Israel intensifica bombardeamentos em Rafah, onde se teme que a ofensiva terrestre esteja iminente

Conversações para possível cessar-fogo continuam no Egipto apesar da rejeição, por parte de Benjamin Netanyahu, do acordo proposto pelo Hamas.

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Os escombros de uma casa destruída em Rafah após um bombardeamento israelita Reuters/IBRAHEEM ABU MUSTAFA
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O Exército israelita intensificou nesta quinta-feira os bombardeamentos a Rafah, a cidade no Sul da Faixa de Gaza onde está concentrada mais de metade da população do enclave, com as Nações Unidas a alertar, mais uma vez, para um “pesadelo humanitário” que poderá agravar-se caso Israel leve por diante a ameaça de uma operação terrestre.

Os aviões – e os tanques – israelitas bombardearam várias zonas de Rafah logo pela manhã, matando pelo menos 11 pessoas, aumentando os receios dos residentes de que o ataque terrestre possa estar iminente.

“Estamos de costas para a vedação [da fronteira] e virados para o Mediterrâneo. Para onde havemos de ir?”, disse Emad, 55 anos, um pai de seis filhos que procurou abrigo em Rafah depois de ter fugido de sua casa noutro local de Gaza, citado pela Reuters. Um dos ataques aéreos atingiu o bairro de Tel al-Sultan, onde as pessoas choravam sobre os corpos dos mortos.

“De repente, num piscar de olhos, os rockets caíram sobre crianças, mulheres e homens idosos. Porquê? Porquê? Por causa do cessar-fogo que se aproxima? Isto acontece antes de qualquer cessar-fogo”, disse Mohammed Abu Habib à Reuters.

A esperança de um cessar-fogo ficou mais esbatida depois de, na quarta-feira, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ter rejeitado os termos de um acordo proposto pelo Hamas para um cessar-fogo dividido por três fases, que incluía a libertação dos reféns detidos em Gaza, a retirada da tropa israelita e um caminho para a paz.

O chefe de Governo classificou os termos da proposta como “ilusórios” e afirmou que o objectivo de Israel continua a ser a derrota total do Hamas, dizendo mesmo que a vitória estava a poucos meses de distância.

A rejeição de Netanyahu não interrompeu, no entanto, as negociações para tentar chegar a um acordo que permita, pelo menos, estabelecer uma pausa humanitária nos combates para fazer chegar ajuda à população palestiniana encurralada no enclave.

Negociações no Cairo

Nesta quinta-feira, uma delegação do Hamas, encabeçada por um dos altos responsáveis do grupo, Khalil al-Hayya, chegou ao Cairo para conversações com os mediadores do Egipto e do Qatar, incluindo o chefe dos serviços secretos egípcios, Abbas Kamel. O ministro dos Negócios Estrangeiros do Egipto, Sameh Shoukry, afirmou em Nicósia que o seu Governo está a trabalhar com todas as partes interessadas para pôr fim ao conflito e pediu à comunidade internacional para exercer mais pressão para que a ajuda humanitária chegue a Gaza.

Segundo o diário Haaretz, as palavras de Netanyahu podem mesmo servir para lançar as bases para a continuação das conversações. “A proposta que o Hamas apresentou é claramente um documento que Israel não pode aceitar, mas mostra que a organização está disposta a negociar, talvez mesmo seriamente, mais tarde”, disse ao diário israelita uma fonte estrangeira.

E segundo outra fonte citada pelo Haaretz, as declarações de Netanyahu a propósito da reacção do Hamas sobre o número de prisioneiros palestinianos a libertar e, especialmente, as suas palavras sobre a entrada do Exército israelita em Rafah e em dois outros campos de refugiados podem exercer pressão sobre o grupo islamista de modo a suavizar as suas exigências.

A pressão sobre o Governo de Israel para assumir uma posição mais construtiva vem também dos Estados Unidos. Na quarta-feira, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, afirmou que ainda existe espaço para prosseguir as negociações.

Numa conferência de imprensa realizada ao final da tarde de quarta-feira, Blinken afirmou que alguns elementos da proposta apresentada pelo Hamas continham “pontos não essenciais” mas que não eram impeditivos à continuação das conversações.

O chefe da diplomacia dos EUA, na sua quinta visita à região, afirmou ainda que o número de mortos entre os civis é demasiado elevado e voltou a lembrar que Israel deve colocar os civis em primeiro lugar.

“E isto é especialmente verdade no caso de Rafah, onde há entre 1,2 e 1,4 milhões de pessoas, muitas delas deslocadas de outras partes de Gaza”, referiu Blinken.

Apesar da pressão internacional, Israel continua a não dar tréguas na sua operação militar e, nesta quinta-feira, as Forças Armadas israelitas afirmaram que, nas últimas 24 horas, tinham matado mais de 20 militantes na principal cidade do Sul de Gaza, Khan Younis, actualmente palco de alguns dos combates mais intensos da guerra. O Governo israelita anunciou, por sua vez, a detenção de dezenas de militantes, incluindo dois suspeitos de envolvimento no ataque de 7 de Outubro.

Segundo o mais recente balanço do Ministério da Saúde de Gaza, já morreram 27.840 palestinianos e mais de 67.000 ficaram feridos desde o início da ofensiva israelita.

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