Google vai ajudar a localizar poluidores de metano a partir do espaço

Google vai usar dados de um satélite, que será enviado em Março para o espaço, para identificar grandes emissões de gás metano. O objectivo é alertar governos e indústrias de combustíveis fósseis.

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Gás metano possui um poder de aquecimento na atmosfera 80 vezes superior ao do dióxido de carbono STEPHANE MAHE / Reuters
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A Google vai trabalhar com uma unidade do Fundo de Defesa Ambiental para ajudar a localizar grandes emissões de metano, recorrendo aos dados facultados pelo satélite MethaneSAT da organização sem fins lucrativos, que deverá entrar em órbita num foguetão SpaceX no próximo mês de Março.

O projecto aproveita a experiência em inteligência artificial (IA) e cartografia de uma das empresas tecnológicas mais influentes do mundo, combinando-a com dados de um satélite de alta resolução dedicado a observar algumas das emissões de gases com efeito de estufa mais devastadoras e evitáveis do mundo.

O objectivo é identificar melhor as oportunidades de reduzir estas emissões, abrindo caminho para uma acção climática mais agressiva por parte dos governos e dos operadores no sector de combustíveis fósseis, muitos dos quais se comprometeram a efectuar cortes significativos até 2030.

"A nossa missão consiste em agir e ajudar os países, as empresas e as comunidades a controlar e a reduzir as emissões mais rapidamente, documentando simultaneamente os seus progressos", afirmou Steve Hamburg, cientista principal do Fundo de Defesa Ambiental, de acordo com uma transcrição de uma sessão de esclarecimento online com os jornalistas.

"Trata-se também de uma responsabilização, dando aos decisores políticos, aos investidores e ao público uma oportunidade sem precedentes de ver e comparar esses resultados”, acrescentou Hamburg.

O anúncio surge num momento em que a acção contra o metano tem reunido apoio internacional. No ano passado, os EUA, a União Europeia (UE) e a China anunciaram esforços no sentido de aumentar a monitorização e a comunicação de dados sobre o metano, numa tentativa de reduzir as emissões.

Mais de 150 nações comprometeram-se a reduzir as emissões globais deste potente gás com efeito de estufa em 30% até ao final desta década, em comparação com os níveis de 2020, no âmbito de um compromisso global relativo ao metano. Além disso, cinquenta dos maiores produtores mundiais de petróleo e gás comprometeram-se, no Compromisso Global de Metano, a reduzir significativamente as emissões de metano até 2030.

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Satélite MethaneSAT vai ser utilizado para localizar emissões de metano MethaneSAT/Handout via REUTERS

Os cientistas da unidade do Fundo de Defesa Ambiental vão utilizar a computação e a capacidade de armazenamento da Google Cloud para executar um algoritmo nas observações de satélite do MethaneSAT, com o propósito de identificar as fugas do gás e rastrear as emissões até à sua origem. A atribuição das emissões de metano a infra-estruturas e empresas individuais continua a ser um desafio, uma vez que alguns operadores e governos não revelam a propriedade ou o equipamento utilizado.

Para isso, a mesma equipa da Google que está por detrás de outros serviços de cartografia como o Google Maps, o Street View e o Waze vai utilizar a IA para identificar possíveis fugas em infra-estruturas de petróleo e gás, como poços ou tanques de armazenamento em dados de satélite.

"Quando tivermos esse mapa, poderemos sobrepor os dados relativos ao metano", afirmou Yael Maguire, chefe da equipa de geo-sustentabilidade da Google, durante a sessão com jornalistas. Isto permitirá "compreender muito melhor os tipos de maquinaria que mais contribuem para as fugas de metano", explicou.

Compromisso entre lucro e clima

O metano, invisível ao olho humano, é o principal componente do gás fóssil e tem mais de 80 vezes o poder de aquecimento do dióxido de carbono durante os seus primeiros 20 anos na atmosfera. Travar a libertação do gás proveniente dos combustíveis fósseis é visto como uma das formas mais baratas e mais rápidas de travar o aquecimento global a curto prazo. Desta forma, é possível ganhar mais tempo para fazer os cortes profundos nas emissões de dióxido de carbono necessários para evitar danos climáticos graves.

As emissões de metano dos operadores de petróleo, carvão e gás representam muitas vezes um compromisso entre os lucros e o clima. Embora seja possível eliminar a grande maioria das emissões, fazê-lo pode aumentar os custos a curto prazo e abrandar a produção.

As minas de carvão subterrâneas, por exemplo, ventilam activamente o metano depois de o gás ser libertado dos estratos rochosos para evitar explosões. No entanto, poucas utilizam a tecnologia de captura disponível. Os operadores do sector do gás libertam habitualmente metano quando precisam de esvaziar um tubo para o tornar seguro para reparações, apesar de o equipamento de recompressão poder reduzir estas emissões.

As emissões de metano provenientes de combustíveis fósseis são significativamente subnotificadas. Os cientistas do Fundo de Defesa Ambiental descobriram que as emissões das operações de petróleo e gás dos EUA eram 60% superiores aos inventários da Agência de Protecção Ambiental sugeridos num estudo de 2018, e novas provas empíricas que recorrem a observações por satélite sugerem que o metano das operações globais de petróleo e gás é 30% superior aos valores comunicados às Nações Unidas ao abrigo do Acordo de Paris.

Apesar dos compromissos assumidos pelas empresas e pelos governos no sentido de reduzirem as emissões, não é claro que a existência de mais dados provoque necessariamente cortes, na ausência de uma regulamentação mais rigorosa.

As observações de metano por satélite estão disponíveis há vários anos e muitos dos pontos críticos do mundo, como as minas de carvão na província chinesa de Shanxi e as operações de petróleo e gás na bacia do Permiano, nos Estados Unidos, são locais conhecidos e continuam a libertar grandes quantidades de gás.

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