Boy George e Helen Mirren assinam carta aberta contra exclusão de Israel da Eurovisão

Após os protestos a pedir que Israel seja afastado do Festival Eurovisão da Canção, mais de 400 celebridades assinam um pedido para o país ser incluído na competição.

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A Suécia, que acolhe este ano a Eurovisão, foi a vencedora de 2023 (na fotografia, a celebrar a vitória da cantora Loreen) Chris Furlong/getty images
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Depois de vários protestos a pedir que Israel seja banido da Eurovisão, eis que surge um sinal em sentido contrário apelando a que se reforce a inclusão do país no Festival Eurovisão da Canção. Os músicos Gene Simmons, dos KISS, e Boy George, bem como a actriz Helen Mirren, estão entre as mais de 400 celebridades e figuras do meio cultural que assinaram uma carta aberta apoiando a inclusão de Israel na Eurovisão este ano, divulgada pelo The Guardian esta quinta-feira. O festival decorre entre 7 e 11 de Maio, na Suécia, a vencedora do ano passado.

Os apelos ao boicote devido à guerra Israel-Gaza em formato carta aberta acumulam-se desde Janeiro, quando mais de mil profissionais da música na Finlândia apelaram a que a emissora finlandesa, a Yle, pressionasse a União Europeia de Radiodifusão (UER) para afastar a representação israelita. Em causa estão os alegados crimes de guerra cometidos pelas forças militares israelitas na Faixa de Gaza durante a ofensiva que começou como retaliação pelo ataque terrorista do Hamas de 7 de Outubro. Os números do Ministério de Saúde de Gaza, sob controlo do Hamas e considerados fiáveis pelas agências humanitárias, apontam para, até agora, mais de 30 mil mortos, sendo que mais de 12 mil são crianças. O Governo israelita anunciou esta semana uma intensa ofensiva em Rafah, cidade que era o último refúgio dos palestinianos no sul de Gaza.

Na carta aberta agora divulgada, lançada pela organização sem fins lucrativos Creative Community For Peace, que tem feito campanha contra os boicotes culturais a Israel, escreve-se, segundo o Guardian: “Acreditamos que eventos unificadores, como concursos de canto, são cruciais para ajudar a colmatar as nossas divisões culturais e unir pessoas de todas as origens através da partilha do amor pela música. Aqueles que apelam à exclusão de Israel estão a subverter o espírito do Concurso e a transformar uma celebração da unidade num instrumento político", pode ler-se. Fala-se, também, no ataque de 7 de Outubro como "o maior massacre de judeus desde o Holocausto" (os números oficiais apontam para 1200 mortos, menos do que os entre 1900 e 3000 que a junta militar argentina matou durante a Guerra Suja nas décadas de 1970 e 80). A "tentativa de boicote" é "equivocada" e "discriminatória", diz o texto, que fala numa "vilificação de Israel no palco global da música".

A carta foi ainda assinada pelos agentes musicais Scooter Braun e Sharon Osbourne, o empresário Haim Saban, os actores Mayim Bialik, Liev Schreiber, Julianna Margulies, Tom Arnold, Debra Messing, Emmy Rossum, Jennifer Jason Leigh, Ginnifer Goodwin, Selma Blair ou Patricia Heaton, entre outros.

Em Janeiro, mais de mil artistas suecos, ou seja, do próprio país que este ano acolhe a Eurovisão, entre os quais Robyn, Fever Ray e Malena Ernman (cantora de ópera que é mãe da jovem activista climática Greta Thunberg​), tomaram uma posição no jornal Aftonbladet contra a participação de Israel.

A UER, organizadora da Eurovisão, tem mantido ao longo dos anos a posição de que o evento é apolítico, mesmo que tenha já servido de palco a muitas mensagens, seja na forma das letras das canções ou nas acções dos seus intérpretes. Recorde-se que, em 2022, depois da invasão da Ucrânia, a Rússia foi excluída do festival, uma ausência que se mantém, tal como a guerra, até agora. Também tinha feito o mesmo com a Bielorrússia no ano anterior. A guerra na Ucrânia, país que venceu em 2022, tem sido, aliás, sempre mencionada no concurso, sendo que a UER se posiciona contra este conflito que começou há quase dois anos, a 24 de Fevereiro de 2022.

Em Portugal, esta semana, o Comité de Solidariedade com a Palestina enviou uma carta aberta pedindo que a RTP boicote o concurso caso a UER não afaste Israel. Pedia a Nuno Galopim, responsável pela curadoria musical do Festival da Canção, e a Hugo Figueiredo, do conselho de administração da emissora pública, para esta última pressionar "a União Europeia de Radiodifusão (UER) para que Israel seja banido da Eurovisão" e boicotar "o concurso caso isso não aconteça”. O PÚBLICO contactou a RTP sobre o assunto e aguarda respostas. A edição deste ano do Festival da Canção arranca no sábado, dia 24, estando a final marcada para 9 de Março.

Israel participa na Eurovisão desde 1973 e já venceu o concurso quatro vezes (em 1978, 1979, 1998 e 2018).

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