Países de Leste a ultrapassar Portugal no PIB, mas ainda longe no bem-estar

Para analisar o que está para lá do PIB na análise do nível de vida das populações, o Banco de Portugal calculou um índice de bem-estar que coloca Portugal ainda 30 pontos acima da Roménia.

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Índice de bem-estar em Portugal tem vindo a recuperar face à média europeia Paulo Pimenta
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Portugal está a ser apanhado, e em diversos casos ultrapassado, pelos países do centro e do Leste da União Europeia no valor do seu produto interno bruto (PIB) per capita, mas no que diz respeito aos índices de bem-estar, a vantagem portuguesa ainda continua a ser muito significativa.

Os cálculos são feitos pelo Banco de Portugal, que, num estudo em que mede a forma como os níveis de bem-estar evoluíram no país em comparação com os outros Estados-membros da União Europeia (UE), conclui que nas últimas três décadas Portugal registou uma evolução positiva neste capítulo, devido não à evolução do consumo, mas sim de outros indicadores, como a esperança de vida.

A ideia por trás da análise feita pelo banco central é a de que analisar o nível de vida dos cidadãos de um país utilizando como indicador o PIB per capita em paridades de poder de compra (isto é, corrigido pelos diferenciais de preços entre países), como é feito habitualmente, deixa de fora “dimensões relevantes do bem-estar, como a saúde, a educação, o lazer ou a qualidade do meio ambiente.

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Para resolver isso, os economistas do Banco de Portugal decidiram, no estudo publicado esta quarta-feira, utilizar um índice de bem-estar proposto em 2016 por dois economistas norte-americanos, Charles Jones e Peter Klenow, que leva em conta não o PIB per capita, mas quatro outras medidas: o consumo per capita, a esperança de vida, as horas de lazer e o nível de desigualdade da população.

Neste índice, mostra o estudo do banco central, Portugal consegue apresentar um valor mais próximo da média da UE do que aquilo que acontece com o PIB per capita. O índice de bem-estar português em paridade do poder de compra situava-se, em 2022, em 87% da média da UE. Já no que diz respeito ao PIB per capita em paridade do poder de compra, o resultado obtido por Portugal fica-se pelos 79%.

Portugal continua, mesmo no índice de bem-estar, a ficar atrás da quase totalidade dos países mais antigos da UE. A Espanha apresenta um valor de 104%, a França de 121% e Portugal supera apenas a Grécia, que fica com 76%.

No entanto, fica ainda consideravelmente acima dos países do centro e Leste da Europa que aderiram mais recentemente. O primeiro é a República Checa, que regista no índice de bem-estar um valor de 74% da média da UE, 13 pontos percentuais abaixo de Portugal.

É um cenário muito distinto do que ocorre no caso do PIB per capita em paridade dos poderes de compra, em que Portugal já estava, em 2022, abaixo da República Checa, da Estónia e da Lituânia e tinha todos os outros países muito próximos, com excepção da Bulgária.

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O caso da Roménia tem sido particularmente debatido, devido à ultrapassagem que pode fazer a Portugal no que diz respeito ao nível do PIB per capita. Em 2022, o PIB per capita romeno era de 76% da média europeia, a apenas três pontos dos 79% de Portugal.

Mas, olhando para o índice de bem-estar calculado pelo Banco de Portugal, a Roménia fica muito distante, com apenas 57% da média europeia, isto é, 30 pontos percentuais a menos que Portugal.

O contributo da esperança de vida

O principal contributo para que Portugal compare melhor com os seus parceiros europeus no índice de bem-estar do que no PIB per capita está no resultado bastante positivo que o país regista ao nível da esperança de vida (o indicador usado para medir a qualidade de vida das pessoas e, por exemplo, a qualidade da prestação de serviços a que têm acesso), que, apesar de uma descida em 2022, está acima da média europeia, ao contrário do que acontece com o consumo per capita, o tempo de lazer ou a igualdade de rendimentos.

É também a evolução ao longo dos últimos 30 anos da esperança de vida em comparação com a média da UE que compensa uma evolução ligeira negativa nos outros indicadores, incluindo o consumo per capita, e permite que, feitas as contas, o índice de bem-estar em paridade dos poderes de compra tenha passado de 77% da média da UE em 1995 para 87% em 2022, mesmo apesar da descida acentuada registada entre 2009 e 2012, entretanto recuperada. Já no que diz respeito ao PIB per capita, Portugal passou de 81% em 1995 para 79% em 2022.

De notar, contudo que, embora a diferença para a generalidade dos países de Leste seja neste momento significativa, também no índice de bem-estar a sua subida tem vindo a ser, nas últimas décadas, mais rápida do que a portuguesa, que tem vindo a ser feita a ritmo moderado. E que faz apontar para, num futuro ainda distante, uma convergência com a média da UE.

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