vídeo de ataque a um desses camiões, com destruição de comida. "O ambiente à nossa volta é alimentado por ódio e vingança", disse o presidente da Federação das Câmaras de Comércio Palestinianas, Abdo Idrees, ao jornal norte-americano.

Sob pressão dos Estados Unidos, Israel abriu a passagem de Tarqumiyah, na Cisjordânia, no início deste mês, aos camiões de ajuda que viajam da Jordânia para Gaza e às empresas palestinianas que exportam alimentos. As rotas para a travessia passam por postos avançados israelitas no topo das colinas, onde a violência dos colonos contra palestinianos aumentou drasticamente nos últimos meses.

O conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, classificou o ataque aos camiões de ajuda humanitária como "um ultraje total", adianta o Washington Post.

Segundo o jornal, "um alto funcionário dos EUA, que falou sob condição de anonimato", disse que a administração Biden está a considerar a possibilidade de impor sanções às pessoas envolvidas nestes ataques.

Organizações humanitárias disseram que Gaza está a atravessar "a sua hora mais negra" após quase oito meses de guerra.

Mais de um milhão de palestinianos foram deslocados este mês, segundo as Nações Unidas, depois de Israel ter iniciado o seu ataque a Rafah e ter fechado a passagem terrestre mais vital do enclave para a passagem de ajuda.

A parte norte do território já se encontra numa situação de "fome generalizada", segundo o Programa Alimentar Mundial, e as autoridades humanitárias alertam para o facto de a situação estar a alastrar para sul.

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