“Não é não”. E a vitória do PS cada vez mais longe

Pedro Nuno dos Santos tropeçou na estratégia da AD, que lhe devolveu a questão problemática de uma extrema-direita em crescimento.

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Embora com o resultado ainda em aberto, face ao elevado número de indecisos, a AD, de Luís Montenegro, caminha de forma razoavelmente consistente para ganhar as eleições sem maioria, mesmo com uma eventual aliança com a IL. O PS e Pedro Nuno dos Santos deixaram-se enredar primeiro com o diabo e André Ventura, depois com o longínquo tempo da troika e por fim com o legado de António Costa e os oito anos de governo do PS que implodiu, de forma inexplicável, uma maioria absoluta.

As insuficientes medidas que conduziram ao falhanço nas políticas de Saúde, Educação e Habitação, mas também com sinais de fragilidades estruturais na Segurança e Justiça, estão a ser suficientes para um manifesto desejo de mudança com renovada esperança. O PS foi longe demais na criação de fantasmas e medos, na “intimidade política” com as esquerdas mais radicais, afastando o eleitorado moderado e, por isso, tropeçando nestas questões, sem conseguir explicar, por falta de tempo e espaço, o seu programa e o falhanço da maioria absoluta que excecional e generosamente lhe foi dada.

Pela forma como tudo foi sucedendo, as opções ficaram, bem cedo, muito claras: ou o PS ganha e consegue uma maioria de deputados com as esquerdas mais radicais e governa, ou ganha a AD de Luís Montenegro e governa com a IL muito provavelmente sem maioria no Parlamento. O Chega fica afastado das prováveis soluções saídas de 10 de março e, esse facto, passou a ser o momento clarificador de uma situação que se apresentava confusa e perturbadora e, há que o assumir, foi servindo ao PS.

O “não é não” de Montenegro foi decisivo. Pedro Nuno dos Santos tropeçou na estratégia da AD, que lhe devolveu a questão problemática de uma extrema-direita em crescimento, passando a “bola” para o adversário e esvaziando a argumentação do PS. Com este precipitado gesto, Pedro Nuno Santos comete dois erros que poderão ser fatais: afasta o eleitor do centro que vota em função da conjuntura; e desvaloriza demasiadamente o voto útil no PS sem beneficiar, eleitoralmente, os seus aliados das esquerdas.

Afastado o fantasma da extrema-direita, o medo do diabo e sem conseguir explicar as falhas dos anteriores governos, o PS deixou todo o espaço disponível para Luís Montenegro gerir moderadamente a agenda e deixar caminho aberto para uma mudança, preparando-se para governar, sem maioria, com a IL.

Montenegro sabe que, normalmente, quem derruba um governo, mesmo minoritário, paga uma pesada fatura eleitoral. Por isso, só aposta em dois resultados na noite de domingo: ganhar as eleições e impedir uma maioria de deputados do PS com as esquerdas. Se isto assim for, nem o diabo ou André Ventura, nem a troika ou Passos Coelho, nem mesmo o arrogante “habituem-se”, de António Costa, podem valer ao PS de Pedro Nuno dos Santos.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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