China critica veto dos EUA a resolução para cessar-fogo em Gaza

Estados Unidos preparam a sua própria resolução, que poderá incluir uma oposição a uma incursão israelita em Rafah.

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O embaixador da China na ONU, Zhang Jun, criticou duramente os Estados Unidos EDUARDO MUNOZ/EPA
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A China expressou esta quarta-feira o seu “grande desapontamento” com um veto dos Estados Unidos a uma resolução pedindo um cessar-fogo humanitário imediato na Faixa de Gaza, segundo o representante chinês na ONU Zhang Jun, citado pela agência Xinhua.

Na véspera os Estados Unidos usaram, pela terceira vez, o seu veto numa resolução pedindo o cessar-fogo na Faixa de Gaza, dizendo que esta arriscava a pôr em perigo negociações para uma trégua prolongada e a libertação dos reféns israelitas em Gaza que decorrem com mediação do Egipto e Qatar.

A situação na Faixa de Gaza, que desde 7 de Outubro, após o ataque do Hamas em Israel, está sujeita a corte de energia e com entrada muito reduzida de ajuda humanitária, a bombardeamentos e, mais tarde, a uma invasão terrestre, está a agudizar-se, com os grandes hospitais fora de serviço – esta semana o hospital Nasser, em Khan Younis, deixou de conseguir operar.

A fome e doenças provocadas pela diminuição da ajuda e pelas ordens de evacuação de Israel levarão a muitas mortes evitáveis além das provocadas pelos bombardeamentos. E Israel continua a dizer que levará a cabo uma incursão em Rafah, cidade de fronteira com o Egipto, onde estão concentradas a maioria das pessoas deslocadas de outras zonas de Gaza.

“A China expressa o seu forte desapontamento e insatisfação com o veto dos EUA”, disse a Xinhua citando Zhang. Este veto “não é em nada diferente de uma ‘luz verde’ para a continuação do massacre”.

“O veto dos EUA manda uma mensagem errada, tornando a situação de Gaza ainda mais perigosa”, disse Zhang, lembrando ainda os riscos de uma guerra alargada no Médio Oriente.

“Só extinguindo as chamas da guerra em Gaza o mundo conseguirá impedir os fogos do inferno engolirem toda a região”, declarou.

Os EUA prepararão, entretanto, uma versão de uma resolução que pediria um cessar-fogo humanitário “logo que seja possível” e a libertação dos reféns – marcando a primeira vez que o país usaria a palavra cessar-fogo e não trégua nesta guerra, diz o New York Times, o que é relevante porque o cessar-fogo implica um acordo para o fim do conflito, enquanto no caso de uma trégua se trata simplesmente de uma pausa.

Segundo o jornal, o texto da resolução declararia ainda que Israel não pode levar a cabo uma ofensiva em Rafah nas condições actuais.

Israel já disse que tem um plano para deslocar a população actualmente em Rafah, mas não é claro como o fará. Estimam-se que estejam na cidade cerca de 1,5 milhões de pessoas, mais de metade da população total de Gaza (cerca de 2,2 milhões) quando a população original da cidade era de 250 mil.

O Egipto, temendo que um ataque faça precipitar as pessoas através da fronteira, preparou uma zona para potencialmente receber palestinianos embora repita que a sua deslocação é “inaceitável”, repetiu o ministro dos Negócios Estrangeiros Sameh Shoukry na conferência de segurança de Munique.

“Não é nossa intenção providenciar qualquer zona ou instalações seguras, mas se for necessário lideremos com a humanidade que é necessária”, declarou Shoukry. O Egipto já declarara antes que considera suspender o seu tratado de paz com Israel se este avançar com a operação em Rafah sem um plano para deslocar os civis.

No Conselho de Segurança, é esperada oposição à proposta de resolução dos EUA, diz o New York Times, com a hipótese de um veto da Rússia e da China.

Os vetos norte-americanos têm, comenta o New York Times, permitido à Rússia e à China, tantas vezes criticadas pelo seu grave desrespeito pelos direitos humanos, acusar Washington de ser um obstáculo à paz e ao evitar de mais morte e sofrimento em Gaza.

“A questão não é que não haja um consenso alargado no Conselho de Segurança”, declarou Zhang Jun. “É que o veto exercido pelos EUA tem impedido esse consenso.”

*Com Reuters

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