Estigma e saúde mental: construir pontes e não barreiras

A necessidade de uma educação contínua sobre saúde mental (em qualquer contexto e idade) é fundamental para a mudança.

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É importante que se discuta o tema e que tudo façamos para diminuir este estigma Stefan Stefancik/pexels
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Nos últimos anos, assistimos a um aumento da informação disponibilizada sobre saúde ou doença mental. Em todos os meios se tem verificado a preocupação crescente em abordar diferentes temáticas que se relacionam com saúde ou doença mental, mesmo sabendo que problemas de saúde psicológica são comuns, persiste o estigma, o preconceito e a discriminação.

É importante que se discuta o tema e que tudo façamos para diminuir este estigma — que afeta diretamente as pessoas, que por diferentes razões, podem sofrer algum tipo de perturbação mental ou sofrimento psicológico. Cerca de nove em cada dez pessoas com problemas de saúde psicológica revela que este estigma tem “um impacto negativo nas suas vidas”, revela a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP).

O impacto do preconceito pode ter diferentes consequências, como por exemplo, o agravamento da situação. Por medo e/ou vergonha, são muitas as pessoas que adiam a procura de ajuda profissional, escondendo/silenciando a sua situação por receio do julgamento daqueles que ainda pensam (e verbalizam) que “não tenho tempo para ter uma depressão; agora é tudo doença; isso são frescuras; sempre foi frágil; precisa é de mais trabalho que isso já lhe passa”, etc..

Estas crenças e estereótipos sobre saúde mental contribuem muitas vezes para a coexistência de:

  • stress adicional (a necessidade em esconder os problemas de saúde mental pode aumentar os níveis de ansiedade, agravando sintomas);
  • maior isolamento;
  • solidão e desesperança;
  • autoperceção negativa (visão negativa de si mesmo);
  • diminuição da autoestima, autoconfiança, autoeficácia;
  • desigualdade e diminuição de oportunidades;
  • resistência na procura de ajuda especializada (prolongando e agravando o sofrimento);
  • maiores dificuldades nos relacionamentos interpessoais (pessoas que não compreendem estas questões podem perpetuar estigmas, por vezes, inconscientemente, levando o outro, a ter mais dificuldade em lidar com a sua condição).

Investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto divulgaram recentemente os resultados de um estudo realizado com jovens estudantes universitários e observaram que, estudantes com sintomas de ansiedade e depressão não procuram ajuda devido ao estigma. Nas conclusões, conseguimos ver que após uma intervenção — que teve como objetivo a redução do estigma na doença mental —, a procura de cuidados de saúde aumentou, mostrando-nos que a superação ou diminuição do estigma tem, de facto, efeitos positivos no tratamento deste tipo de perturbações.

O aumento da literacia e conhecimento, a educação e a empatia, podem ser os melhores caminhos para se conseguir esta mudança de paradigma. A empatia também contribui para a existência de um ambiente onde pessoas que sofrem se sentem mais compreendidas, acolhidas e apoiadas. A necessidade de uma educação contínua sobre saúde mental (em qualquer contexto e idade) é fundamental para a mudança.

Os problemas não nos devem definir, o que nos pode definir é a nossa atitude. É urgente desmistificar, quebrar barreiras. A mudança começa em cada um de nós. É preciso falar abertamente sobre os problemas de saúde mental. Procurar informação fidedigna e contribuir para um mundo verdadeiramente inclusivo.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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