Manifestação “apartidária” contra o racismo em oito cidades neste sábado

Grupo que travou manifestação anti-islâmica juntou mais de 60 organizações e apela ao “voto contra o racismo”. Daúto Faquirá, Selma Uamusse, José Eduardo Agualusa ou Ana Sofia Martins entre apoiantes.

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Arraial contra o racismo fez o Largo do Intendente abarrotar durante horas Nuno Ferreira Santos
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Mais de 60 organizações juntaram-se para sair à rua e fazer uma manifestação de apelo ao “voto contra o racismo” este sábado. O protesto decorre às 15h em oito cidades: em Braga, no Coreto da Avenida Central; em Coimbra, na Praça 8 de Maio; em Faro, no Coreto do Jardim Manuel Bivar; em Guimarães, no Coreto da Alameda de S. Dâmaso; em Lisboa, na Alameda D. Afonso Henriques, com marcha até ao Martim Moniz; no Porto, na Praça da Batalha; em Viseu, no Parque Aquilino Ribeiro; em Portalegre, na Nave Mãe. O treinador de futebol Daúto Faquirá, a cantora Selma Uamusse, o escritor José Eduardo Agualusa ou a modelo Ana Sofia Martins são alguns dos que aparecem ​em vídeo a apoiar a iniciativa.

Organizado pelo Grupo de Acção Conjunta contra o Racismo, reúne organizações anti-racismo, antifascismo, feministas, pela justiça climática, lgbtqi+, sindicatos ou associações de imigrantes e “juntam-se para sair à rua numa visão interseccional da luta que reconhece o racismo e a xenofobia como um dos maiores atentados ao Estado democrático”, lê-se no comunicado.

Sublinham que não têm qualquer ligação partidária nem ideológica, e [a manifestação] reúne todos aqueles que acham urgente marcar uma posição contra os discursos de ódio que começam a ecoar em alguns partidos do espectro político nacional e internacional”. E sublinham que são bem-vindos” todos os partidos que se revejam nos princípios da democracia e de combate ao fascismo”.

O objectivo é sair à rua para exigir propostas e acções significativas, concretas e eficazes para combater o racismo estrutural e institucional patente na sociedade portuguesa”, dizem, e lutar por um Portugal, uma Europa e um mundo mais inclusivos e inter-culturais, contra todas as opressões e formas de discriminação”.

Em Janeiro este grupo enviou uma carta a várias entidades, como o Presidente da República ou a procuradora-geral da República, a pedir que travasse a manifestação da extrema-direita Contra a islamização da Europa” em Lisboa, no Martim Moniz – apesar de até agora dizerem que não tiveram resposta directa de nenhum dos destinatários, na altura a Câmara Municipal de Lisboa acabou por não autorizar a manifestação, porque o parecer da PSP era claro”, ao salientar um elevado risco de perturbação grave e efectiva da ordem e da tranquilidade públicas”.

A organização do Grupo 1143, que tem como porta-voz o militante neonazi Mário Machado, contestou a decisão em tribunal, mas este confirmou a proibição. O grupo acabou por juntar-se no Chiado, reuniu entre 150 e 200 participantes segundo a Lusa, que entoaram cânticos nacionalistas e deram vivas a Salazar.

A carta aberta foi assinada por mais de 8400 pessoas. E nesse dia foi também organizado por outros colectivos um arraial contra o racismo e a islamofobia que fez abarrotar o Largo do Intendente, em Lisboa, durante horas.

Nessa noite pelo menos dois jornalistas e manifestantes antifascistas que protestavam na Praça do Município contra a realização da marcha neonazi queixaram-se de ter sido agredidos por agentes da PSP – que disse ter usado “meios de baixa potencialidade letal” e justificou a intervenção por “elevado perigo de perturbação da ordem pública” e de confrontos entre as duas acções de protesto, mas abriu inquérito a esta actuação.

No apelo ao protesto deste sábado o grupo escreve: “É urgente que, nos próximos dias, todas as forças políticas democráticas assumam publicamente compromissos muito claros para combater o racismo, a xenofobia e a islamofobia, que afectam directamente a vida das pessoas racializadas e comunidades imigrantes, sempre mais vulneráveis no que respeita ao acesso a direitos básicos como a habitação, saúde, educação, transportes, justiça, cultura e informação.” Referem ainda: a luta faz-se todos os dias, nas ruas, nas pequenas e grandes acções e nas urnas, nomeadamente, nas eleições legislativas antecipadas marcadas para o próximo dia 10 de Março”.

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