Global Media demite director do Açoriano Oriental por “motivos apenas financeiros”

Nova comissão executiva da Global Media terá apresentado “motivos apenas financeiros” para demitir Rui Pedro Paiva da direcção do Açoriano Oriental. Pondera rescindir contratos mais recentes.

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Demissão de Rui Pedro Paiva sob a alegada política de afastamento dos contratos mais recentes está a causar receios entre os trabalhadores dos restantes títulos da Global Matilde Fieschi
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A demissão de Rui Pedro Paiva, director do jornal Açoriano Oriental desde Janeiro, a 21 de Fevereiro, pela comissão executiva do Global Media Group (GMG) terá ocorrido por "motivos apenas financeiros", em linha com uma estratégia que poderá passar por rescindir os contratos mais recentes, ainda em período experimental, celebrados nos títulos do grupo nos últimos meses, apurou o PÚBLICO junto de fontes próximas do processo.

O afastamento de Rui Pedro Paiva, que foi colaborador da Agência Lusa e correspondente do PÚBLICO nos Açores antes de assumir a liderança do jornal, foi confirmado pelo próprio e por Vítor Coutinho, um dos administradores da nova comissão executiva.

Em declarações ao PÚBLICO, Rui Pedro Paiva confirmou a saída da direcção do Açoriano Oriental e avançou que a demissão "não foi por iniciativa própria", sem querer adiantar mais detalhes. Vítor Coutinho também admitiu a demissão do ex-director daquele título do Global Media, mas não quis prestar mais esclarecimentos sobre o que motivou a demissão de Rui Pedro Paiva, em funções havia apenas um mês e meio, nem se o mesmo acontecerá a outros trabalhadores, remetendo mais esclarecimentos para a altura em que se anunciar a nova direcção do Açoriano Oriental.

A demissão de Rui Pedro Paiva ocorreu na tarde da última quarta-feira, 21 de Fevereiro, quando o então director do jornal foi chamado para uma reunião com Pedro Melo, administrador da Açormedia (que detém 10% do Açoriano Oriental, estando os outros 90% nas mãos do Global Media), apurou o PÚBLICO junto de fontes conhecedoras do processo. Pedro Melo disse que tinha sido mandatado pela comissão executiva do Global Media para demitir ​Rui Pedro Paiva com efeitos imediatos.

Na origem da demissão estiveram "motivos apenas financeiros",​ razão pela qual a comissão executiva decidiu rescindir alguns dos contratos mais recentes do grupo — em particular aqueles que ainda estão em período experimental — para aliviar os encargos financeiros da empresa. Seria esse o caso do contrato celebrado com o agora ex-director do Açoriano Oriental.

A demissão de Rui Pedro Paiva sob a alegada política de afastamento dos contratos mais recentes está a causar receios entre os trabalhadores dos restantes títulos do Global Media Group, que temem agora uma demissão alargada de outros jornalistas ainda em período experimental para aliviar as contas da empresa. Fonte próxima de um dos jornais do grupo confirmou ao PÚBLICO que esse é um medo que já existia antes da saída do director do jornal açoriano — e que, com a demissão de Rui Pedro Paiva, se adensou nas redacções.

Na quinta-feira seguinte, 22 de Fevereiro, o nome de Rui Pedro Paiva já não surgiu no cabeçalho ou na ficha técnica do Açoriano Oriental e o jornalista já não voltou à redacção. Um dia depois, a redacção assinou, na última página do jornal, uma nota que dava conta da saída de Rui Pedro Paiva e informava que Paula Gouveia seria a nova directora interina.

Nas redes sociais, em reacção à demissão de Rui Pedro Paiva, o escritor açoriano Joel Neto classificou o agora ex-director do Açoriano Oriental como "o melhor jornalista açoriano de imprensa desde (pelo menos) Nuno Mendes"; e descreveu a sua demissão como "o fim do Açoriano Oriental" e "o fim da esperança em qualquer espécie de vaga de fundo a favor da liberdade de imprensa nos Açores".

"Todos sabíamos que ia acabar mal. Sempre o soubemos. A questão era se, até lá, se poderia fazer alguma coisa de realmente novo pela imprensa livre (e pela comunicação social livre) nos Açores. Durou ainda menos do que poderiam esperar as piores expectativas", lamentou o autor de obras como Arquipélago (2015) e A Vida no Campo (2016), que lhe valeu o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (APE) de Literatura Biográfica.

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