José Pinto (1929-2024), de electrotécnico a actor de corpo inteiro

Trabalhou durante muitos anos como electrotécnico, profissão que acumulou com a representação até à sua reforma. Só a partir de então se dedicou àquela arte a tempo inteiro. Tinha 95 anos.

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José Pinto nasceu em Vila Nova de Gaia a 15 de Janeiro de 1929 José Pinto/ Facebook
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José Pinto como António de Oliveira Salazar DR
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José Pinto tinha mais de 30 anos quando chegou aos palcos do teatro, em 1962. Era electrotécnico de profissão e foi acumulando as duas actividades, tendo chegado aos ecrãs de televisão a partir da década seguinte. A sua presença no cinema, cumpriu-a já sexagenário, na década de 1990. José Pinto morreu na madrugada desta sexta-feira, aos 95 anos. A notícia da sua morte foi avançada na sua página pessoal de Facebook.

"É com grande pesar que anunciamos a morte do nosso José Pinto, tendo falecido calmamente em sua casa na passada noite", diz a mensagem endereçada aos "estimados amigos" do actor. "Aproveitemos este momento não apenas para lamentar esta triste notícia, como para celebrar a vida e obra de um homem que sempre procurou dar o melhor de si aos outros, seja através do pequeno ou grande ecrã, teatro ou cara a cara com aqueles que lhe foram mais próximos", pode ainda ler-se.

José Pinto nasceu em Vila Nova de Gaia a 15 de Janeiro de 1929. Foi, durante muitos anos, funcionário da Anglo-Portuguese Telephone Company, uma das primeiras operadoras telefónicas portuguesas. Só em 1962, já depois dos 30 anos, é que começou a interessar-se pela representação, primeiro nos palcos, com o Teatro Experimental do Porto (TEP). No fim dessa década, foi conciliando as duas actividades. As suas primeiras aparições em televisão, na década seguinte, foram em teatro filmado. Peças como As Profecias do Bandarra, de Almeida Garrett, em 1972, O Motim ou Morte no Bairro. Pôde também ser visto em séries como O Homem que Matou o Diabo, protagonizada por Herman José, ou Um Táxi na Cidade. Só na viragem dos anos 1980 e 1990, já na pré-reforma, se tornou actor de profissão.

Apareceu em Vale Abraão, de Manoel de Oliveira, com quem também trabalhou em Viagem ao Princípio do Mundo, Inquietude, Palavra e Utopia e Cristóvão Colombo - O Enigma. Com João Botelho, rodou Quem És Tu?, Tráfico e O Fatalista. Fez parte ainda de Terra Fria, de António Campos, A Sombra dos Abutres, de Leonel Vieira, Longe da Vista e Duas Mulheres, de José Mário Grilo, Jaime, de António-Pedro Vasconcelos, Mal, de Alberto Seixas Santos, O Delfim, de Fernando Lopes, Aparelho Voador a Baixa Altitude, de Solveig Nordlund, O Fascínio, de José Fonseca e Costa, A Mulher Polícia, de Joaquim Sapinho, Raiva, de Sérgio Tréfaut, Perdida Mente, de Margarida Gil, ou Coisa Ruim, de Tiago Guedes e Frederico Serra. Trabalhou com Tiago Guedes também em Os Boys, série da RTP de 2016.

Em 2015, fez de António de Oliveira Salazar, figura com a qual tinha algumas parecenças, também utilizadas na campanha institucional de 2019 Dois Minutos Para Mudar de Vida, em Capitão Falcão, comédia de João Leitão, para quem já tinha protagonizado a curta-metragem O Grande Monteleone. Outra figura com a qual se assemelhava fisionomicamente era Miguel Torga, não sendo por isso de estranhar que lhe tenha cabido o papel do escritor nascido Adolfo Correia da Rocha num documentário televisivo de 2007, Miguel Torga, o Meu Portugal, de Ângelo Peres.

Na televisão, apareceu ainda em séries como Claxon, Clube Paraíso, Os Andrades, Major Alvega, Conta-me Como Foi, Cidade Despida ou Velhos Amigos. No mundo das telenovelas, fez A Lenda da Garça, Ganância, O Olhar da Serpente, Amanhecer, Queridas Feras, Dei-te Quase Tudo, Dancin' Days, Mulheres ou Santa Bárbara.

Ganhou, em 2016, um Prémio Sophia para Melhor Actor Secundário pelo trabalho em Capitão Falcão. Foi também distinguido com a Pena de Camilo Castelo Branco no Festival de Cinema e Vídeo de Famalicão (FamaFest).

De acordo com a publicação colocada na página de Facebook do actor, o funeral vai realizar-se este sábado, 17 de Fevereiro, às 10h na Igreja do Candal em Vila Nova de Gaia. É também lá que o corpo de José Pinto estará em câmara ardente a partir das 14h desta sexta-feira.​

O actor António Capelo, que é director do Teatro do Bolhão, publicou uma fotografia de José Pinto e lamentou: "Querido Zé...", com o símbolo de um coração negro a assinalar o luto. António Pedro Afonso, também ele actor, desejou "boa viagem" ao "nosso querido Zé", ornamentando a publicação com emoji das máscaras que representam a sétima arte.

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