Hamas recusa proposta de cessar-fogo israelita

Conselho de Segurança da ONU está a analisar o reconhecimento da Palestina como Estado. França fala em pressão sobre Israel e sanções aos colonos para garantir entrada de ajuda humanitária em Gaza.

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Conselho de Segurança da ONU tem de discutir este mês de Abril se aceita que a Palestina se torne no 194.º membro da ONU ANDREW KELLY/Reuters
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No mesmo dia em que o Hamas recusou a proposta de cessar-fogo apresentada por Israel, mas garantiu que a sua delegação vai continuar a negociar no Cairo, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Stephane Sejourne, falou em pressionar Israel e impor sanções aos colonos israelitas na Cisjordânia para garantir que a ajuda humanitária chega aos palestinianos na Faixa de Gaza.

“A França foi um dos primeiros países a propor sanções da União Europeia aos colonos israelitas que estão a cometer actos de violência na Cisjordânia. Continuaremos a fazê-lo, se for preciso, para conseguir a entrada da ajuda humanitária”, disse Sejourne à RFI e à France 24. “Tem de haver poder de influência e há várias formas que vão até às sanções para conseguir que a ajuda humanitária passe pelos postos de controlo.”

A situação na Faixa de Gaza é preocupante, com uma grave crise humanitária que se intensifica todos os dias e não parece, esta terça-feira, a caminho de resolução, tendo em conta que o Hamas recusou a proposta israelita para um cessar-fogo, que lhe chegou através dos mediadores do Qatar e do Egipto.

“Rejeitámos as últimas propostas israelitas que nos foram transmitidas pelo lado egípcio. O politburo esteve reunido hoje [terça-feira] e assim o decidiu”, afirmou à Reuters Ali Baraka, dirigente do Hamas.

A organização palestiniana considera que a proposta é “intransigente” e não mostra alterações em relação a posições israelitas anteriores. “Não há qualquer mudança de posição da ocupação [Israel] e, como tal, não há nada de novo nas conversações do Cairo”, disse à Reuters um dirigente do Hamas que pediu para não ser identificado.

Nas conversações de domingo na capital egípcia esteve envolvido, além dos mediadores egípcios e qataris, o director da CIA, William Burns, num sinal de maior pressão dos Estados Unidos sobre o seu aliado israelita para encontrar uma solução para o agudo problema humanitário na Faixa de Gaza.

Rafah continua a ser alvo de Israel

Israel estava disposto a trocar mais presos palestinianos por reféns israelitas que estão nas mãos do Hamas desde o ataque de 7 de Outubro, mas não admite pôr fim à operação militar em Gaza antes de invadir Rafah. Uma “vitória total” na guerra contra o Hamas, disse o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, “requer a entrada em Rafah e a eliminação dos batalhões terroristas que lá estão”. Segundo o dirigente israelita, “isso irá acontecer” e até já “há uma data” definida.

O Governo de Israel tem insistido na invasão de Rafah, onde se amontoam mais de um milhão de pessoas famélicas sem lugar para onde fugir, apesar de toda a pressão internacional, nomeadamente do seu principal aliado, os EUA. A intransigência de Israel e a sua operação militar que em seis meses matou mais de 33 mil pessoas e “usa a fome como arma de guerra”, de acordo com o director da Human Rights Watch para Israel e a Palestina, está a contribuir para isolar cada vez mais Israel no cenário internacional e reforçar o apoio palestiniano.

Na segunda-feira, o Conselho de Segurança começou a discutir o pedido de reconhecimento pelas Nações Unidas da Palestina como Estado, processo que estava parado há mais de uma década e que Malta, país que este mês exerce a presidência do conselho, resolveu pôr a andar sem que qualquer dos outros membros levantasse objecções.

As deliberações sobre o pedido de reconhecimento “têm agora de ser realizadas durante o mês de Abril”, disse aos jornalistas a embaixadora maltesa na ONU, Vanessa Frazier. “É esse o cronograma”, acrescentou, citada pela UPI. De acordo com as regras da organização, o Comité para Admissão de Novos Membros vai analisar o pedido e se o mesmo for aprovado por nove dos 15 membros do Conselho de Segurança seguirá para votação na Assembleia Geral, onde é preciso uma maioria de dois terços para que a Palestina se torne no 194.º Estado das Nações Unidas.

Esta é a segunda vez que o Conselho de Segurança discute a questão. Em 2011, o mesmo comité afirmou que recomendaria a aceitação do Estado da Palestina como membro da ONU, mas, não conseguindo uma “recomendação unânime”, sugeriu que fosse admitida apenas como observador, estatuto que actualmente tem, igual ao do Vaticano.

“Foi um momento histórico na altura e agora esse momento histórico foi reavivado”, disse o representante permanente da Palestina na ONU, Riyad Mansour, na conferência de imprensa conjunta com Vanessa Frazier.

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