O que se sabe sobre o atentado terrorista em Moscovo

É o atentado mais mortífero dos últimos 20 anos na Rússia. Quem são os atacantes que levaram a cabo o ataque de sexta-feira em Moscovo?

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Uma imagem do edifício alvo do atentado de sexta-feira, depois do incêndio, fornecida pelas autoridades russas EPA/RUSSIAN EMERGENCIES MINISTRY HANDOUT
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Homens armados invadiram a sala de concertos Crocus City Hall em Moscovo​, na sexta-feira, matando pelo menos 133 pessoas e ferindo muitas dezenas. Este é o ataque mais mortífero na Rússia desde o cerco à escola de Beslan, em 2004, onde morreram mais de 300 reféns, metade dos quais crianças.

Como se desenrolou o ataque

Quatro homens, armados com armas automáticas Kalashnikov, chegaram à sala de concertos Crocus City Hall por volta das 19h40 (16h40 GMT) numa carrinha. Para a noite de ontem estava agendado um concerto do grupo de rock Piknik, numa sala capaz de acomodar milhares de pessoas — tinham sido vendidos mais de 6000 bilhetes para o concerto, segundo dados citados pela BBC.

Dirigiram-se calmamente para os detectores de metais da sala e começaram a disparar à queima-roupa, em rajadas curtas, contra civis.

Um vídeo cuja veracidade já foi verificada mostra as pessoas a correrem para as saídas enquanto se ouvem tiros e muitos gritos. Os atacantes atravessaram a sala de espectáculos sempre a disparar contra civis.

Os investigadores russos dizem que os homens começaram então a deitar fogo ao edifício. Algumas testemunhas dizem que os atacantes derramaram uma espécie de líquido sobre os assentos e cortinas em vários sítios antes de os incendiarem.

O fogo espalhou-se rapidamente, sem que os bombeiros conseguissem entrar, devido ao ataque, e parte do telhado desabou.

De acordo com alguns relatos, citados pela BBC, o ataque durou cerca de 20 minutos.

Número de vítimas

O último balanço do comité de investigação da Rússia aponta para 133 mortos, mas Margarita Simonyan, jornalista da televisão estatal russa e directora do Russia Today, já disse que o número de mortos era 143.

O governador da região de Moscovo, Andrei Vorobyov, avisou entretanto que o número de mortos deverá aumentar “significativamente” e que os trabalhos no local iriam “continuar durante pelo menos mais alguns dias”.

Haverá ainda 121 pessoas hospitalizadas, com cerca de 60, incluindo crianças, em estado grave ou muito grave, segundo o diário britânico The Guardian.

Quem reivindicou o atentado?

O Daesh (autoproclamado Estado Islâmico), o grupo que outrora procurou controlar vastas áreas do Iraque e da Síria, reivindicou a responsabilidade pelo ataque, através da agência Amaq, ligada aos islamistas, no Telegram, cerca de quatro horas após o início do ataque.

"O ataque surge no contexto de uma guerra violenta entre o [autoproclamado] Estado Islâmico​ e os países que lutam contra o Islão", acrescentou a Amaq, citando fontes de segurança.

Os Estados Unidos terão informações que confirmam a reivindicação do Daesh, afirmaram duas fontes norte-americanas na sexta-feira.

Os responsáveis disseram que os Estados Unidos tinham avisado a Rússia nas últimas semanas sobre a possibilidade de um ataque — uma medida que, segundo eles, levou a embaixada dos EUA em Moscovo a emitir um aviso aos americanos.

Os avisos dos EUA

Há duas semanas, a embaixada dos Estados Unidos na Rússia avisou que "extremistas" tinham planos iminentes para um ataque em Moscovo.

Horas antes do aviso da embaixada, o FSB [Serviço Federal de Segurança] afirmou ter frustrado um ataque a uma sinagoga de Moscovo por parte da filial do Daesh no Afeganistão, conhecida como Daesh-Khorasan​ ou Daesh-K, que quer estabelecer um califado no Afeganistão, Paquistão, Turquemenistão, Tajiquistão, Uzbequistão e Irão.

"Avisámos os russos de forma adequada", disse um dos responsáveis norte-americanos, sob condição de anonimato.

Quem são os atacantes?

O FSB afirma ter detido 11 pessoas, incluindo os quatro homens que levaram a cabo o ataque — as autoridades dizem que os suspeitos não são cidadãos russos.

Os meios de comunicação social russos dizem que os homens fugiram do local num carro branco e que foram detidos na região de Bryansk, cerca de 340 km a sudoeste de Moscovo.

Alguns dos suspeitos foram interrogados na berma da estrada, segundo imagens publicadas pelos meios de comunicação social russos e por canais de Telegram com ligações estreitas ao Kremlin.

"Eu matei pessoas", diz um dos suspeitos, com as mãos atadas e o cabelo preso por um interrogador, com uma bota preta debaixo do queixo, num russo com muito sotaque. Diz chamar-se Shamsutdin Fariddun e ter nascido a 17 de Setembro de 1998.

Quando lhe perguntam porquê, responde: "Por dinheiro." O homem diz que lhe tinha sido prometido meio milhão de rublos (cerca de 5000 euros) através do Telegram, onde tinha estado a ouvir um pregador.

O suspeito confirma ter estado na Turquia a 4 de Março, onde lhe indicaram o local para ir buscar as armas para o ataque.

Outro dos suspeitos, com a cara ferida e cortada, é mostrado a falar através de um tradutor tajique. Um outro suspeito é levado para uma floresta, com o rosto coberto de sangue devido a um ferimento.

A reacção de Putin

O Presidente russo, Vladimir Putin, disse num discurso à nação que os quatro homens que atacaram um concerto perto de Moscovo se dirigiam para a Ucrânia quando foram detidos e que esperavam atravessar a fronteira.

"Tentaram esconder-se e deslocaram-se para a Ucrânia, onde, de acordo com dados preliminares, foi preparada uma janela do lado ucraniano para atravessarem a fronteira estatal", disse Putin.

Putin classificou o inimigo como "terrorismo internacional" e disse que estava pronto a trabalhar com qualquer Estado que o quisesse derrotar.

A Ucrânia nega qualquer envolvimento no ataque. O porta-voz dos serviços secretos militares ucranianos, Andriy Yusov, disse à Reuters: "A Ucrânia não esteve, obviamente, envolvida neste ataque terrorista".

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