Houthis prometem vingar ataque dos EUA no Iémen

Movimento islamista apoiado pelo Irão diz que vai “responder à escalada com mais escalada”, afastando-se da reacção mais cautelosa do regime iraniano.

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Protestos no Iémen contra o bombardeamento de posições militares dos houthis, no sábado EPA/YAHYA ARHAB
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A liderança dos houthis, o movimento islamista que controla grande parte do território do Iémen, garante que vai continuar a lançar ataques contra a navegação comercial no mar Vermelho e contra posições dos Estados Unidos na região, uma campanha que o grupo diz ser uma resposta aos bombardeamentos de Israel na Faixa de Gaza.

A promessa foi feita este domingo por dois altos responsáveis dos houthis, Mohammed Al-Bukhaiti e Yahya Saree, este último o porta-voz do grupo, na sequência de um novo ataque dos EUA contra alvos militares no Iémen, no sábado.

Já este domingo, os EUA anunciaram que destruíram um míssil de cruzeiro dos houthis que estaria a representar uma ameaça à navegação no mar Vermelho, em mais uma indicação de que os ataques dos últimos dias contra milícias apoiadas pelo Irão vão continuar, tal como garantira o Presidente norte-americano, Joe Biden, na sexta-feira.

"Os bombardeamentos da coligação EUA-Reino Unido em várias províncias do Iémen não mudam a nossa posição. Reafirmamos que as nossas operações militares contra Israel vão continuar enquanto durar o genocídio em Gaza, sejam quais forem as consequências para nós", disse Al-Bukhaiti, membro do Ansar Allah — a organização política e militar xiita, constituída por membros da tribo houthi do Iémen, que deve grande parte da sua força ao apoio do Irão.

"A agressão americana e britânica contra o Iémen não ficará sem resposta, e nós responderemos à escalada com mais escalada", disse o responsável, num comunicado partilhado através da rede social X (o antigo Twitter).

Duas frentes

No sábado, 24 horas depois de dois bombardeiros B-1 dos EUA terem atacado dezenas de posições, no Iraque e na Síria, usadas por outras milícias apoiadas pelo Irão e pelas forças al-Quds (a unidade dos Guardas da Revolução iranianos que coordena as várias milícias pró-iranianas na região), as forças norte-americanas atacaram alvos dos houthis no Iémen, com o apoio do Reino Unido.

Segundo o Pentágono, as duas operações — no Iraque e na Síria, na sexta-feira, e no Iémen, no sábado — são respostas a problemas distintos.

No primeiro caso, o ataque foi uma retaliação contra a morte de três soldados norte-americanos, no fim-de-semana passado, numa zona remota da Jordânia, cuja responsabilidade foi atribuída pelos EUA ao Kataib Hezbollah, um grupo radical xiita iraquiano.

Os bombardeamentos no Iémen, no sábado — o terceiro ataque em larga escala dos EUA contra os houthis desde Outubro, após o agravamento da situação na região na sequência dos ataques do Hamas contra Israel —, teve como objectivo dissuadir o grupo de continuar a perturbar a navegação marítima no mar Vermelho.

Ao contrário da resposta cautelosa do Irão e das milícias iraquianas e sírias ao ataque norte-americano de sexta-feira — que evidenciou uma falta de vontade do regime iraniano para alimentar uma escalada na região, algo que Biden também já disse querer evitar —, a reacção dos houthis pode criar mais problemas, a curto prazo, à Administração Biden.

Em ano de eleição presidencial nos EUA, e com Biden como candidato à reeleição, o Partido Republicano tem pressionado a Casa Branca a ser mais rápida e mais decisiva na resposta a ataques contra posições e militares norte-americanos na região.

Se os houthis — que, segundo vários analistas, são menos fiéis ao Irão do que outras milícias da região, e têm um armamento mais sofisticado — lançarem um ataque que faça vítimas mortais entre os soldados norte-americanos, Biden será ainda mais pressionado pelos republicanos a elevar a parada.

Nos dias que se seguiram ao ataque que matou três soldados dos EUA na Jordânia, vários responsáveis do Partido Republicano vieram a público defender que o Pentágono devia atingir alvos em território iraniano.

Este domingo, numa entrevista ao canal NBC, o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, recusou-se a responder directamente a uma pergunta sobre se a Casa Branca põe de lado um eventual ataque contra o Irão.

"Não vou entrar aqui em pormenores sobre o que está ou o que não está em cima da mesa, de um ponto de vista da acção militar", disse Sullivan. "O que posso dizer é que o Presidente [Biden] está decidido a responder com força a ataques contra os nossos compatriotas. E o Presidente também não está à procura de uma guerra alargada a todo o Médio Oriente."

Num artigo publicado no site Politico, no sábado, Michael Hirsch, colunista da revista Foreign Policy, disse que "há muitas milícias pró-iranianas desejosas de lançar ataques", sendo que os EUA "têm tropas suficientes no terreno para serem um alvo apetecível". "O risco de um alastramento da guerra na região nunca foi maior do que é agora", diz Hirsch.

No mesmo sentido, o New York Times sublinhou, no sábado, que "não é claro que todas as milícias apoiadas pelo Irão vão concluir que só têm a ganhar com um recuo", tal como parece ser o cálculo do regime iraniano nesta altura.

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