Agricultores excluídos da reunião interministerial sobre a seca, queixa-se Macário Correia

Um aviso deixado a Luís Montenegro: Se não quiser ter os tractores na rua em protesto, deverá anunciar hoje cortes de água, no Algarve, iguais para todos. Os agricultores defendem 10 a 13%.

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Terreno agrícola na zona de Castro Marim, Algarve Miguel Manso
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O sector agrícola, que é o que mais água consome, foi excluído da reunião da Comissão de Acompanhamento dos Efeitos da Seca no Algarve, que se reúne nesta quarta-feira, em Faro.“Vêm dois ministros ao Algarve [Ambiente e Agricultura], para tratar de um assunto que é nosso, cuja solução foi tratada connosco, e não fomos convidados para estar presentes.” O presidente da Associação de Regantes do Sotavento Algarvio, Macário Correia, acrescenta que pediu explicação à administração central e a resposta foi de que só estariam presentes organismos oficiais. A reunião será presidida pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro.

“Já lhes disse a eles [representantes da administração central]: os formalismos burocráticos, por vezes, escondem problemas políticos reais”, avisa Macário Correia. O ex-autarca do PSD, que criou uma associação para representar todas as actividades do mundo rural na região, reclama que só aceita cortes no abastecimento iguais para todos — sector urbano, turismo e agricultura. A solução que diz estar acordada situa a redução do abastecimento entre os 10 e 13%. Colocar os tractores na rua, em protesto, caso a reivindicação não seja satisfeita, é uma ameaça que já tinha anunciado.

Do lado das associações ambientalistas, o presidente da Almargem afirma: “Nós também só fomos informados dessa reunião pela comunicação social.” Mas, mais importante do que estar ou não presente, salienta Carlos Cabrita, o que se espera é que sejam encontradas soluções para resolver problemas que se arrastam ano após ano”.

Para Carlos Cabrita, o reaproveitamento das águas residuais tratadas para rega é uma das questões que deve ser prioritária na aplicação do dinheiro do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). “Não consigo perceber como é que a ETAR de Albufeira (poente) não rega os campos de golfe”, exclama. Situação semelhante, prossegue, passa-se com a ETAR da Companheira (Portimão), em relação ao golfe da Penina, pomares e vinha, na zona envolvente.

Uma das medidas de combate à seca anunciadas na Resolução do Conselho de Ministros do passado mês de Janeiro passaria pela proibição da rega dos jardins e espaços verdes públicos. A medida foi discutida no âmbito da Comunidade Intermunicipal do Algarve (Amal) como recomendação, no âmbito das boas práticas, mas não passou das boas intenções. A maioria das câmaras ignorou a decisão governamental por não ter carácter obrigatório. Por outro lado, os jardins privados dos empreendimentos turísticos, na melhor das hipóteses, ficaram-se pela diminuição da área dos relvados.

O sector agrícola, em média, consome 135 hm3 de água, dos quais 100 hm3 têm origem nos aquíferos e 35 hm3 nas barragens. “Temos já furos, no aquífero Querença-Silves a ficarem salinizados. A degradação do solo será o passo seguinte, se nada for feito para contrariar essa tendência”, alerta Cabrita. De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente, num estudo de 2022 sobre Avaliação das disponibilidades hídricas actuais e futuras, a precipitação diminuiu cerca de 15% nos últimos 20 anos. As previsões são que diminua mais dez a 25% até final do século.

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