Quais são os sete sinais da depressão funcional? Este vídeo viral explica

“Depressão funcional” é um tópico popular no TikTok e no YouTube, com milhões de espectadores. Mas o que é? E quais são os sintomas?

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O termo depressão funcional "está em sintonia com o facto de a depressão poder estar bastante escondida" Getty Images
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O terapeuta Jeffrey Meltzer vê, quase todos os dias, clientes que sofrem de depressão "funcional" — por isso, decidiu publicar um vídeo sobre o assunto no TikTok. Deu que falar. O vídeo conta com mais de oito milhões de visualizações e 5000 comentários.

"Descreve-me perfeitamente", escreveu uma pessoa.

"Será que alguma vez vai desaparecer?", respondeu outra.

"Alguém me pode dizer como resolver isto?", escreveu uma terceira.

Meltzer, que atende clientes presencialmente e remotamente em Bradenton, na Florida, acredita que uma depressão nem sempre é óbvia. "Há o mito" de que alguém com depressão mal consegue sair da cama de manhã, defende. "Conseguem viver uma vida normal, podem ir trabalhar, podem fazer todas essas coisas. Mas, no fundo, sentem-se muito em baixo, muito vazios ou solitários."

A reacção ao vídeo de Meltzer é "um enorme sinal de alerta para as necessidades de saúde mental que não estão a ser satisfeitas", afirma Jon Rottenberg, professor de Psicologia da Universidade do Sul da Florida que estudou a direcção e o prognóstico da depressão.

O termo depressão funcional "está em sintonia com o facto de a depressão poder estar bastante escondida", disse Rottenberg. "As pessoas podem acalentá-la durante muito tempo antes de procurarem ajuda."

A depressão funcional não é um diagnóstico ou um distúrbio clínico reconhecido, e não aparece no Manual de Diagnóstico e Estatística de Perturbações Mentais, o guia oficial na área da saúde mental.

Não se sabe ao certo como é que este termo foi criado, mas "depressão funcional” é um tópico popular no TikTok e no YouTube, e atrai milhões de espectadores. Ganhou força nas redes sociais em 2022, depois de Cheslie Kryst, ex-Miss EUA, se ter suicidado. Em declarações aos meios de comunicação, a mãe de Kryst disse que a filha vivia com uma depressão funcional "que escondeu de todos".

Alguns profissionais de saúde dizem que o termo pode ser enganador e pode resultar de uma falta de compreensão sobre as diferentes perturbações de saúde mental, mas outros terapeutas e especialistas em saúde mental dizem que o termo tem ajudado as pessoas a perceber que a depressão nem sempre é óbvia.

Pode ajudar a pensar na depressão de uma forma que "pode ser diferente" dos sintomas estereotipados que as pessoas associam à doença, acredita Vaile Wright, psicóloga e directora de inovação nos cuidados de saúde da Associação Americana de Psicologia.

"Não existe uma depressão única para todos", disse Wright. "Em crianças e adolescentes, é mais irritabilidade. O mesmo acontece com os homens; é muito mais sobre raiva e abuso de substâncias."

No vídeo viral do TikTok, Meltzer apresenta sete sinais que, segundo ele, podem indicar uma depressão funcional. Estes sintomas podem ser os de uma depressão, de acordo com outros especialistas em saúde mental que viram o vídeo de Meltzer.

"Toda a gente pode sentir essas coisas", disse Srijan Sen, professor e director executivo do Centro de Depressão da Família Eisenberg da Universidade de Michigan. "Destacar isso e fazer com que as pessoas saibam que não são as únicas a sentir isso tem valor."

A depressão é "uma colecção de sintomas" com algum grau de tristeza ou melancolia, refere Wright da APA. Dormir demasiado ou muito pouco, ser incapaz de se concentrar, comer demasiado ou muito pouco e "um sentimento de desespero" podem ser sinais de depressão.

Pankhuri Aggarwal, investigadora clínica da Madigan Family no Family Institute da Northwestern University, afirma que não quer que as pessoas se diagnostiquem com base numa lista de indícios ou sintomas que encontram online: "É muito importante que venham falar com um profissional de saúde mental."

Há dois critérios que são "cruciais na depressão". Ou te sentes em baixo — ou "triste" — ou não encontras alegria em actividades que antes consideravas divertidas.

"Antes, gostavas muito de nadar, mas agora, apesar de continuares a nadar, já não sentes o mesmo nível de prazer que sentias antes", ilustra Aggarwal. "Continuamos a fazer a mesma actividade. Só que já não nos traz o mesmo nível de excitação, de energia, que costumava trazer."

Aggarwal disse que o termo “depressão funcional” se refere a pessoas que se sentem deprimidas, mas que não o mostram a amigos ou familiares — podem estar a tentar suprimir a sua depressão porque "não querem colocar esse fardo sobre outras pessoas".

"Talvez não seja seguro exprimir a depressão no ambiente, na comunidade ou no grupo em que estás inserido”, afirma. "Não se pode necessariamente ir ter com o chefe e dizer que se está deprimido."

Isabella, estudante de pós-graduação de 25 anos que foi diagnosticada com depressão há uma década, disse que ouviu falar pela primeira vez de depressão funcional no secundário num vídeo no YouTube. Agora, usa o termo para explicar o seu diagnóstico a amigos e terapeutas. Pediu que não usássemos o seu nome completo para proteger a sua privacidade.

O termo proporciona uma sensação de conforto "de que é algo que posso superar", disse Isabella. "Eu posso fazer isso e posso ter sucesso."

"Todo o aspecto de ser hiperfuncional deu-me muita esperança", disse ela. "Posso ser uma pessoa normal que vive a sua vida e tem os seus sucessos, e a depressão é, de certa forma, algo em que só penso depois."

Sen recomenda que as pessoas procurem a ajuda de um médico quando o stress, a depressão e a ansiedade começam a afectar a vida quotidiana. Wright disse que, "para a maioria das pessoas", isso vai começa com o médico de família.

Os vídeos das redes sociais podem ser úteis para ajudar as pessoas a reconhecer os seus sintomas e a perceber que a depressão "não tem apenas uma faceta", disse Rottenberg. O autodiagnóstico através da visualização de vídeos no TikTok pode ser "um primeiro passo importante" para procurar ajuda profissional, disse ele.

"Duas pessoas diferentes podem ter depressão, com sintomas muito diferentes", descreveu Rottenberg. "Desde a pessoa que está de rastos até à pessoa que consegue apresentar-se ao trabalho e produzir um produto de primeira qualidade, ambas estão deprimidas. Ambas estão a lutar."


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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