Há mais estrangeiros a obter crédito e metade são brasileiros

Dados do BdP permitem ver o perfil de quem contraiu crédito no ano passado. O peso dos devedores estrangeiros aumenta pela segunda vez. Em 2023, menos 30 mil pessoas conseguiram crédito.

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Banco de Portugal actualizou dados de 2023 sobre novo crédito, incluindo empréstimos para a compra de habitação Manuel Roberto/Arquivo
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Há mais estrangeiros a conseguir crédito junto da banca e metade destes devedores tem nacionalidade brasileira, revelam dados actualizados esta quinta-feira pelo Banco de Portugal. A percentagem dos devedores estrangeiros, que obtiveram novos créditos no ano passado, voltou a aumentar, atingindo 13,5% do total de novos devedores, com os de nacionalidade brasileira a representarem metade deste universo. A importância dos devedores estrangeiros é particularmente evidente no novo crédito para a compra, construção ou obras numa segunda casa, bem como arrendamento e compra de terreno para construção de casa.

"O peso dos devedores estrangeiros no total de pessoas que obtiveram novos créditos voltou a subir: passou de 8,2% em 2021 para 10,6% em 2022 e, em 2023, fixou-se em 13,5%", diz a autoridade monetária, o que significa que o peso dos estrangeiros era no ano passado 1,6 vezes superior ao registado em 2021.

Os números absolutos também apontam para um aumento do universo de estrangeiros. Tendo em conta o número total de pessoas que obteve crédito em cada um dos anos (e que rondou os 1,4 milhões em 2021 e os 1,6 milhões em cada um dos anos seguintes), o número total de estrangeiros que conseguiu crédito foi de 115.080 em 2021, 169.600 em 2022 e 215.840 em 2023. Isto significa que, entre 2021 e 2023, o número de estrangeiros que obteve empréstimos junto da banca aumentou em cerca de 100 mil pessoas.

Na mesma nota, o banco acrescenta que, "em 2023, metade destes devedores tinha nacionalidade brasileira". O peso dos devedores de nacionalidade brasileira já era igual a metade do universo de devedores estrangeiros no ano anterior.

Nesta caracterização do perfil dos credores que em 2023 obtiveram crédito, o banco central acrescenta que o número de homens a conseguir novo crédito "voltou a ser superior" ao de mulheres, quando se analisam todos os tipos de crédito. No entanto, no crédito à habitação "foi semelhante".

Em termos globais, "as instituições financeiras em Portugal realizaram dois milhões de novos contratos de crédito, com 1,6 milhões de pessoas, num total de 25 mil milhões de euros. O número de novos contratos foi semelhante ao de 2022, mas o montante total decresceu 11%".

Menos pessoas no crédito para habitação própria

Numa análise aos tipos de crédito concedido no ano passado pelos bancos, a instituição liderada por Mário Centeno avança que 117 mil pessoas conseguiram obter empréstimos para habitação própria permanente, o que representou uma descida de 30 mil face a 2022. Esta é uma tendência diferente da registada em 2022 quando o número de pessoas a conseguir crédito para habitação própria permanente aumentou em duas mil face a 2021. Uma evolução que não terá sido alheia à escalada das taxas de juro pelo Banco Central Europeu, com impacto nas taxas de juro Euribor contratadas.

Voltando a 2023, e ao universo de novos credores de para habitação própria e permanente, das 117 mil pessoas "42% tinham entre 31 e 40 anos. A maioria trabalhava por conta de outrem e tinha um nível de escolaridade superior. Metade residia nas regiões da Grande Lisboa, Área Metropolitana do Porto e Península de Setúbal". O banco analisa ainda os montantes de novo crédito contratado. "Metade dos novos créditos à habitação própria permanente tinha valor igual ou inferior a 117 mil euros; 70% foram inferiores a 150 mil euros e apenas 4% superaram os 300 mil euros."

Quanto ao outro crédito à habitação (no qual são considerados os empréstimos para compra, construção e obras em habitações secundárias ou para arrendamento, ou compra de terrenos para construção de habitação), os dados do banco permitem concluir pelo elevado peso dos estrangeiros neste tipo de crédito. "Do total de devedores de outro crédito à habitação contratado em 2023, 26% eram estrangeiros, maioritariamente originários de Angola, do Brasil, dos EUA e do Reino Unido. Em 2021, esta percentagem tinha sido de 17%". Ou seja, mais de um quarto deste tipo de novo crédito segue para estrangeiros.

Olhando para os montantes deste tipo de crédito, observa-se que "40% do montante total do outro crédito à habitação foi concedido a estrangeiros. Uma análise por região mostra que esta proporção foi de 71% no Algarve, 47% na Grande Lisboa e 32% na Área Metropolitana do Porto".

O banco revela ainda que em 2023, 578 mil pessoas contraíram um crédito pessoal, 253 mil pessoas contraíram crédito automóvel (mais 15 mil do que em 2022). "Dos novos contratos de crédito automóvel, 75% foram inferiores a 20 mil euros e apenas 1% superou os 50 mil euros". "9% do crédito pessoal e 13% do crédito automóvel foi concedido a estrangeiros".

Notícia actualizada com números absolutos de estrangeiros que contraíram crédito junto da banca em 2021, 2022 e 2023

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