Mercados reforçam aposta na descida dos juros em Abril

Discurso mais optimista do BCE relativamente à evolução da inflação faz os investidores acreditar que mudança de rumo da política monetária está para breve.

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Christine Lagarde, presidente do BCE EPA/RONALD WITTEK
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Uma nova declaração de Christine Lagarde a defender que é ainda “prematuro” discutir um corte nas taxas de juro na zona euro não convenceu os investidores dos mercados financeiros, que reforçaram nas últimas horas as suas apostas de que o Banco Central Europeu (BCE) irá começar a inverter o rumo da sua política monetária já na reunião de Abril.

No final de tarde desta quinta-feira, a seguir à reunião do conselho de governadores do BCE, e no arranque da sessão desta sexta-feira, os indicadores financeiros que revelam as expectativas dos investidores relativamente à evolução futura das taxas de juro chave da autoridade monetária europeia apontaram todos no mesmo sentido: a de uma descida das taxas de juro feita ainda antes do Verão.

As taxas de juro da dívida pública dos países da zona euro registaram, na generalidade dos prazos, uma descida. No caso de Portugal, a taxa de juro da dívida a 10 anos voltou a cair abaixo dos 3%, ao passo que a taxa de juro a 2 anos, que é a mais sensível a mudanças de expectativa em relação aos juros do BCE, baixou, entre o fecho de quarta-feira e o valor registado na manhã desta sexta-feira, mais cerca de 0,12 pontos percentuais.

De acordo com a agência Reuters, a probabilidade assumida pelos mercados financeiros para um cenário de descida das taxas de juro do BCE na reunião de Abril passou, nas últimas 24 horas, de 60% para 80%.

Este reforço da expectativa acontece apesar de, na conferência de imprensa que realizou a seguir à reunião desta quinta-feira do conselho de governadores do BCE, Christine Lagarde ter afirmado que não retirava as declarações feitas em Davos, em que atirou a possibilidade de um corte nas taxas de juro apenas para o Verão e ter garantido que houve um “consenso” dentro do conselho de governadores de que “ainda é prematuro discutir uma descida das taxas de juro”.

Com estas afirmações, a presidente do BCE tenta convencer os mercados de que estão errados ao assumir que um corte de taxas de juro pode chegar já na Primavera, seja na próxima reunião em Março, seja na seguinte em Abril.

Os mercados, contudo, não se estão a deixar convencer e a razão está naquilo que Lagarde disse a seguir. Durante a conferência de imprensa, quando descreveu a situação em que se encontra a economia da zona euro, a presidente do BCE mostrou que, dentro da autoridade monetária, existe um cada vez maior reconhecimento de que a inflação está a caminho do objectivo, num cenário em que a economia e o mercado de trabalho não dão sinais de virem a reaquecer muito rapidamente.

Por exemplo, Christine Lagarde assumiu que o valor da inflação em Dezembro surpreendeu o BCE pela positiva e disse que o processo de desinflação era evidente na maioria nos preços de grande parte dos bens.

Isto alimenta a convicção entre os investidores de que, se a taxa de inflação continuar a revelar uma evolução favorável em Janeiro e Fevereiro, o ponto de inflexão no discurso do BCE poderá ocorrer logo na reunião de Março, abrindo a porta a uma primeira descida das taxas de juro de depósito - que se encontram neste momento no máximo de 4% - na reunião a seguir, em Abril.

Para as famílias e empresas portuguesas endividadas, que na sua maioria contraíram empréstimos indexados a taxas Euribor, a expectativa de um corte de taxas de juro mais rápido por parte do BCE pode começar desde já a permitir que se sinta algum alívio nas prestações bancárias que têm de suportar. Ainda assim, um regresso, mesmo a prazo, das taxas de juro aos níveis em que se encontravam até ao início de 2022 é um cenário que não se coloca.

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