Câmara diz que há milhares de árvores a degradar o espaço público de Braga

Há árvores no concelho que são desadequadas ao espaço público, colocando em risco passeios e vias de trânsito. Município não quer abater com “ligeireza” e associação defende zonas de coexistência.

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Em Braga discute-se o corte de árvores Nelson Garrido
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O presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio (PSD), diz que há “milhares de árvores” espalhadas pelo concelho cujas espécies são “inadequadas para o perfil das ruas”, colocando em risco a “segurança” de quem circula e aumentando a “degradação do espaço público”.

O esclarecimento foi dado esta terça-feira, em reunião pública do executivo municipal, na sequência de uma intervenção do vereador sem pelouro da CDU, Vítor Rodrigues, a propósito da “má instalação do arvoredo” na rua Maria Júlia Queiroz, em Gualtar, que tem provocado “danos consideráveis nos passeios e na via pública”.

O vereador explicou que as árvores – são 12 na rua em causa – foram plantadas sem caldeiras e a espécie em causa, o liquidâmbar (Liquidambar styraciflua), foi “mal escolhida para aquela zona”. As árvores estão a “colocar em risco a segurança de pessoas e viaturas”, impedindo, nalguns casos, o acesso a garagens.

O vereador com o pelouro do ambiente, Altino Bessa (CDS), revelou que já se deslocou ao local e confirmou que “há raízes que afectam os passeios, as estradas e as vivendas, e existem fissuras em muros que não permitem a entrada de viaturas em garagens de algumas habitações”.

Altino Bessa sinalizou que, “à partida e forçosamente”, a solução para o problema está no abate das referidas árvores - que medem entre seis e nove metros de altura e se estima terem 25 anos de vida -, mas que para isso é necessária uma “solução partilhada entre Câmara Municipal, freguesia e moradores”.

O autarca indicou que, segundo o que lhe foi transmitido pelo presidente da junta de freguesia de Gualtar, a Câmara pode avançar para o abate e para a reposição dos passeios e das condições da via caso sejam recolhidos “dois terços de assinaturas dos moradores”. Até à data, porém, as assinaturas “ainda não chegaram”.

Ricardo Rio aproveitou para referir que o problema em discussão “não é uma questão avulsa”, que em Gualtar serão “mais de 300” as árvores em situação similar, e que no resto das freguesias são “milhares” os exemplares de “árvores inadequadas”. O autarca referiu que a plantação de espécies desadequadas está a colocar “em risco” a circulação de peões nos passeios, “até para pessoas sem qualquer problema de mobilidade”.

Alertando que há vias que “já começam a ficar em risco nalguns locais”, o presidente da câmara acautelou que é necessária uma “resposta de curto prazo”, salientando, porém, que “a solução não é ágil” e que é exigido um “consenso alargado, entre todos os interlocutores, para que depois não seja dito que estamos a abater árvores indevidamente ou a ter alguma ligeireza”.

Movimento pede espaço partilhado entre carros e peões

Quando se referia ao consenso alargado, Ricardo Rio falava, entre outros movimentos e associações, do Movimento SOS Árvores de Braga. O grupo enviou, na semana passada, um email ao executivo municipal e aos deputados da Assembleia Municipal, demonstrando preocupação pelo eventual corte de árvores na rua Maria Júlia Queiroz, apresentando uma solução para o problema.

Ao PÚBLICO, um dos membros do movimento, Pedro Pinheiro Augusto, defende a criação de uma zona de coexistência para a rua Maria Júlia Queirós, prevista no Código da Estrada, onde peões podem circular livremente e os veículos estão proibidos de circular a mais de 20 km/h. A solução preconiza “o nivelamento entre passeio e via, com o escoamento das águas pluviais a ser feito pelo meio da rua”, sendo que o pavimento já lá existente – pavê – poderia seria reaproveitado no reperfilamento da zona.

O responsável explica que a solução, que pode ser alargada a várias outras zonas do concelho, evitaria o abate de árvores, uma vez que os danos existentes na via são provocados pelo “desnivelamento da rua, causado pelas rampas dos acessos às garagens”. Abater as árvores e substituí-las por novas espécies “não resolve nada” e adia por “20 anos recuperar o serviço que as actuais estão a fazer”.

Altino Bessa adiantou que a ideia será “analisada internamente para se perceber se é viável”, mas salvaguardou que a reformulação da via “iria implicar o corte de raízes das árvores e colocar em causa a estabilidade das árvores”.

Para Pedro Pinheiro Augusto, o “corte de árvores é a solução para tudo, em Braga”. O responsável considera que mesmo que existam espécies de árvores desadequadas em vários locais do concelho o caminho deve ser mantê-las até que “árvores substitutas” cresçam até ao tamanho ideal. Refere ainda que há “várias alternativas ao abate, desde escorar os ramos ao reforço estrutural da árvore”.

O abate de árvores, lembra, implica ficar “sem património arbóreo e sem os seus benefícios, como a copa, a filtragem das poeiras do ar, ou o controlo da temperatura”. Em Braga, refere, “falta a cultura de estimar a árvore”.

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