Clima tem de ocupar lugar central no financiamento do desenvolvimento, diz ONU

“Em qualquer área de desenvolvimento, qualquer programa tem de conter disposições sobre mais resiliência climática”, afirmou Claver Gatete, secretário executivo da UNECA.

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Gatete mencionou a troca de títulos de dívida por investimentos climáticos e obrigações verdes ou azuis para financiar o desenvolvimento Fabian Bimmer/REUTERS
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O secretário executivo da Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA) defendeu na terça-feira que o clima tem de ocupar um lugar central em qualquer programa de desenvolvimento e financiamento da resiliência dos países africanos.

"Em qualquer área de desenvolvimento, qualquer programa tem de conter disposições sobre mais resiliência climática, temos de encontrar mecanismos inovadores de financiamento, como a troca de títulos de dívida por investimentos climáticos e obrigações verdes ou azuis para financiar o desenvolvimento", disse Claver Gatete, referindo-se à emissão de dívida com objectivos ambientais.

Na conferência de imprensa que assinala o encerramento da reunião dos ministros das Finanças africanos, que decorreu até terça-feira em Victoria Falls, no Zimbabwe, o responsável defendeu que África tem de ter uma voz unificada nos encontros internacionais em que se debate a reformulação da arquitectura do sistema financeiro global e insistiu que o actual modelo não serve os interesses de África.

Respondendo a uma questão da Lusa sobre o grau de confiança na realocação dos Direitos Especiais de Saque emitidos pelo Fundo Monetário Internacional para dar liquidez aos países mais necessitados, Claver Gatete mostrou-se esperançado que os próximos Encontros da Primavera, em Washington, possam ser um passo nessa direcção.

"Só podemos estar confiantes sobre aquilo que controlamos, nós só recebemos 4% do total dos 650 mil milhões de dólares emitidos pelo FMI, e o pedido de África é permitir que o dinheiro seja realocado dos países mais ricos que não precisam, para os bancos multilaterais de desenvolvimento, que podiam alavancar as verbas recebidas por três ou quatro vezes", explicou o líder da UNECA.

Esta realocação "podia resolver o problema agora" enquanto se procuram "soluções de longo prazo, porque o Banco Africano de Desenvolvimento e o Banco Interamericano de Desenvolvimento conhecem bem o negócio do financiamento e são capazes de atrair mais dinheiro do sector privado e emprestar a taxas concessionais aos países africanos", acrescentou Claver Gatete.

O responsável concluiu que as propostas estão a ser apresentadas e que "a esperança é que nos próximos Encontros da Primavera do FMI e do Banco Mundial haja alguma decisão sobre a direcção que se pode seguir relativamente a esta questão".

A reunião dos ministros das Finanças, a primeira desde que a União Africana ganhou um lugar permanente no G20, serviu para definir a posição africana, que será depois debatida no Fórum Regional Africano sobre o Desenvolvimento Sustentável, em Abril, e levada pela União Africana à Cimeira do Futuro, em Setembro, nas Nações Unidas.

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