Portugal Fashion está sem data marcada, mas “a trabalhar na próxima edição”

O evento de moda do Porto acontece tradicionalmente na segunda semana de Março, logo após a ModaLisboa. Depois de anunciadas dificuldades de financiamento, não há data marcada para os desfiles.

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Desfile da dupla Marques'Almeida na 52.ª edição do PF Nelson Garrido
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O Portugal Fashion (PF) ainda não tem data marcada para a próxima edição. O evento de moda do Porto, que se tem debatido com problemas de financiamento, deveria acontecer na próxima semana, mas a organização não confirma datas. “Estamos a trabalhar na próxima edição do Portugal Fashion”, respondem ao PÚBLICO.

De acordo com o tradicional calendário de moda e como vem sendo habitual, a 54.ª edição do certame organizado pela Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) deveria acontecer na próxima semana, logo depois da ModaLisboa — que terá lugar de 7 a 10 de Março.

Desde Outubro de 2022 que o PF tem sofrido com o atraso no acesso aos fundos comunitários e o presidente da ANJE, Alexandre Meireles, já tinha confirmado que seria “insuportável” fazer a edição de Março de 2024 nos mesmos moldes. Sem dinheiro da União Europeia, o evento estava a ser suportado por investimento privado, por fundos da ANJE e pelo apoio da Câmara Municipal do Porto, que contribuiu com 150 mil euros na última edição — feita com um orçamento total de 450 mil euros.

É metade do que habitualmente era necessário para realizar o evento (900 mil euros), que se viu obrigado a cortar em detalhes como a localização dos desfiles, o número de modelos ou a ausência da transmissão em directo. A esperança, dizia Alexandre Meireles ao PÚBLICO, é que o apoio o quadro comunitário seja retroactivo, para reembolsar os 1,5 milhões de euros que a organização precisa para fazer face às despesas.

Essa quantia foi assegurada com outros financiamentos de que a ANJE dispõe, nomeadamente para apoio ao empreendedorismo, inovação ou internacionalização — a componente internacional foi o que sempre distinguiu o PF da ModaLisboa, evento-irmão realizado na capital. “Em termos de tesouraria, tivemos de fazer um esforço, mas não conseguimos mais”, declarava o responsável, numa ameaça que agora se concretiza. Alexandre Meireles recusou-se, contudo, a confirmar se a ANJE estaria em risco de se tornar insolvente.

Desde 2016 até 2022, enquanto esteve em vigor o quadro comunitário Portugal 2020, a ANJE recebeu cerca de 20 milhões euros em fundos europeus, de acordo com o mesmo responsável. Nem todo o dinheiro foi usado no PF, certame que, de acordo com um estudo da Universidade Católica Portuguesa, antes da pandemia gerava dez milhões de euros em cada edição e criava 400 postos de trabalho. Ou seja, em quatro anos, o evento gerou um impacto de 45,4 milhões de euros no valor acrescentado bruto português.

Em Outubro passado, Alexandre Meireles avançou que a associação estava a trabalhar com privados para conseguir maior comparticipação do evento, mas sem revelar planos concretos além do já conhecido apoio do Afreximbank, que traz criadores africanos ao PF através do programa Canex.

Desde 1995, o Portugal Fashion já organizou 53 semanas de moda no Porto, sempre em Março e Outubro, e é “casa” para dezenas de criadores nacionais como Alexandra Moura, Miguel Vieira, Pedro Pedro ou Susana Bettencourt, que ficam com os desfiles da nova colecção de Outono/Inverno em suspenso até a organização anunciar nova data.

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