Tati Bernardi é a convidada do Encontro de Leituras de Março

Clube de leitura do PÚBLICO e da revista brasileira Quatro Cinco Um discute a 12 de Março as crónicas de Homem-objeto e outras coisas sobre ser mulher.

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A escritora, argumentista e cronista brasileira Tati Bernardi Renato Parada
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Já admitiu que escrever talvez a salve diariamente de “enlouquecer de verdade”. Costuma dizer que Freud, Lacan, Winnicott e Klein fizeram mais por ela do que 99% da sua família e dos seus amigos. Para combater angústias, complexos, crises existenciais, ataques de pânico e de ansiedade, medos, fobias, neuroses e manias, usou e abusou de medicamentos e de sessões de terapia. Valeu-se da sua autobiografia para fazer literatura e, como já o faz há algumas décadas, sabe bem os riscos que isso acarreta.

A escritora, cronista e argumentista Tati Bernardi, que desde 2013 escreve semanalmente crónicas no jornal brasileiro Folha de S. Paulo, é a convidada do próximo Encontro de Leituras, o clube de leitura do PÚBLICO e da revista brasileira Quatro Cinco Um. A sessão terá lugar a 12 de Março, às 22h de Portugal (19h no Brasil). Como habitualmente, o encontro no Zoom é aberto a todos os que queiram participar. A ID é a 821 5605 8496 e a senha de acesso 719623, a partir deste link.

A jornalista Isabel Coutinho, responsável pelo site do PÚBLICO dedicado aos livros, o Leituras, e Paulo Werneck, director de redacção da revista Quatro Cinco Um, co-apresentam este evento destinado a leitores de língua portuguesa e no qual se discutem romances, ensaios, memórias, literatura de viagem e obras de jornalismo literário na presença de um escritor, editor ou especialista convidado.

Em discussão vai estar o segundo livro de crónicas de Tati Bernardi, Homem-objeto e outras coisas sobre ser mulher, publicado no Brasil em 2018, pela Companhia das Letras, e em Portugal, pela sua editora portuguesa, a Tinta-da-china, no final do ano passado. A primeira antologia das suas crónicas, Depois a louca sou eu, saiu em 2016 no Brasil e em Portugal. Nelas, é “como se a tampa da cabeça de Tati Bernardi fosse desatarraxada para que os fãs bisbilhotassem à vontade lá dentro”, escreveu há anos o jornalista brasileiro Otavio Frias Filho (1957-2018), que via em Bernardi uma “adepta da mais drástica intensidade narrativa” e a definia como uma argumentista de telenovelas que “em segredo” é discípula de Kierkegaard.

Tati Bernardi nasceu em 1979, em São Paulo, onde vive actualmente. Formou-se em Propaganda e Marketing e, depois de trabalhar durante anos em agências de publicidade como a W Brasil, a Lew Lara ou a Leo Burnet, abandonou a carreira para se dedicar à escrita. Tem uma pós-graduação em Literatura, Psicanálise e Técnicas de Argumento, foi argumentista de novelas e de programas na Rede Globo durante 15 anos, mas também de “comédias românticas amalucadas” (definição de Otavio Frias Filho).

É autora do livro Meu passado me condena, com histórias e diálogos dos personagens de Fábio Porchat e Miá Mello que surgiram pela primeira vez numa série de televisão da Multishow em 2012, escrita por ela. No ano seguinte, transportou estas personagens para o filme homónimo realizado por Júlia Rezende, que depois deu origem a uma peça de teatro vista por mais de cem mil pessoas. No cinema, houve ainda a sequela Meu Passado Me Condena 2, da mesma realizadora, e também com argumento de Tati Bernardi, em parte rodado em Portugal. Estes filmes levaram mais de 3,5 milhões de espectadores às salas de cinema brasileiras.

Tati Bernardi é também autora de um livro infantil, O Mundo É de Todo o Mundo (ainda não editado por cá), e do romance Você nunca mais vai ficar sozinha, que está esgotado em Portugal. Neste, “narra, com ternura, mas sem abrir mão do humor ácido, as neuras, as obsessões, os medos e o amor desmesurado de uma filha prestes a tornar[-se] mãe”, como resume a agência literária Riff, que representa a escritora. Foi a primeira obra que lançou depois de ter sido mãe. Numa entrevista que deu à Quatro Cinco Um, em 2020, contava que leu entrevistas de vários autores a falar sobre “o preço a pagar” pela autoficção, e por isso decidiu que este livro seria uma ficção pura, sem autobiografia à mistura. E à edição brasileira da Marie Claire admitiu já que, sendo o seu principal material de trabalho a sua vida, é “fácil as pessoas (...) gostarem” dela, mas também a podem “xingar” como se fosse alguém da família.

Filha única de pais divorciados, viveu até aos 26 anos em casa da mãe e agora que é mãe não consegue passar sem a ajuda da “babá”, a ama que sempre achou que não ia precisar de ter. É alguém que coloca nas redes sociais, por exemplo, uma fotografia da cara, com uma pálpebra caída, depois de uma aplicação de botox que teve uma reacção adversa, para que as pessoas saibam que isso pode acontecer. Nos últimos anos, criou vários podcasts. Um deles, Meu Inconsciente Coletivo, teve sete temporadas: começou em 2021 e terminou no final do ano passado. Nele conversava com psicanalistas e psicólogos sobre temas recorrentes nas suas sessões de terapia, mas também sobre “dramas vividos por personagens de grandes livros, filmes e séries”, como definia a Folha de S. Paulo, onde também escreve sobre livros.

No actual Desculpa Alguma Coisa, Tati Bernardi tenta que os seus convidados falem “o que nunca falariam”, “sem medo de ser cancelada”, como o foi quando tinha o podcast Calçinha Larga, que apresentava com Camila Fremder e Helen Ramos e se dedicava a "temas complexos ou piadas infames”.

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