Debate confirmou que Tavares e Rocha só têm em comum o nome Rui

No frente-a-frente entre os líderes do Livre e da IL, cada um falou ao seu eleitorado e nenhum trouxe novidades. Da Saúde à Habitação, os caminhos são diferentes, mas foram pouco concretos.

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O debate entre Rui Tavares e Rui Rocha aconteceu na CNN, pelas 18h15 José Alves
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No debate entre Rui Tavares e Rui Rocha a única semelhança foi mesmo o nome dos líderes do Livre e da Iniciativa Liberal, que discordaram em todos os temas que marcaram o frente-a-frente transmitido pela CNN nesta quarta-feira. Da política fiscal, às respostas para a Saúde, passando pela proposta de modelo da semana de quatro dias e pelas respostas para a crise da habitação, Tavares e Rocha vincaram as diferenças que os separam.

Desmentindo os "nove mil milhões" de euros que Pedro Nuno Santos afirmou custar a redução da carga fiscal proposta pela IL, Rui Rocha insistiu que o custo da medida rondará os cinco mil milhões de euros. Esse valor deverá ser recuperado através da privatização de empresas públicas "como a TAP". Segundo as contas da IL, "serão recuperados 500 milhões de euros". “Deve ser feito, não pedindo às famílias sacrifícios, mas que seja o Estado a fazer esse esforço que representa 2,5% ou 3% da sua despesa”, afirmou.

Já Rui Tavares não se comprometeu com números concretos sobre o impacto orçamental do programa do Livre, mas garantiu que as contas rondam "entre as dezenas e centenas de milhões de euros" e não os "milhares de milhões de euros" do programa da IL.

Tavares defendeu ainda que embora se deva reduzir a dívida pública, "até porque isso permite poupar em juros", é "preciso fazer investimento público", que "tem faltado nos últimos anos". "O que temos de excedente, que é resultado do nosso sacrifício, não pode ir apenas para a dívida pública, porque falta investimento público", afirma Tavares.

O porta-voz do Livre não afastou uma "reforma fiscal", mas criticou a proposta da IL. Com a IL, os "mais pobres que pagam IRS" iriam pagar "menos 60 euros por mês", uma poupança que o Livre considera curta, propondo em alternativa o aumento do abono de família para famílias monoparentais.

Na Saúde "não é preciso partir a casa"

Rui Rocha insistiu que embora mais de 50% da despesa da saúde já seja com o pagamento de serviços executados pelo sector privado, é preciso "mudar um sistema que não funciona".

Por sua vez, o Livre quer que “todas as pessoas entrem num hospital de cara levantada” e garante que não troca isso “por uma fezada num sistema misto”. Rui Tavares acusa os privados de estarem "a fazer concorrência desleal com o conhecimento que têm do público". "Um liberal deveria defender que se saibam os valores praticados no privado."

"Com assimetria de informação não há concorrência leal", afirmou Rui Tavares, recordando que os privados "sabem tudo sobre o SNS, enquanto o SNS não sabe nada sobre os privados", nem mesmo em relação aos salários dos médicos que trabalham no privado. "O SNS está a lutar com uma venda nos olhos e uma mão atrás das costas", acrescentou, reconhecendo que o SNS precisa de ser melhorado.

A habitação

Rui Tavares notou que os Países Baixos têm cerca de 60% do parque público de habitação e lembrou que Portugal é o país da União Europeia "mais procurado para milionários viverem". Em resposta, o líder da IL disse que há “150 mil rendas congeladas em Portugal” e que quem faz “acção social são os proprietários”. A IL propõe licenciamentos mais rápidos, eliminação de IMT e do imposto de selo, a redução do IVA da construção e a utilização dos devolutos do Estado.

Na habitação, o Livre propõe "uma sobretaxa de IMT, para quem nunca contribuiu para o Fisco em Portugal", destinada ao "Programa Ajuda de Casa", que consiste numa "co-propriedade do indivíduo" com "preços não especulativos".

Sobre uma possível coligação com o PS, Rui Tavares respondeu que o Livre "não está disponível para dar a mão ao PS, mas a esquerda deve ter soluções para o país", uma vez que "as maiorias absolutas são prejudiciais para o país". O líder do Livre ainda tentou abrir espaço para que se discutissem temas que têm ser excluídos dos debates, nomeadamente em relação "à educação, ambiente, ciência e Europa". Mas não teve sucesso.

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