Podas inadequadas ditam o abate de 130 árvores em Braga

Abate de espécies como tílias, carvalhos, choupos e plátanos decorre até ao final do ano, em sete espaços urbanos da cidade. Diagnóstico da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro relata podridões e fissuras nos exemplares que vão ser removidos. Em resposta, Câmara de Braga espera plantar 400 árvores.

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Poda junto ao rio Este Paulo Pimenta

Três das 18 tílias até agora plantadas no Largo Monte d’Arcos, em frente ao cemitério municipal de Braga, foram abatidas nesta segunda-feira. Com uma máquina contratada para esse efeito, a Divisão de Ambiente e Espaços Verdes da Câmara Municipal já removeu os cepos e espera, entre terça e quarta-feira, preencher os espaços vagos com novas tílias, adianta ao PÚBLICO o vereador com o pelouro do ambiente, Altino Bessa.

Com o abate de 130 árvores calendarizado até ao final do ano, a autarquia começou a operação pelos exemplares nas traseiras da igreja e do convento do Pópulo e pelas tílias em frente ao cemitério. Depois, restam as intervenções no Campo das Carvalheiras e na Avenida Central, nos limites do centro histórico de Braga, e ainda na Rua do Cantinho dos Carvalhos, no Parque da Ponte, na Avenida 31 de Janeiro e na Rua Professor Machado Vilela; nessa artéria, junto ao tribunal judicial, um homem de 41 anos morreu após a queda de uma árvore, em Maio de 2015.

O abate, reitera o vereador da maioria PSD/CDS-PP que governa o município bracarense, é uma decisão política suportada por um relatório pedido à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Essa avaliação, finalizada no início deste ano, mostra as árvores que constituem um risco para “a integridade física e para os bens dos cidadãos”, após terem sido alvo de “podas radicais”, responsáveis pelas podridões e fissuras que exigem. Altino Bessa alega que o município já abandonou há cinco anos as podas que visavam apenas “minimizar o trabalho com cada árvore”, negligenciando as “feridas” que causavam – houve, porém, uma excepção a essa política, num salgueiro podado sem pomada cicatrizante junto ao rio Este, em Janeiro de 2020. “Teoricamente, uma árvore deve crescer sem podas. Se se podar uma árvore como uma vinha, ela ganha feridas que têm tendência a apodrecer. Os ramos que daí rebentam não têm consistência. Por isso, a árvore começa a constituir um risco”, afirma.

Para encontrar os exemplares que requerem abate, a equipa da UTAD estudou as árvores individualmente, medindo as suas dimensões e avaliando os riscos para a segurança, esclarece o coordenador do relatório, Luís Martins. O professor do Departamento de Ciências Florestais e Arquitectura Paisagista reconheceu que as árvores identificadas exibem “cancros, cavidades e podridões” como resultado de “podas muito intensas”, denominadas rolagens. Apesar de uma árvore “sem situações de risco” poder viver em contexto urbano por mais de 100 anos, as tílias destinadas ao abate têm entre 50 e 70 e os plátanos do Campo das Carvalheiras entre 30 e 40, revela ainda.

Para Luís Martins, a poda de árvores em contexto urbano requer gente com habilitações para o fazer; um carvalho não pode ser podado como uma macieira ou um pessegueiro, reitera. Outro exemplo que requer conhecimento são os exemplares de “grande dimensão”. “Podas em altura em árvores com grande dimensão exigem conhecimento, exigem que a pessoa perceba de fisiologia e se consiga deslocar na árvore com técnicas de escalada, que tenha formação em agricultura e perceba as espécies”, indica o especialista.

400 novas árvores

Em resposta ao abate de 130 árvores, a Câmara de Braga espera plantar 400, diz Altino Bessa. No Largo Monte d’Arcos, as três tílias abatidas vão ser substituídas por três exemplares da mesma espécie. Esse espaço, explica o vereador, tem passeios e não pode acolher mais árvores, mas “zonas mais ajardinadas” têm capacidade para a plantação de quatro ou cinco árvores em torno da área onde está o exemplar destinado ao abate. Há ainda espécies que vão ser trocadas por outras, quer por terem “raízes que rebentam os passeios, causando danos nas infra-estruturas de telecomunicações”, quer por questões de saúde, como os choupos. “Os choupos lançam aquele algodão na Primavera e têm um impacto muito negativo nas pessoas com alergias”, realça.

O aumento da quantidade de árvores nem sempre pode ser feita em contexto urbano, avisa Luís Martins. No contexto de Braga, um desses exemplos são os plátanos nas Carvalheiras. “Já está lá o espaço próprio para uma árvore. As árvores têm a zona da caldeira, os compassos certos e não temos hipótese de colocar mais árvores. Mas pode ser possível noutros locais”, observa o especialista da UTAD.

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