Egipto prepara área murada na fronteira com Gaza para acolher palestinianos de Rafah

Imagens de satélite parecem mostrar preparativos do lado egípcio. “Trataremos de Rafah depois de falarmos com o Egipto sobre o assunto”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel.

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Uma imagem de satélite mostra a construção de um muro ao longo da fronteira entre o Egipto e Gaza Reuters/MAXAR TECHNOLOGIES
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Acampamento de palestinianos em Rafah, junto à fronteira com o Egipto Reuters/IBRAHEEM ABU MUSTAFA
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O Egipto está a preparar uma área delimitada por muros de cimento na fronteira de Gaza que poderá acolher palestinianos no caso de uma ofensiva israelita em Rafah provocar um êxodo, avançou nesta sexta-feira a agência Reuters, citando quatro fontes que descreveram o plano como uma medida de contingência.

Imagens de satélite publicadas pela Associated Press (AP) mostram a construção em curso de um muro ao longo da estrada Sheikh Zuweid-Rafah, a cerca de 3,5 quilómetros da fronteira com Gaza. As imagens, obtidas na quinta-feira pela Maxar Technologies, mostram gruas, camiões e o que parecem ser barreiras de betão prefabricadas a serem montadas ao longo da estrada.

Segundo a AP, as fotografias correspondem às imagens de um vídeo divulgado na segunda-feira pela Fundação Sinai para os Direitos Humanos (SFHR, na sigla em inglês), com sede em Londres, onde se vê uma grua a erguer o que parecem ser muros de betão.

Citando uma fonte não identificada, a SFHR disse que o trabalho de construção se destina a criar uma área segura no caso de um êxodo em massa de palestinianos. A Reuters diz ter confirmado a localização de parte do vídeo como sendo Rafah, devido à posição dos edifícios, árvores e vedações, que correspondem a imagens de satélite da zona.

Já o Wall Street Journal, citando responsáveis egípcios, descreve a construção de “um recinto murado de 20 quilómetros quadrados” com capacidade para albergar mais de cem mil pessoas.

O Governo egípcio, que negou oficialmente os preparativos, já por várias vezes alertou para a possibilidade – que considera inaceitável – de uma ofensiva israelita no Sul da Faixa de Gaza desencadear a fuga em massa de palestinianos para o Sinai. O mesmo aviso tem sido dado por outros países, como os Estados Unidos, o maior aliado de Israel.

Na quinta-feira, o Presidente norte-americano, Joe Biden, voltou a dizer ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que não deve avançar para uma acção militar em Rafah sem um plano credível e exequível para proteger os civis palestinianos, no que foi a segunda conversa telefónica entre os dois líderes em menos de uma semana.

Tal cenário ainda pode ser evitado, afirmou uma das fontes citadas pela Reuters, caso as negociações que têm decorrido no Cairo resultem num cessar-fogo, acrescentando que o estabelecimento de uma área junto à fronteira é uma medida temporária e de precaução.

Israel declarou que o seu Exército está a elaborar um plano de evacuação para outras zonas da Faixa de Gaza para os mais de um milhão de civis que estão em Rafah. Mas o subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, disse, na quinta-feira, que deslocar as pessoas que estão em Gaza para um local seguro não é mais do que uma “ilusão” e alertou para a possibilidade de os palestinianos não terem outra hipótese senão fugir para o Egipto, algo que o Presidente Abdel Fattah el-Sisi já classificou como “um pesadelo”.

Coordenar com o Egipto

Na Alemanha, onde participa na Conferência de Segurança de Munique, o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz, afirmou que Israel não tem qualquer plano para a deportação de palestinianos na Faixa de Gaza.

“Não temos intenção de deportar nenhum palestiniano para fora da Faixa de Gaza”, garantiu Katz. “Israel não quer ferir nenhum civil palestiniano, por isso transferimo-los para zonas seguras, enquanto o Hamas tenta impedi-lo. Não temos qualquer intenção de controlar a vida dos civis em Gaza depois da guerra. O nosso objectivo é garantir que Gaza seja desmilitarizada”, acrescentou.

Questionado sobre o destino do mais de um milhão de palestinianos que se encontram em Rafah, o chefe da diplomacia israelita sugeriu que assim que a segunda cidade de Gaza, Khan Younis, estivesse limpa de combatentes do Hamas, poderiam regressar para lá ou para a parte ocidental do enclave.

“Trataremos de Rafah depois de falarmos com o Egipto sobre o assunto”, adiantou Katz, acrescentando: “Vamos coordenar as coisas, temos um acordo de paz com eles e vamos encontrar um local que não prejudique os interesses dos egípcios."

Mas, para os palestinianos que foram forçados a ir para o extremo sul da Faixa de Gaza, o medo é que, se forem empurrados para a região do Sinai, não possam voltar à sua terra.

“Se formos para o Egipto, quem poderá garantir o regresso ao nosso país?”, disse Elfat al-Nahhal, uma das deslocadas em Rafah, citada pela Reuters.

“Será uma repetição da história de 1948”, lamentou, referindo-se à deslocação de 700 mil palestinianos que foram expulsos ou fugiram das suas casas durante a guerra que levou à criação do Estado de Israel, que os palestinianos recordam como a “Nakba”, a catástrofe.

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