Agricultores franceses começam a levantar bloqueio mas querem ver resultados concretos

Após o anúncio de novas medidas do Governo, líderes dos maiores sindicatos apelaram à desmobilização e deram um prazo de três semanas para a aplicação das promessas feitas por Gabriel Attal.

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Protesto de agricultores em Bruxelas quando decorria a reunião extraordinária do Conselho Europeu EPA/OLIVIER MATTHYS
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Os agricultores franceses começaram esta quinta-feira a levantar os bloqueios nas estradas francesas após os líderes dos maiores sindicatos do sector terem ficado, para já, satisfeitos com as medidas anunciadas pelo Governo. “Chegou a hora de ir para casa”, apelou Arnaud Rosseau, presidente da Frente Nacional dos Sindicatos de Exploração Agrícola (FNSEA).

A decisão da FNSEA e também dos Jovens Agricultores, poucas horas depois de o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, ter anunciado que a França iria consagrar na lei o princípio da auto-suficiência alimentar e também reforçar os controlos das importações agrícolas não chegou, no entanto, sem contrapartidas.

Os líderes sindicais afirmaram, após o discurso de Attal, que o apelo para acabar com os bloqueios vem com a condição de que as promessas fossem seguidas de progressos concretos, dando ao Governo um prazo um prazo de três semanas, até ao início do Salão da Agricultura em França, para que os primeiros resultados sejam apresentados.

“A partir de segunda-feira, vamos começar a trabalhar nas prefeituras e nos ministérios em todos os pontos que foram anunciados”, disse Arnaud Gaillot, líder dos Jovens Agricultores.

Apesar do apelo dos principais líderes dos protestos que entupiram na última semana muitas estradas francesas e bloquearam o acesso a Paris, não era certo que a desmobilização fosse total, já que muitos agricultores não são sindicalizados. Em Agen, na região da Nova Aquitânia, um comboio formado por 150 agricultores preparava-se para alargar o bloqueio a grande parte da região do Sudoeste de França.

Sensivelmente ao mesmo tempo que Gabriel Attal anunciava as medidas de emergência do Governo para o sector, no valor de 400 milhões de euros, em Bruxelas o Presidente Emmanuel Macron, logo após a reunião do Conselho Europeu, afirmava que a União Europeia precisava de alterar “profundamente” as suas regras para ser capaz de resolver a crise agrícola.

“Está claramente a ser travada uma batalha europeia em relação a esta questão. Solicitei à presidente da Comissão Europeia que trabalhasse com a França na revisão da estratégia”, afirmou Macron, que disse não estar contra o contestado acordo com o Mercosul mas que, na sua opinião, já “ultrapassou o seu prazo de validade”.

“Não podemos pedir aos produtores europeus que aceitem um mercado obrigado a respeitar cada vez mais regras e, ao mesmo tempo, continuar a negociar acordos de comércio livre como fizemos nos anos 1980”, referiu o Presidente francês numa conferência de imprensa em Bruxelas, onde milhares de agricultores, a grande maioria dos quais belgas (mas também muitos franceses, italianos e espanhóis), concentraram-se em frente do Parlamento Europeu — a menos de um quilómetro do edifício Europa, onde decorria a reunião extraordinária do Conselho Europeu para aprovar o apoio financeiro da União Europeia.

Os líderes europeus acabaram por não ficar indiferentes ao protesto, que teve alguns momentos de confronto entre os manifestantes e as forças policiais, e abordaram o tema no final do encontro, de forma mais ou menos informal.

“O Conselho Europeu discutiu os desafios com que se confronta o sector agrícola e as preocupações levantadas pelos agricultores. Lembrando o papel essencial da Política Agrícola Comum, apelamos à Comissão e ao Conselho da UE para prosseguir o seu trabalho, e continuaremos a seguir a situação”, diziam as conclusões da reunião.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reconheceu que o sector enfrenta pressões em termos de preços por causa da concorrência de outros mercados, e prometeu novas medidas de apoio para breve, sem especificar quais.

O primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, disse que os líderes pediram aos seus ministros da Agricultura “para apresentarem um plano para a redução dos custos administrativos dos agricultores, que são realmente elevados”, no próximo Conselho de Agricultura, marcado para o dia 26 de Fevereiro. com Rita Siza

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