Mães proíbem brincadeiras ao ar livre por causa da poluição do ar no Vietname

As emissões de veículos, as indústrias e as más práticas de gestão de resíduos, incluindo a queima de lixo, estão entre as principais fontes de poluição em Hanói. Tudo isto causa problemas de saúde.

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Além da poluição do ar, a poluição das águas e a falta de qualidade da água também afecta os habitantes de Hanói LUONG THAI LINH/EPA
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Nga Trang praticamente deixou de sair à rua durante a tarde e proíbe os filhos de brincarem ao ar livre depois da escola. A culpa é da poluição do ar, provocada pela queima de lixo, que está a piorar no seu bairro em Hanói, sobretudo ao final da tarde.

Natural de Hanói, Nga, 44 anos, é um dos muitos residentes da capital do Vietname cuja rotina diária está a ser alterada pela forte poluição atmosférica, que, segundo um relatório mundial divulgado na terça-feira, está a piorar.

O relatório anual da IQAir, uma organização suíça de tecnologia de qualidade do ar, concluiu que Hanói foi uma das piores capitais do mundo no ano passado em termos de qualidade do ar. Nessa lista, Portugal está entre os países com melhor qualidade do ar.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), em declarações à Reuters, afirmou que, numa estimativa conservadora, cerca de 60.000 mortes no país de 100 milhões de habitantes estão relacionadas anualmente com a poluição atmosférica. Os peritos alertam para o facto de a poluição ter também impacto no turismo e em toda a economia.

Nga recolheu dezenas de assinaturas no início deste mês para impedir a queima de resíduos num local perto do seu apartamento, num bairro densamente povoado. "Isto afecta-nos de forma mais directa do que outras fontes de poluição, já que podemos cheirá-la e vê-la todos os dias", afirmou.

As emissões de veículos, as actividades industriais e as más práticas de gestão de resíduos, incluindo a queima de lixo, estão entre as principais fontes de poluição de Hanói, afirmou a representante da OMS no Vietname, Angela Pratt, instando o Vietname a considerar a possibilidade de estabelecer níveis máximos aceitáveis de poluentes atmosféricos.

Os ministérios da saúde e do ambiente do Vietname e as autoridades de Hanói não responderam aos pedidos de comentários e de dados sobre a incidência de doenças relacionadas com a poluição na cidade de mais de 8 milhões de habitantes.

Num relatório de 2021, o Ministério do Ambiente afirmou que as doenças respiratórias eram responsáveis por 11% das mortes no Vietname, com custos relacionados com cuidados de saúde estimados em cerca de 81 milhões de dólares anuais só em Hanói (cerca de 74,7 milhões de euros).

A cidade tem estado frequentemente no topo da lista global diária do IQAir das cidades mais poluídas este ano. No ano passado, registou uma concentração média de pequenas e perigosas partículas em suspensão no ar, conhecidas como PM 2,5, quase nove vezes superior aos limites recomendados pela OMS, segundo o IQAir. Tal fez com que se tornasse a oitava pior capital entre as 114 monitorizadas.

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Golpe na economia

Para além da saúde, o smog está também a ter um impacto negativo no turismo, que representou mais de 6% do produto interno bruto (PIB) do Vietname no ano passado, segundo o Ministério do Ambiente.

O médico de medicina do viajante Amornphat Kitro, que estudou os riscos para a saúde dos turistas no Sudeste Asiático, disse que as chegadas de estrangeiros à cidade de Chiang Mai, no norte da Tailândia, ocorrem nos meses de maior poluição, enquanto os expatriados residentes saem frequentemente nesses períodos.

Giovanna Macchi, 48 anos, uma cidadã italiana que vive em Hanói há sete anos, disse que limita as actividades ao ar livre dos seus filhos, sai da cidade sempre que pode e diz aos amigos para não visitarem a cidade nos períodos de maior poluição. "Estamos mesmo a pensar sair de Hanói por causa da poluição do ar", disse ainda.

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