“Espero que o excedente não seja um excesso”, diz Carlos César à entrada para a comissão nacional do PS

O secretário-geral Pedro Nuno Santos transmitiu a mensagem de que não é um líder a prazo e de que pretende trabalhar para que o PS ganhe força como alternativa ao futuro governo da AD.

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Carlos César, presidente do PS, à chegada para a reunião da comissão nacional do partido LUSA/PAULO NOVAIS
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O presidente do PS, Carlos César, disse este sábado que espera que o excedente orçamental, que, sabe o PÚBLICO, deverá ficar acima de 1% do PIB e dos 0,8% previstos pelo Governo, “não seja um excesso” e reafirmou que, tal como já disse Pedro Nuno Santos, é “praticamente impossível” que os socialistas venham a viabilizar um Orçamento do Estado que replique o cenário macroeconómico que a AD apresentou durante a campanha eleitoral.

À chegada para a reunião da comissão nacional do partido, em Viseu, e questionado sobre se o excedente orçamental acima do estimado terá prejudicado o PS nos resultados eleitorais por não ter sido utilizado para corresponder às exigências de algumas classes profissionais, Carlos César deixou uma crítica indirecta à gestão orçamental do Governo socialista ainda em funções: “Tenho dificuldade em responder a isso como presidente do PS. Se eu não fosse, diria apenas que espero que o excedente [orçamental] não seja um excesso.”

O presidente do PS afirmou ainda que concorda com a expressão do secretário-geral do partido de que é “praticamente impossível” viabilizar o Orçamento do Estado que a AD vier a apresentar para 2025.

“É praticamente impossível que venhamos a concordar com um Orçamento do Estado que replicará o cenário macroeconómico que a AD apresentou durante a campanha eleitoral. Cenário de cujas orientações e previsões nós temos uma profunda discordância e [ao qual] não atribuímos grande credibilidade”, prosseguiu.

Carlos César assumiu que o PS está aberto ao diálogo com todas as forças políticas que se inserem “no conceito de respeito pelos direitos democráticos”, pois é essa a obrigação do partido. “O Parlamento, de resto, é isso mesmo. Nós, quer queiramos ou não, estamos em diálogo permanente, activo e dinâmico com todas as forças políticas. E o que é natural é que desse diálogo e dessa vida parlamentar resulte também a necessidade de confrontar com os outros partidos as nossas propostas e verificarmos se nas propostas dos outros partidos há ou não margem para também adicionar a nossa concordância”, frisou.

A comissão nacional do PS realiza-se dois dias depois da reunião da comissão política nacional. O encontro, que decorre à porta fechada e ao qual Pedro Nuno Santos chegou sem prestar declarações aos jornalistas, decorre em Viseu. “É um sinal de que Portugal inteiro é mesmo todo o Portugal e a vinda aqui a Viseu representa justamente uma opção e uma demonstração simbólica dessa intenção”, justificou Carlos César.

Na sequência das declarações do presidente do PS, e já no final da reunião, Pedro Nuno Santos reforçou que o governo ainda em exercício deixou uma boa condição orçamental que deve ser aproveitada de imediato. “Temos, neste momento, uma situação económica e financeira que nos permite dar o passo em frente e queremos dar esse passo e estamos disponíveis para que ele seja dado sem calculismos partidários”, assegurou.

O secretário-geral lembrou que o PS se disponibilizou para ser parte da solução em matérias onde há acordo. “Se há consenso, praticamente de todos os partidos, sobre a necessidade de valorizar vários grupos da administração pública, isso que seja feito quanto antes, não há nenhuma razão para se estar a adiar”, acrescentou.

Pedro Nuno diz que está para ficar

Durante a reunião, ao que o PÚBLICO conseguiu apurar, o secretário-geral socialista deixou claro aos membros da comissão nacional que não é um líder de transição e que está para ficar, preparando-se para reforçar a sua posição enquanto líder para os combates dos próximos anos.

O próprio Pedro Nuno Santos confirmou essa ideia no fim da reunião. “Eu não falo daquilo que nós discutimos dentro da comissão nacional. É evidente que sou, neste momento, secretário-geral do PS e o trabalho que faço é para que o partido consiga reconstruir uma maioria que permita voltar a governar Portugal”, disse aos jornalistas.

Questionado sobre se já tinha ligado a Luís Montenegro, presidente do PSD, para indicar os dois nomes do PS para negociar um eventual orçamento rectificativo, o secretário-geral anunciou que o fará no início da próxima semana, revelando que também o líder da AD não lhe ligou. “Julgo que Luís Montenegro está concentrado na formação do governo e, por isso, devemos respeitar esse tempo, que é o do primeiro-ministro [indigitado] fazer a sua equipa.”

Notícia actualizada com declarações de Pedro Nuno Santos

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